Dúvidas e interrogações durante a gravidez têm que ser partilhadas

Ter um filho é uma grande mudança na vida de uma mulher e são muito comuns preocupações com o seu futuro. Podem surgir muitas questões: “Será que vou ser uma boa mãe? Está tudo bem com o meu bebé? A raiva ou a tristeza que tenho sentido podem afetar o bebé? Como vai ser o parto? A minha vida com o meu companheiro vai ser prejudicada com um filho? Vou conseguir voltar a trabalhar como antes?”

Todas estas interrogações e pensamentos, já de si, causam ansiedade, mas se são escondidos e negados por medo do julgamento, geram sentimentos de culpa e levam a mais ansiedade. A sociedade atual tende a idealizar a maternidade e a fazer-nos sentir que durante a gravidez temos de estar sempre felizes, mas há uma regra fundamental para a nossa saúde mental: evitar sofrer em solidão. Por isso, tem que partilhar as suas preocupações, mesmo que pense que a sociedade as pode condenar. Lembre-se que esses sentimentos são seus e não medem a intensidade do amor que tem pelo seu filho. Tem que saber lidar melhor com as emoções na gravidez.

Prevenção de problemas mais sérios

Por vezes, mulheres que ousam compartilhar preocupações, sentem-se questionadas no seu desejo de ser mãe (“não era o que querias?”), ou na sua capacidade em ser uma boa mãe (“se agora já estás assim nervosa, quando fores mãe é que vai ser!”). Outras vezes, conselhos dados com boas intenções, como: “tens de estar bem para não passares a ansiedade ao bebé, não podes ter esses medos, tens de ser positiva!” podem aumentar a pressão, o desconforto e os sentimentos de culpa. Apesar destas situações puderem acontecer, não reprima os sentimentos. Qualquer sentimento, por mais assustador e desagradável que seja, fará pior a si e ao seu bebé se for negado, reprimido, se fingir que não existe.

É fundamental distinguir a ambivalência emocional que surge naturalmente em processos de adaptação à mudança, como a gravidez, de emoções negativas persistentes e muito perturbadoras, que podem ser indicadores de problemas mais sérios. Muitas situações de sofrimento, como depressões durante a gravidez, ou no pós-parto, podem ser prevenidas se a mulher grávida recorrer a apoio psicológico.

Esteja atenta e não receie pedir ajuda de um psicólogo

Se sente que não está a conseguir lidar com as emoções, pode precisar de ajuda profissional de um psicólogo. Procure alguém que a escuta sem julgamentos, alguém que a ajudará a não julgar-se e aceitar-se.

É muito importante procurar ajuda profissional se apresenta algum destes sinais:

  • Se a maior parte do tempo sente muita tristeza acompanhada de apatia (que é diferente de cansaço);
  • A ansiedade faz com que se sinta doente fisicamente, com a frequência cardíaca e a respiração aceleradas, com muita transpiração, diarreia, etc.;
  • Tem muitos problemas em conseguir dormir ou ter um sono reparador;
  • Tem ataques de pânico;
  • Tem comportamentos obsessivos para se acalmar (por ex. lava repetidamente as mãos, conta repetidamente coisas, etc.);
  • Tem pensamentos de morte ou suicídio.

Mesmo que agora se sinta bem, se anteriormente teve problemas psicológicos, é ainda mais importante receber ajuda psicológica durante a gravidez. Porque a probabilidade de voltar a ter sintomas é maior. Assim, como forma de prevenção, recorra à ajuda profissional de um psicólogo.

Silvia Felizardo / Psicóloga Clínica

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