Para a nutricionista Diana Dinis, antes de encetarmos o caminho da perda de peso, há que conhecermos as reais motivações para tal, iniciarmos um processo de autoconhecimento e conhecimento, compreendermos as nossas especificidades em termos nutricionais, saber vencer a fome emocional. A autora questiona-se porque valorizamos tanto a balança e um número que, claramente, não nos define ou porque nos entregamos a “dietas malucas” quando, reiteradamente, estas não resultam. Diana Dinis opõe-se às crenças enraizadas que limitam uma passagem à ação e aponta-nos o caminho para uma vida mais otimista onde não faltam lemas para uma mudança efetiva. Um exemplo: “muda de mente e muda de corpo”.

Diana Dinis licenciou-se em Análises Clínicas e Saúde Pública, carreira que viria a trocar pela Nutrição. Da vontade de ajudar outras mulheres a gostarem de si mesmas nasceu o “Método Diana Dinis”, no qual trabalha com uma equipa multidisciplinar de nutricionistas, psicólogos, coaches e personal trainers.

A Diana tem um percurso de vida que a foi aproximando aos poucos do mundo da nutrição. Quer, sucintamente, contar-nos este caminho?

Na verdade, sempre soube que queria ser nutricionista, no entanto, em Coimbra onde eu vivia, não havia o curso e, portanto, decidi seguir o curso de análises clínicas. Quando cheguei ao terceiro do curso percebi que era mesmo nutrição que queria, mas como já estava a um ano da conclusão do curso decidi terminá-lo e no ano seguinte vim para Lisboa, e nesse mesmo ano em que vim para Lisboa, entrei em ciências da nutrição e consegui tirar o curso dos meus sonhos.

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Desenvolveu o “Método Nutrição com Diana Dinis”. Gostaríamos que o apresentasse aos leitores.

O método criado por mim é um método que engloba não só a componente nutricional, mas também a vertente de autoconhecimento. Uma pessoa não pode querer emagrecer apenas através da mudança da sua alimentação. Se não conhece os seus gostos, as suas necessidades, as suas fragilidades e também as suas virtudes, será difícil uma mudança eficaz e consistente. Por isso o que mais vemos é mulheres que já fizeram inúmeras dietas sempre sem sucesso trazendo muita frustração. Este processo de se redescobrir faz parte e só em conjunto é que traz resultados com sucesso e duradouros. É preciso que a pessoa se redescubra, se conheça para que depois possa passar à parte prática e colocar o plano alimentar em ação. Este é um método para ajudar mulheres a serem mais felizes. Mulheres que se conhecem e gostam de si. E o que não gostam trabalham para que mudem de acordo com os seus valores atuais. Queremos mulheres seguras de si, do seu corpo com uma boa relação consigo própria e com a comida. A nossa equipa de nutricionistas dá acompanhamento diário, para que nunca falte motivação e dá ferramentas e estratégias para que haja melhoria do planeamento e organização bem como dos problemas específicos de cada uma que têm que ser ultrapassados. Muitas vezes resolvemos um problema e surge outro. E é sempre assim até atingirmos uma versão em que a mulher já se sinta confiante e confortável com o seu corpo, mas também com o seu interior e que já esteja munida de todas as estratégias para que consiga resolver problemas de forma independente. Basicamente mudamos os hábitos das mulheres e o corpo que elas desejam e se sentem confortáveis acaba por ser uma consequência.

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Diz-nos no seu livro que este “foi escrito por uma mulher para outras mulheres. Sempre senti que, entre as mulheres, existe bastante critica em vez de entreajuda”. O que leva a esta atitude depreciativa entre mulheres?

Na minha visão é algo decorrente da falta de autoconhecimento. À medida que vamos crescendo vamos desenvolvendo crenças que depois nos limitam na nossa tomada de consciência, sentimentos e passagem à ação. E se não nos desenvolvermos e percebermos que o passado não tem obrigatoriamente que condicionar o nosso presente e que podemos mudar crenças e atitudes que temos fica difícil de gostarmos de outras pessoas porque a primeira pessoa que temos que gostar é de nós próprias. Então se não gostamos de nós como vamos gostar de outras? Vamos arranjar defeitos nas outras mulheres porque é impossível que elas sejam bem-sucedidas, sejam bonitas e felizes com elas próprias. Daí o autoconhecimento ajudar-nos a gostar de nós próprias e estarmos de bem com o resto do mundo. Daí a minha metodologia ter as duas componentes.

O título que a Diana Dinis escolheu para o seu livro é como a descoberta do Santo Graal para quem procura a perda de peso: “Emagreça sem Dietas”. Não acredita nas dietas restritivas para a perda de peso?

Não acredito e sei que não funcionam. Pode até parecer que funcionam inicialmente devido à queda abrupta de peso inicial e mesmo em casos de mais foco e disciplina prolongar-se durante algum tempo. No entanto, não há emagrecimento real sem mudança de hábitos. Costumo dizer: muda de mente e muda de corpo. As dietas restritivas vão trazer resultados rápidos, mas sem consistência. Uma mudança de hábitos alimentares vai trazer não só um emagrecimento duradouro bem como um aumento de autoestima e confiança da mulher. Houve um desenvolvimento de dentro para fora.

As dietas restritivas vão trazer resultados rápidos, mas sem consistência. Uma mudança de hábitos alimentares vai trazer não só um emagrecimento duradouro bem como um aumento de autoestima e confiança da mulher.

Quais são os principais obstáculos que nos impedem de perder peso?

Há vários problemas que podem estar a atuar em sinergia o que dá várias combinações de causas possíveis para o insucesso. Problemas na fase do pensamento e/ou resistência na fase de ação são dos mais comuns, porque condicionam todo o processo. Basicamente quem quer emagrecer quer “começar a casa pelo telhado”, ou seja, quer emagrecer no menor tempo possível, no entanto antes disso temos que perceber que problemas estão na fase de pensamento e/ou fase de ação. Depois o grupo de influência também tem bastante importância na nossa atuação, porque todos somos influenciados. Todos estes tópicos tais como, fixação com o número na balança, restrições exageradas, descontrolos no fim de semana e períodos de férias, são temas abordados no livro como possíveis causas de impedimento de ter resultados.

Quais são as piores fontes de informação a que pode recorrer alguém que procure por mote próprio conselhos para perder peso?

Tentar emagrecer sozinha será sempre uma tarefa árdua. Mesmo que tenha a parte do autoconhecimento bem resolvida, saber que quantidades se ajustam às suas necessidades, saber quais as combinações que mais se ajustam à sua dinâmica de vida será sempre algo que terá que ser bem estudado para se fazer um emagrecimento de forma equilibrada e com resultados. Deixo uma pergunta para os leitores: se temos um problema de dentes, vamos ao dentista, certo? Se temos um problema no carro vamos ao mecânico. Então porque é que se temos um problema de excesso de peso achamos que devemos fazer esse processo sozinhos? Porque há muita informação? Este facto ainda dificulta mais as coisas, porque excesso de informação significa que temos que saber muito sobre o tema para fazer as escolhas acertadas. Costumo dizer: após o passo de consciencializar que é preciso emagrecer o segundo passo é encontrar um nutricionista com o qual se identifique e em quem confie.

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No que difere o método da Diana face a inúmeros outros métodos e programas de emagrecimento que encontramos atualmente?

O que nos difere é mesmo a capacidade de ajuda que temos, bem como o desenvolvimento pessoal que o cliente faz connosco. Fazemos um acompanhamento diário via WhatsApp estimulando sempre o cliente a encontrar respostas e estratégias que o levem a passar à ação e a ter resultados. Não basta só ter conhecimento, é preciso também passar à ação.

Porque escolheu uma equipa multidisciplinar para trabalhar consigo?

A minha metodologia envolve várias áreas. Não só faz sentido ter nutricionistas, como também a vertente de psicologia e de treino. Criar uma equipa foi para mim fundamental para conseguir expandir o método e chegar a mais pessoas. Comecei o método sozinha e dava consultas das oito da manhã às dez da noite. Não seria comportável a longo prazo! Decidi criar equipa e foi a melhor coisa que fiz. Sem a minha equipa o método não teria repercussão que tem hoje. Elas fazem parte desta caminhada e eu tenho muito orgulho na nossa equipa e na forma como ajudamos outras mulheres.

Dedica um capítulo do seu livro à nutrição da mulher. O que tem de particular a nutrição no feminino?

As mulheres têm uma maior complexidade do ponto de vista hormonal o que faz com que tenhamos que ajustar a alimentação às diferentes fases pelas quais vamos passando. Ciclo menstrual, patologias como síndrome dos ovários poliquísticos, endometriose, a gravidez e menopausa são fases que impactam muito na vida de uma mulher e que a alimentação é fundamental para que nos adaptemos a estas fase de uma forma tranquila e sem grandes descontrolos.

Não há alimentos proibidos. Há alimentos que podemos usar mais frequentemente e outros com menos frequência. Mas proibidos não há.

A Diana apresenta-nos no seu livro um plano de refeições para quatro semanas. Sucintamente, quais os alimentos que privilegia e quais os que estão proibidos?

Não há alimentos proibidos. Há alimentos que podemos usar mais frequentemente e outros com menos frequência. Mas proibidos não há. Só usar a palavra proibido já apetece comer. Só porque nos estão a dizer que não o podemos fazer. Então, é importante que privilegiemos alimentos com menos açúcares presentes e sem adição de açúcares, alimentos menos processados, alimentos com maior teor de fibra para nos darem mais saciedade. E acima de tudo: que saibamos ler rótulos para que possamos ter sempre o poder de escolha do nosso lado! Para sermos autónomos e não sermos enganados por rótulos que parecem ser saudáveis, mas que na verdade não o são.

O que sente de cada vez que uma mulher alcança, com base no seu método, os objetivos a que se propôs de perda de peso?

Felicidade extrema. Não pelo facto de ter sido com o nosso método, mas pelo facto de sabermos que a vida daquela mulher nunca mais será a mesma. Aquela mulher é uma nova mulher! Com mais autoconhecimento, com mais conhecimento nutricional, com poder de escolha, independente e acima de tudo com autoestima e confiança. É isto que nos move e é isto que nos motivará sempre a sermos melhores profissionais e a levarmos o nosso método a mais mulheres.

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