As crianças que não querem comer são um desafio extremo para os pais. Problema? Estima-se que aproximadamente 25% das crianças expressem alguma forma de selectividade alimentar.

Se o seu filho rejeita um sem número de comidas e parece querer sempre comer carne à bolonhesa, provavelmente inclui-se neste grupo e sabe bem como as horas de refeição podem ser infernais. Mas será que sabe estes 5 factos sobre seletividade alimentar?

  1. Seletividade alimentar não é a mesma coisa que mau comportamento

É mesmo muito fácil classificar a seletividade alimentar como uma espécie de mau comportamento. Quanto mais não seja porque há uma óbvia recusa à obediência quando lhes mandamos comer couves de Bruxelas e eles não fazem caso.

No entanto, por detrás da seletividade alimentar está frequentemente uma aversão ao cheiro ou à textura do alimento. Ou mesmo um certo medo do desconhecido. Ou uma associação a alimentos experimentados no passado que foram uma experiência negativa.

Algumas crianças têm dificuldade em processar a experiência sensorial proveniente da comida. Outras são eminentemente ansiosas em relação a alimentos novos. Outras crianças aproveitam a hora da refeição para desenvolver jogos de poder.

Cada situação deve ser avaliada e, em casos extremos, pode ser proposta uma intervenção multidisciplinar.

  1. Quanto mais se insiste, pior é

Este é claramente um paradoxo! Quando mais se insiste para a criança comer, mais marcada se torna a seletividade alimentar e a luta de poder à hora das refeições.

Isto parece relacionar-se com o simples facto de, ao insistirmos para a criança comer um determinado alimento, estarmos a passar subliminarmente a mensagem que, comer aquele alimento, é um esforço. Neste contexto é obvio que não irá comer.

Esta situação consegue ser agravada se a ingestão de um alimento for condicionado pela ingestão de outro. Oferecer a recompensa da sobremesa pela criança ter comido os brócolos é a forma mais simples e direta de tornar os brócolos cada vez menos apetecíveis e o gelado cada vez mais delicioso.

Por fim, quanto mais insistimos para uma criança comer, maior serão os níveis de stress que ela experiencia e menor o seu apetite. Negociar mais uma colherada, insistir para provar uma nova comida porque é deliciosa e nutritiva, misturar alimentos novos como alimentos considerados seguros são tudo estratégias de pressão.

  1. Não oferecer alternativas

Este conselho é dedicado aos pais que se desdobram em esforços para construir ementas sucessivas, intersubstituíveis, e para oferecer sempre uma alternativa para a refeição que é recusada. Estes pais passam a ser reféns da cozinha e de uma enorme sensação de frustração, porque a criança efetivamente come muito pouco das preparações que lhe propõem. Este comportamento vem de um lugar de extrema ansiedade com a saúde da criança ou do medo que a criança passe fome.

Em alternativa à construção de menus secundários e terciários, tentar incluir sempre um ou dois ingredientes que a criança goste na refeição. Sempre funciona como uma manobra de segurança, respeitando a determinação da criança.

O mesmo se aplica aos snacks, que devem ser oferecidos quando as crianças têm fome, mas nunca como compensação por não ter comido a comida de prato. E é sobretudo lícito não incentivar snacks quando a criança recusou uma comida que até costuma comer sem dificuldade.

  1. A vigilância do crescimento é fundamental

Como adultos, sobrestimamos a quantidade de comida que uma criança deve comer. Por isso, a obesidade infantil é, de facto, um problema de saúde que frequentemente tem na sua génese uma total desadequação da dimensão das porções alimentares à refeição.

Assim, se a criança cresce bem, ganha peso sem problemas, é óbvio que a criança que "não come" está nitidamente a escolher fazê-lo de acordo com o seu metabolismo.

Assim, é importante vigiar o crescimento das crianças para verificar desacelerações ou emagrecimento.

  1. Os pais não têm culpa das crianças não comerem

Claro que há comportamentos dos pais que servem para agravar ou melhorar a recusa alimentar seletiva. No entanto, o padrão de seletividade alimentar tem que ver com o padrão de relacionamento de cada criança com a comida. Caso contrário, não haveria crianças filhas dos mesmo pais com comportamentos alimentares tão díspares, com um filho a comer muitíssimo bem e outro sendo extremamente seletivo.

O comportamento alimentar pode ser modelado, mas não pode ser mudado por pressão extrínseca, por muito que a sociedade, a família, amigos ou a sogra digam o contrário.

Um artigo da médica pediatra Joana Martins.