Há encontros que mudam futuros. O de dois cariocas e um moçambicano de nascimento, mas de vida feita no Brasil, é exemplo disso mesmo. No dia em que Cláudia Mello, Jorge Macedo e Ricardo Vieira, se lançaram à conversa, aquilo que seria uma nova vida portuguesa, com um café em Lisboa, tornou-se numa nova vida portuguesa, mas com um restaurante de 350 metros quadrados e perto de 80 lugares na capital portuguesa. Cláudia e Jorge mudavam o ponteiro à sua vida profissional, depois de carreiras firmadas na área da moda. Ricardo, chefe de cozinha, hoje com 34 anos, trazia no currículo perto de uma década de trabalho em restaurantes no Brasil e em Portugal. Bastou a “Doca”, como gosta de ser chamado (já iremos perceber porquê), transmitir a sua paixão pela cozinha a Jorge e Cláudia para os demover do projeto de um café. Como se usa dizer, “uma coisa leva à outra” e, como nos transmite Jorge Macedo, “se era para fazer um restaurante, então que se fizesse em grande”.

Em Lisboa, o restaurante Capim Limão não é só fresco, tem sabor a cozinha com alma
Ceviche de peixe branco, batata-doce e quinoa crocante.

Assim é. Quando franqueamos a porta do Capim Limão (a nossa Erva-Príncipe), com o número 15B, da Rua Sousa Martins, em Picoas, a primeira impressão que nos assalta é, espaço. A casa, inaugurada em abril deste ano, espraia-se por dois pisos, embora só o superior ocupado com a sala do restaurante, espaço luminoso e de decoração fresca.

Na sala, em afã, estão Cláudia e Jorge.  Há que acorrer, a par com os funcionários, a todos os cantos da casa e aos muitos pedidos que sopram das mesas, ao almoço e, agora, também ao jantar. Pedidos que chegam de uma carta contida, sem desmesuras no que respeita à amplitude de sabores e onde encontramos, nas entradas, desde uma Polenta, com ovo escalfado e cogumelos (8,00 euros), à Brandade de bacalhau, ao Risoto de mozzarella de búfala, tomate cereja e manjericão (8,00) e ao Ceviche de peixe branco, batata-doce e quinoa crocante (12,80 euros); e nos principais, o Cachaço assado, lentilhas, legumes e farofa de panko (11,80 euros), ou uma ´Moquequinha` de peixe, arroz branco e farofa de dendê (16,90 euros). Tudo cozinhado com competência, sem complicar e com um predicado imprescindível ao que se come, sabor e texturas.

Em Lisboa, o restaurante Capim Limão não é só fresco, tem sabor a cozinha com alma
Risoto de mozzarella de búfala

“Não quisemos complicar, nem tão pouco associar a cozinha a este ou aquele conceito. Se me perguntar se o Capim Limão é um restaurante de cozinha saudável, ou vegan, ou vegetariana, vou-lhe dizer que não”, afirma Jorge. Cláudia consubstancia: “O que quisemos com esta cozinha é oferecer alma e sabor. Apesar do chefe de cozinha ser do Brasil, este não é um restaurante de comeres exclusivamente brasileiros. Tanto pode encontrar as técnicas da gastronomia francesa, como das cozinhas tradicionais brasileira ou portuguesa”.

Objetivos que se corporizam numa pessoa, “Doca”, que a par do casal dono do Capim Limão, elaborou ao longo de semanas a carta eclética que agora nos chega às mãos. “Tentei juntar o que trazia do meu percurso por restaurantes cariocas, assim como o que concretizei em restaurantes já em Portugal”, conta-nos Ricardo, um autodidata que começou a cozinhar “tarde, aos 25 anos, embora sempre tivesse o gosto pela cozinha. A minha avó marcou-me muito, assim como uma tia, que chegou a ter um restaurante no Leblon [bairro do Rio de Janeiro]”, refere “Doca”, que cunhou a alcunha a partir de uma “mania que temos no Rio. Ou seja, trocamos a ordem das sílabas. Logo Ricardo, deu `Docarri`, e, daí ´Doca`”, conta-nos, entre gargalhadas.

Capim Limão

No Capim Limão, “Doca” sente-se como peixe na água. “Nunca gostei da pressão de uma cozinha como aquelas por onde passei, como no Olympe, restaurante com uma estrela Michelin no Rio, ou mesmo no Mini Bar, do José Avillez, em Lisboa. Não quero criar sob pressão. Quero deixar-me levar pela combinação dos ingredientes e se é para apurar um molho, tem de ser mesmo para lhe dar sabor”, conta-nos o chefe de cozinha que tem uma predileção, “fazer pão, adoro fermentações”. Isso mesmo provamos à mesa, com um pão de alfarroba saboroso, fofo, a pedir mergulho no azeite. Uma primeira experiência de “Doca” aqui no Capim Limão, onde, por agora, o pão chega fornecido pela padaria Gleba.

“Para chegar a esta ementa fui improvisando em casa durante semanas”, conta-nos “Doca”. Um improviso que resulta, por exemplo, um Frango, quinoa, legumes grelhados, chutney de tomate e pimenta-caiena (11,90 euros), ou no Filet Mignon, com batata gratin e molho de vinho tinto (19,50 euros).

capim limão
Bolo mole de chocolate, morangos e chantilly. créditos: Paulo Barata

Uma aposta no ecletismo da carta que nos chega com outra perdileção dos proprietários do Capim Limão, os cocktails, com uma carta de autor de Jhonatan Camargo, assim como cocktails clássicos.

Ainda no que toca aos amores e saudades de “Doca” na cozinha, “a minha avó foi muito importante para me espicaçar o gosto por cozinhar. Recordo-me do cheiro a goiabada na sua casa. Na carta, inclui um Doce de banana, amendoim crocante, creme de canela e merengue (5,80 euros). É uma homenagem à minha avó”.

Capim Limão

Rua Sousa Martins, 15 B Lisboa

Horário: Segunda a quarta-feira, das

12h00 às 16h00.Quinta-feira a Sábado, das12h00 às 16h00 e das 19h00 às 23h00. Encerra aos domingos

Contactos: Tel. 213 571 233, 963 246 567

Do Rio, Ricardo sente a falta de uma “feijoada e de um ´picadinho`, aquilo que vocês por cá chamam de pica-pau. Lá, leva couve, arroz, farinha, feijão, por aí fora. Também adoro um bom frango com quiabo”. E por estas bandas, o que deixa o “Doca” desejoso de se sentar à mesa? “Olha, gosto muito das Amêijoas à Bulhão Pato e de um Bacalhau à Brás”. Não os vemos, por agora, na carta do Capim Limão. Quem sabe se num futuro próximo. Um futuro onde Jorge Macedo guarda um segredo. “Para o ano vamos ter novidades para o piso de baixo. Um conceito novo em Lisboa. Mas, por agora o segredo é a alma do negócio”.

Sem ser segredo e para rematar com doçura esta visita ao Capim Limão, duas sugestões da carta, um Bolo mole de chocolate, morangos e chantilly (5,80 euros) e um Crumble de pera, creme inglês e avelãs caramelizadas (5,80 euros).