Já todas sabemos que a gravidez não é a melhor altura para nos preocuparmos com o lado estético do nosso corpo, até já aceitamos e convivemos bem com a ideia de que podemos ficar com estrias, com celulite e com manchas, porque valores mais altos se levantam. Ainda assim, é fundamental sentirmo-nos bem com a nossa imagem. Por isso, se podemos prevenir ou atenuar algumas destas consequências, porque não fazer algo que está ao nosso alcance?

Só precisa de saber o que pode ou não aplicar ou fazer durante a gravidez e isso é fácil! Nesta fase, a pele da mulher sofre inúmeras mudanças devido às alterações hormonais. Uma das alterações que mais as preocupa é, sem dúvida, a hiperpigmentação, vulgarmente chamado de pano, que surge entre o primeiro e o segundo trimestre da gravidez, maioritariamente na zona da testa, das maçãs do rosto, na parte superior do lábio e também no queixo.

COVID-19 e gravidez. Os maiores riscos e os principais cuidados a ter em tempo de desconfinamento
COVID-19 e gravidez. Os maiores riscos e os principais cuidados a ter em tempo de desconfinamento
Ver artigo

A maioria das manchas são superfíciais e desaparecem nos meses seguintes ao parto. No entanto, algumas podem atingir uma camada mais profunda da pele e tornarem-se permanentes. Durante a gravidez, pode e deve usar cosméticos para prevenir e/ou atenuar estas imperfeições. Os cuidados não são diferentes dos habituais para tratar as manchas da pele. A primeira regra a seguir é aplicar sempre o protetor solar e usar um bom cosmético anti-manchas. Provavelmente, já leu ou ouviu dizer que é desaconselhada a esfoliação facial nesta fase de estado de graça feminino porque potencia o aparecimento de manchas cutâneas.

Nada de mais errado! Joana Nobre, farmacêutica e especialista em dermocosmética, refere que fazer esfoliação só ajuda a pele a eliminar as células mortas superficiais e a estimular a hidratação natural da pele. "Como todos os produtos abrasivos e as técnicas mais agressivas, os esfoliantes devem ser usados com proteção solar subsequente", ressalva, contudo. "O retinol e o ácido salicílico não estão contraindicados durante a gravidez", acrescenta ainda.

"O que acontece é que são substâncias mais adstringentes e podem suscitar maior reatividade da pele e se tiver algum desconforto severo, poderá ter de recorrer a medicação, o que já é mais complicado", sublinha Joana Nobre. O aparecimento ou agravamento da celulite gestacional é outra das alterações muito comuns. Noutras alturas, qualquer mulher não hesitaria em aplicar um creme para a celulite para evitar o efeito pele casca de laranja.

O medo de fazer mal ao bebé

Quando se está grávida, é muito comum o receio de causar algum mal ao bebé. Esta questão tem sido largamente discutida, não só no universo das grávidas mas também junto das comunidades científicas, e, embora não haja muitos estudos que comprovem em que medida estas substâncias podem ser absorvidas na pele, a verdade é que alguns especialistas desaconselham a aplicação de anticelulíticos por conterem na sua maioria retinol e cafeína.

Mitos associados ao sexo na gravidez que, na realidade, não têm razão de ser
Mitos associados ao sexo na gravidez que, na realidade, não têm razão de ser
Ver artigo

Joana Nobre garante que, "salvo alguma exceção devidamente assinalada, os cosméticos podem ser usados na gravidez, a partir do terceiro mês de gestação ou até mesmo antes". "Um produto cosmético não é um medicamento e portanto não penetra na circulação sanguínea, como tal, não vão afetar o bebé", assegura a especialista. "A gravidez não é uma boa altura para fazer grandes experiências cosméticas, de forma a evitar reações indesejadas e, consequentemente, a hipotética toma de medicação, essa sim, muitas vezes contraindicada na gravidez", adverte a farmacêutica.

"O ideal será a grávida continuar com os seus produtos, aos quais sabe não ser alérgica, além de escolher produtos específicos e dedicados a esta etapa tão especial e onde a pele sofre algumas alterações importantes", aconselha. Se, ainda assim, não se sentir segura em aplicar um anticelulítico, há outros cuidados que pode e deve ter para atenuar o aspeto da celulite, como ter uma alimentação saudável, rica em vitaminas, além de aumentar o consumo de água.

Evitar as gorduras, sal e açúcar e praticar atividades físicas como a hidroginástica e o ioga, também integram o lote de recomendações. De acordo com Margarida Machado, terapeuta clínica, são muitos os tratamentos para a celulite que pode fazer depois do parto. Durante a gravidez, após o quarto mês, aconselha a massagem drenante e/ou a pressoterapia adequadas a grávidas. Nas massagens, são realizados movimentos com óleos essenciais neutros.

A gravidez mês a mês. Os cuidados essenciais que deve ter à medida que as semanas vão passando
A gravidez mês a mês. Os cuidados essenciais que deve ter à medida que as semanas vão passando
Ver artigo

Produtos com formulações que ajudam a eliminar a retenção de liquídos e, no caso da pressoterapia, com equipamento que atua só nas zonas das pernas e não no abdómen. Estes tratamentos não só vão ajudar a diminuir o desconforto provocado pela retenção de líquidos, tão comum na gravidez, como ajudar a melhorar o aspeto da sua pele. E no caso das estrias? As estrias são cicatrizes cutâneas que resultam da ruptura das fibras de colagénio e elastina na derme causada pela sua distensão excessiva. Não são exclusivas da gravidez mas nesta fase é muito comum o seu aparecimento, peito, no abdómen, nas ancas e na parte interna das coxas, geralmente.

Uma vez instaladas, são irreversíveis. Há tratamentos e cosméticos que ajudam a suavizar a sua aparência mas, para eliminá-las por completo, só através de cirurgia. Estas começam por ter um tom avermelhado e roxeado e, com o tempo, vão-se tornando mais esbranquiçadas. Para evitar o seu surgimento, é crucial controlar o peso, para que a pele não precise ceder além do necessário, para além de fazer exercício e, claro, tratar da saúde da sua epiderme.

Cuide da sua pele mantendo-a hidratada, faça uma esfoliação regular uma vez por semana e privilegie cosméticos que, na sua formulação, contenham ureia, vitamina E, lanolina e óleos. Aplique-os duas vezes ao dia. Há inúmeras opções antiestrias no mercado adequadas a esta fase de mulher, assegura Joana Nobre. "O importante é usar rotineiramente e escolher um produto agradável, sem perfume, para não enjoar", aconselha mesmo a farmacêutica.

"Escolha um verdadeiro antiestrias e não um óleo, que apenas terá ação emoliente, mas não tem capacidade de penetração na pele, ficando apenas à superfície. Contrariamente ao que se pensa, um hidratante não é um produto capaz de prevenir estrias", adverte a especialista. Para a prevenção das estrias, Margarida Machado, terapeuta numa clínica de estética, sugere também sessões de refirmação cutânea, beber muita água e manter um peso saudável.

Depois da gravidez, pode recorrer a várias técnicas, nomeadamente laser, peeling e/ou carboxiterapia, que permitem melhorar o aspeto estético das estrias, além de suavizar a coloração, de reduzir a largura destas marcas e de melhorar a textura. Por fim, se pinta o cabelo de dois em dois meses não se preocupe, porque não vai ter de esperar nove meses para esconder esses cabelos brancos que teimam em aparecer. Joana Nobre, farmacêutica, explica porquê.

A possibilidade do amoníaco penetrar na corrente sanguínea não passa de um mito. "Não se aventure em grandes procedimentos, principalmente no primeiro trimestre", aconselha. "Faça o teste de alergia 48 horas antes da aplicação da coloração para avaliar o potencial alergizante, embora esta recomendação não se limite à gravidez". Se se sentir mais traquilizada, existem várias opções de coloração à base de óleos vegetais e sem amoníaco no mercado.