“Ninguém está limitado ao cérebro que tem. O cérebro pode ser melhorado, mesmo que tenhamos sido mauzinhos para ele, e eu posso prová-lo. Podemos literalmente mudar o nosso cérebro; quando o fazemos mudamos a nossa vida”. Daniel G. Amen, neurocientista clínico, especialista em Alzheimer e imagiologia cerebral, traz uma mensagem de otimismo à introdução do seu livro Mude o Seu Cérebro Todos os Dias (edição Pergaminho). A obra, agora editada em Portugal, apresenta ao leitor 366 conselhos – um por dia – “que lhe permitirão desenvolver estratégias duradouras para lidar com todas as formas de stresse, encontrar e incorporar um sentido de propósito na sua vida”, assim lemos na apresentação que é feita ao livro.

Nas mais de 400 páginas deste título, o autor elabora sobre os hábitos quotidianos mais eficazes para otimizar o cérebro, controlar a mente e fortalecer a memória. “O eu cérebro controla tudo o que você faz. Ele muda todos os dias. Das duas uma, ou está a melhorar e a ficar mais jovem, ou está a piorar e a envelhecer devido à sua alimentação, suplementos, pensamentos, decisões e hábitos diários”, sublinha o médico com mais de 40 anos de prática clínica. Daniel G. Amen não se fica pelos alertas, dá-nos soluções: “Se quer sentir-se mais feliz e relaxado; se quer ser cognitivamente mais inteligente (...) será necessário desenvolver práticas consistentes de saúde cerebral e mental ao longo do tempo”.

Sobre o seu livro, o neurocientista aconselha o leitor a que leia uma página por dia. “Demorará apenas alguns minutos, mas ao longo do tempo mudará a sua vida à medida que aprende a pensar e a praticar a saúde cerebral e mental todos os dias durante um ano”.

De Mude o Seu Cérebro Todos os Dias publicamos o excerto abaixo:

Evite tudo o que prejudica o seu cérebro

Se quiser manter o seu cérebro saudável ou salvá-lo se ele estiver a caminho de um problema, deve prevenir ou tratar os 11 principais fatores de risco que furtam a sua mente. O que é que prejudica o cérebro? Provavelmente conhece alguns dos mais óbvios: drogas, excesso de álcool, infeções, químicos tóxicos e ferimentos na cabeça. Os fatores menos conhecidos incluem excesso de peso; apneia do sono; tensão arterial elevada; diabetes, pré-diabetes e níveis elevados de açúcar no sangue; medicamentos para a ansiedade; alimentos altamente processados que foram pulverizados com pesticidas e incluem adição de açúcar e de ingredientes artificiais; ter hormonas desreguladas; demasiado stresse, negativismo e conviver com pessoas que têm maus hábitos.

11 fatores de risco que estão a “matar” o nosso cérebro. Mas há como evitá-los
Daniel G. Amen. créditos: Wikimedia Commons

Reflita sobre quais destes problemas estão a afetar o seu cérebro. Warren Buffett tem duas regras de investimento: regra n.º 1) Nunca perder dinheiro; regra n.º 2) Nunca esquecer a regra n.º 1. Da mesma forma, as regras mais importantes para a saúde do cérebro são as seguintes: regra n.º 1) Nunca perder células cerebrais; regra n.º 2) Nunca esquecer a regra n.º 1. É muito mais difícil recuperar da perda de células cerebrais do que de qualquer perda financeira.

Nas Amen Clinics desenvolvemos a mnemónica BRIGHT MINDS (MENTES LÚCIDAS) para o ajudar a lembrar -se dos 11 principais fatores de risco que furtam as células cerebrais e conduzem à deterioração cognitiva. Pode prevenir ou tratar quase todos estes fatores de risco, e mesmo fatores como ter uma história familiar de demência podem ser minimizados com as estratégias certas. Seguem-se os 11 fatores de risco

Blood flow (Fluxo sanguíneo)

Reforma/Envelhecimento

Inflamação

Genética

Head trauma (Traumatismo craniano)

Mental health (Saúde mental)

Imunidade/Infeções

Neuro -hormonais (problemas)

Diabesidade

Sono (problemas)

Toxinas

Mas como é que me posso divertir?

Quem é que se diverte mais? O miúdo que tem o cérebro saudável ou o que tem o cérebro danificado? Durante os últimos 17 anos, o Dr. Jesse Payne e eu ministrámos o curso «Brain Thrive by 25», que ensina adolescentes e jovens adultos a amar e a cuidar dos seus cérebros. Uma investigação independente da Multi -Dimensional Education, Inc., em 16 escolas, concluiu que o curso diminuiu o consumo de drogas, álcool e tabaco, diminuiu a depressão e melhorou a autoestima. Sempre que ensinamos a secção sobre coisas a evitar, invariavelmente um adolescente – raramente uma rapariga – levanta a mão e pergunta: «Mas como é que me posso divertir?» Sempre que nos fazem esta pergunta, fazemos um jogo com os alunos chamado «Quem é que se diverte mais? O miúdo com um cérebro saudável ou o miúdo que tem um cérebro que não funciona bem?» Quem é que entra na universidade que escolheu… o miúdo com o cérebro bom ou o que tem o cérebro danificado? Quem é que fica com a miúda e consegue mantê-la porque não se comporta como um idiota… o rapaz com o cérebro bom ou o que tem o cérebro danificado? Quem é que consegue os melhores empregos e os conserva…a mulher com o cérebro bom ou a que tem o cérebro danificado?

Falo-lhes então da superestrela Miley Cyrus, que deixou de consumir drogas e começou a levar a sério a preocupação de cuidar do seu cérebro. Quando lhe enviei uma mensagem de texto um ano depois de estar sóbria, perguntei: «Estás a divertir-te mais com os teus bons hábitos ou era melhor com os maus?» Ela respondeu-me de imediato: «Hum, com os bons! Sem qualquer dúvida!»

O que quer que queira na vida, é mais fácil de alcançar quando o seu cérebro funciona bem. Certifique -se de que tem a atitude correta. Não está a evitar coisas tóxicas para sofrer de privações; está a evitá-las porque esse é o derradeiro ato de amor-próprio. Se tiver esta mentalidade correta, o resto será fácil.

PRÁTICA DE HOJE: Medite sobre esta questão: De que forma é que a sua vida é mais difícil quando se envolve em comportamento que prejudicam o seu cérebro?

Adote hábitos saudáveis para o cérebro

Encontre uma, e apenas uma, estratégia simples para otimizar cada um dos fatores de risco BRIGHT MINDS. Deixe-me dar-lhe um simples hábito saudável para o cérebro para cada um dos 11 fatores de risco BRIGHT MINDS:

Fluxo sanguíneo: caminhe como se estivesse atrasado durante 45 minutos, pelo menos quatro vezes por semana;

Reforma/Envelhecimento: participe em 15 minutos de novas aprendizagens todos os dias;

Inflamação: use fio dental nos dentes regularmente para evitar a doença periodontal;

Genética: conheça os seus fatores de risco de história familiar e comece a preveni-los o mais rapidamente possível;

Traumatismo craniano: proteja a sua cabeça (pare de enviar mensagens de texto enquanto conduz);

Toxinas: desintoxique o seu corpo através de saunas regulares;

Saúde mental: sempre que estiver triste, zangado, nervoso ou descontrolado, escreva os seus pensamentos negativos e pergunte: «Será mesmo verdade?»;

Imunidade/Infeções: conheça e otimize o seu nível de vitamina D;

Problemas neuro-hormonais: teste as suas hormonas anualmente e trabalhe com o seu médico para as otimizar;

Diabesidade: faça uma dieta saudável para o cérebro;

Problemas de sono: procure dormir sete horas por noite.

PRÁTICA DE HOJE: Escolha uma das estratégias acima indicadas para adicionar à sua rotina diária.

Quando a voz na nossa cabeça é um problema. O neurocientista Ethan Kross estudou a questão e dá-nos as ferramentas para a resolvermos
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Aumente a sua reserva cerebral

A reserva cerebral é o tecido ou função cerebral extra que temos à disposição para lidar com qualquer stresse que surja no nosso caminho. Já alguma vez se perguntou porque é que uma pessoa pode sair ilesa de um acidente de viação e parecer não sofrer qualquer efeito negativo, enquanto a vida de outra pessoa fica devastada? Isto tem que ver com a saúde do cérebro de cada pessoa na altura do acidente. Criei o termo reserva cerebral para descrever o tecido cerebral extra e a função que temos para lidar com qualquer obstáculo que surja no nosso caminho. Mesmo antes de termos sido concebidos, os hábitos dos nossos pais estavam a lançar as bases para a nossa saúde física, mental e cerebral em geral. No momento da formação do cérebro, este tinha um potencial incrível de reserva cerebral. Todavia, se a nossa mãe fumou, bebeu demasiado, comeu comida de plástico ou teve infeções durante a gravidez, esgotou a nossa reserva mesmo antes de nascermos. Se, por outro lado, a nossa mãe comeu alimentos nutritivos, tomou vitaminas pré-natais e não esteve demasiado stressada, ela contribuiu para aumentar a nossa reserva.

Após o nascimento e todos os dias desde então, continuamos a aumentar ou a diminuir a reserva cerebral através dos nossos hábitos, oportunidades, fatores de risco BRIGHT MINDS, dieta e stresse. Imagine dois soldados no mesmo Humvee que passa por cima de um explosivo. Ambos são ejetados do veículo ao mesmo tempo, com as mesmas forças e ângulos. Um sai ileso; o outro acaba com problemas cognitivos, PSPT e ansiedade. Como é que isso é possível? Tudo depende da quantidade de reserva cerebral que cada soldado tinha antes da explosão. Sim, a explosão afetou as reservas de ambos, mas um soldado tinha mais reservas para ultrapassar um acontecimento traumático do que o outro, que corria um risco muito maior de ter problemas graves de saúde cerebral.

Para aumentar a sua reserva cerebral, tem de seguir três estratégias simples: (1) Ame o seu cérebro (tem de se preocupar realmente com o seu cérebro). (2) Evite as coisas que prejudicam o seu cérebro. (3) Faça as coisas que ajudam o seu cérebro.

PRÁTICA DE HOJE: Enumere três coisas que faz que diminuem a reserva do seu cérebro e três coisas que faz para aumentar a sua reserva.