Num discurso pessoal, por vezes humorístico, a pediatra Joana Martins conta-nos como é o dia a dia de uma profissional de saúde em plena pandemia do vírus SARS-CoV-2. Este é o décimo segundo episódio:

Certo, já percebemos que a moda das máscaras veio obviamente para ficar. E sim, há uma forma ideal de as usar. O problema é que a maneira correta é muito homogénea e não dá espaço para a criatividade e expressão individual. E isso preocupa-me! É certo que usar as máscaras de forma alternativa não protege contra absolutamente nada, mas o que é isso quando falamos de estilo?

Assim, vou estrear-me no mundo do styling e recomendar formas alternativas (e absolutamente inúteis) de usar a máscara facial. Desculpem os imensos estrangeirismos de inspiração francesa, mas se é para fazer isto, é em grande. Escusam de agradecer, os amigos são para as ocasiões.

À la emoji

Esta forma de utilização da máscara prima pelo minimalismo de volumes. Basicamente, colocamos a máscara sobre o nariz e a boca e não ajustamos mais. Não se ajusta o arame para fazer o formato da pirâmide nasal e muito menos se alargam as pregas da máscara para cobrir o queixo. Nada! É especialmente útil para quem queira realçar a papada do pescoço, porque fica obviamente exposta!

À la odalisca

Eu bem sei que é um clássico, mas um clássico nunca morre. Tenho visto um clássico tornar-se mainstream, mas não me incomoda realmente nada. Gosto de ver! É bastante simples! A máscara é colocada apenas a tapar a boca! É ótimo para os dias de (des)confinamento, porque a máscara tapa especialmente o buço nas senhoras que ainda não tiveram tempo para esses luxos da depilação. Como hoje em dia a moda das máscaras é sobretudo unissexo (vai-se lá perceber isto!!!), aos homens que optarem pela máscara a la odalasco, recomendo um especial cuidado com a depilação nasal. Ao contrário da sua congénere feminina, nestas circunstâncias, não oculta absolutamente nada.

Independentemente do vosso estilo, creio que ficarão a ganhar com um uso padronizado de máscara. Eu sei, é aborrecido e banal. Compreendo. Mas as chinelas de praia também não são do mais elegante e criativo e toda a gente usa

À la echarpe

Gosto dos puristas que tentam recriar os véus no pescoço tão em voga na idade média. Uma bela máscara enrugada por baixo do queixo projeta a moldura óssea da mandíbula, emoldura o rosto, e sim, alonga imenso o pescoço. Recomendada especialmente para formatos de face mais compridos, já que acrescenta uma ligeira ilusão de óptica de alargamento na base do rosto. Complementada com uma boa camada de base, para estabelecer um degradé entre a pele da cara e do pescoço, é um truque de beleza inestimável.

À la negligé

Gosto especialmente desta forma de usar a máscara porque é de fácil reconversão: ou seja, uma pessoa pode ter a máscara à lá odalisca, mas toca o telemóvel e como toda a gente sabe, para atender o telemóvel, tiramos a máscara para nos perceberem melhor e, vai daí, soltamos uma das alças da máscara, libertamos nariz e boca e falamos ao telemóvel com a máscara pendurada numa das orelhas, com um ar absolutamente cosmopolita, clássico e sem esforço, como os cabelos apanhados à la francesa. Aliás, esta máscara é de forte inspiração parisienne.

À la Mata-Hari

Esta forma de utilização é bastante frequente entre os amantes de transparências e looks mais futuristas. Estou a falar do uso de viseira de acrílico isolada. Naturalismo numa redoma. Percebo a ideia: nariz e boca absolutamente expostos, mas ainda assim inacessíveis, com uma barreira transparente. Gosto. Não deixa muito à imaginação, mas mantém uma certa aura de inacessibilidade. Muito sedutor.

À la naturalista

Estou a falar do pessoal que não tem pejo nenhum em revelar ao mundo as suas impudências. Estou a falar do nariz e da boca! (In)Felizmente, nos dias que correm, tenho visto muitos. Gostam de coalescer em filas dos supermercados, nos correios e em outras pequenas reuniões. Eu percebo que nos dias que correm são um movimento contra-cultura. E aprecio a rebeldia, juro! Mas ainda assim, vamos controlar o exibicionismo, pode ser?

ATENÇÃO, informação a reter:

Independentemente do vosso estilo, creio que ficarão a ganhar com um uso padronizado de máscara. Eu sei, é aborrecido e banal. Compreendo. Mas as chinelas de praia também não são do mais elegante e criativo e toda a gente usa. Mudem os padrões das máscaras, se quiserem…

Mas não se esqueçam: lavar muito bem as mãos antes de colocar a máscara, ajustar o arame de fixação ao nariz, abrir as pregas para envolver o queixo e atar os dois atilhos da máscara ou ajustar bem o comprimento dos elásticos que se prendem atrás das orelhas. Quando quiserem retirar a máscara, façam-no pelos atilhos, não pela zona central, combinado?

Um artigo da médica Joana Martins, pediatra na Unidade de Cuidados Intensivos de Pediatria no Hospital D. Estefânia, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central.

Série

- Episódio 1: Os preparativos

- Episódio 2: Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão

- Episódio 3: Calor, nevoeiro, chichi, comichão... Enfim, parece tortura chinesa

- Episódio 4: A pandemia pôs o dedo na ferida (sem luvas)

- Episódio 5: Somos todos heróis, mas há uns mais do que outros

- Episódio 6: Sem ovos não há como segurar a omelete

- Episódio 7: Nós, os profissionais de saúde, também temos medo

- Episódio 8: O problema dos bebés que nascem de mães suspeitas ou confirmadas para a COVID-19

- Episódio 9: Os meus vizinhos são uns loucos irresponsáveis. Denuncio-os?

- Episódio 10: E ao fim de 63 dias, as creches reabrem

- Episódio 11: Estaremos preparados para a maratona COVID-19 que aí vem?

- Episódio 12: Máscaras "à la mode" para todos os gostos. Qual é a sua?

- Episódio 13: Sem vacina à vista, infetarmo-nos faseadamente será a solução?

- Episódio 14: Que sociedade é esta que só para por causa de uma pandemia?

- Episódio 15: Trabalhamos ataviados como apicultores. Qual o impacto do vírus na prática médica?

- Episódio 16: O que sabemos sobre a vacina da BCG na COVID-19?

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