Para os investigadores do Departamento de Epidemiologia do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), “estes resultados sugerem possíveis lacunas no conhecimento que a população tem acerca da vacina e da doença”.

Os investigadores lembram que a vacinação antigripal sazonal (VAGS) constitui “a principal medida de saúde pública para a redução do número de infeções pelo vírus da gripe e respetivas complicações”, sendo um dos grupos-alvo definidos com recomendação para a toma desta vacina a população com 65 e mais anos, para a qual a vacina é gratuita.

“Assim, é importante identificar os aspetos mais relevantes no comportamento de não adesão à toma desta vacina, para poder desenvolver campanhas de vacinação mais efetivas”, sublinham no estudo publicado no Boletim Epidemiológico Observações, do INSA.

Nesse sentido, os investigadores desenvolveram o estudo, no âmbito do ECOS (Em casa observamos Saúde), de análise aos motivos de não adesão à vacina antigripal sazonal na época 2020/2021 nas pessoas com 65 e mais anos, de acordo com as dimensões do Modelo de Crenças em Saúde (suscetibilidade, gravidade, barreiras, benefícios e pistas para a ação).

Os dados foram obtidos através de um inquérito telefónico a uma amostra aleatória de unidades de alojamento, estratificada por região NUTs II com alocação homogénea. Os dados foram recolhidos através de um questionário estruturado via entrevista telefónica assistida por computador, entre julho a setembro de 2021.

As conclusões da investigação revelam que “os portugueses com 65 e mais anos que não aderem à VAG, não pareceram fazê-lo por desconhecerem a recomendação, mas porque desconfiaram da vacina e não se consideraram vulneráveis a contrair gripe”.

No estudo, estimou-se para população com 65 ou mais anos residente em Portugal em 2021 uma frequência de não adesão à vacinação contra a gripe de 33,8%, comparável com as estimativas obtidas na época 2013/2014 (31,3%).

As dimensões “Barreiras” e “Suscetibilidade” foram as dimensões mais evocadas para a opção para não tomar a vacina antigripal na população com 65 e mais anos, o que vai ao encontro de outros estudos em populações alvo para a vacinação, sobretudo pela importância da “suscetibilidade”.

Observou-se também a importância das “Barreiras”, sobretudo a perceção de efeitos adversos que podem advir da toma da vacina, bem como a perceção e crenças sobre a própria doença, considerando-se esta população “pouco suscetível”.

“Estes resultados sugerem possíveis lacunas no conhecimento que a população tem acerca da vacina e da doença, podendo as campanhas de vacinação potenciar a sua adesão se forem tomados em consideração os fatores que são mais relevantes para a população na sua tomada de decisão”, defendem os investigadores.