Entre a comunidade científica, focada no estudo da obesidade, há um dado inquestionável. Não existe medicamento, por mais eficaz e segura que seja a sua fórmula, que elimine o peso a mais sem a adoção, paralela e mantida no tempo, de uma dieta saudável e a prática de exercício. Pensar que se pode perder quilos em excesso com recurso exclusivo a fórmulas de emagrecimento é o primeiro passo para falhar o objetivo.

Eliminar gordura de forma equilibrada e duradoura é, como sabe, moroso e implica esforço. A apologia da inevitável complementaridade entre estilo de vida saudável e medicação é hoje também feita pelos laboratórios que multiplicam a oferta num mercado de enorme procura. Mas serão os suplementos ou medicamentos a solução para si? A dúvida é frequente. Saiba o que dizem e defendem os especialistas.

Quando a dieta não chega

O recurso a medicação justifica-se, sob vigilância médica, em casos de obesidade, de excesso de peso em que existem complicações associadas (como hipertensão, diabetes e dislipidemia) ou quando a pessoa não consegue emagrecer apenas com recurso à dieta e prática de exercício. Nas farmácias, parafarmácias, ervanárias, em sites da internet e até em programas de televisão irá encontrar inúmeros produtos.

Desconfie de soluções rápidas. Esta é a primeira de todas as regras a seguir. Perder mais de um quilo por semana, habitualmente, não é recomendável, alertam os especialistas. Tenha também presente que o facto de algumas fórmulas alegarem serem naturais não significa que estejam isentas de riscos. Não deve iniciar a toma sem aconselhar-se com o seu médico, sobretudo se sofre de alguma doença e/ou está a ser medicado.

Os suplementos que se recomendam

As fórmulas para emagrecer que se enquadram na categoria de suplemento alimentar são de venda livre e, em Portugal, estão sob a alçada do Ministério da Agricultura, do Mar, Ambiente e Ordenamento do Território. No site da instituição pode ler-se que, para entrarem no mercado, "o operador económico não precisa de requerer uma autorização, sendo suficiente notificar o GPP [Gabinete de Planeamento e Políticas]".

De acordo com este organismo nacional, "não serão colocados no mercado quaisquer géneros alimentícios que não sejam seguros". Mas, todavia, essa garantia "é sempre da responsabilidade do operador económico". O GPP controla os rótulos "por amostragem, verificando a sua conformidade com a regulamentação em vigor". Em caso de incumprimento, pode dar-se "a retirada do produto do mercado".

As substâncias mais comuns

O extrato de chá verde, o ácido linoleico conjugado (CLA), a laranja amarga, o quitosano e o crómio são alguns dos principais ingredientes usados nos suplementos alimentares de venda livre para perder peso. Os seus alegados efeitos diuréticos e inibidores de gordura são explorados pelas diferentes marcas que os comercializam. Muitas delas apostam mesmo em campanhas publicitárias mais agressivas.

Alguns têm, contudo, efeitos secundários indejesáveis, pelo que é fundamental consultar um especialista e ler a respetiva bula antes de os começar a tomar. Uma prática que não deve, de todo, ser aleatória e irrefletida. A sua ingestão não dispensa, contudo, uma alimentação regrada e equilibrada, associada à prática regular de exercício físico, para potenciar a sua ação, outra das condições essenciais.

Os medicamentos disponíveis

São muitos os suplementos alimentares dietéticos disponíveis no mercado. Em Portugal, em 2013, o único medicamento para emagrecer aprovado pelo Infarmed, Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento, é o Orlistato. Está disponível sob a forma de comprimidos de venda livre (com 60 miligramas de orlistato por comprimido) e de prescrição médica (com o dobro da dosagem).

Ao atuar ao nível de uma enzima pancreática (lípase), impede que 25% da gordura ingerida (no primeiro caso) ou 30% (no segundo) sejam absorvidos pelos intestinos. A versão de venda livre está indicada para adultos com excesso de peso "em associação a uma dieta moderadamente hipocalórica e de baixo teor em gordura", ajudando a perder "50% mais de peso do que uma dieta por si só".

Como funcionam estes produtos

A gordura, que o organismo fica impedido de absorver, é eliminada pelas fezes, o que promove a perda de peso mas também obriga a mudanças nos hábitos alimentares. Se a pessoa ingerir muita gordura poderá ter como efeitos secundários, em muitos casos, "fezes gordurosas ou oleosas, fezes soltas e moles, movimentos intestinais súbitos e flatulência com ou sem descarga oleosa", alertam os especialistas.

Esse suplemento alimentar está interdito a algumas pessoas (por exemplo, a quem tome ciclosporina) e a sua toma deve ser acompanhada por um profissional em caso de doença dos rins ou se se estiver a tomar medicamentos para a diabetes, hipertensão ou hipercolesterolemia, antiepiléticos, entre outros, como alertam alguns médicos e farmacêuticos, nacionais e internacionais.

Texto: Nazaré Tocha com Cristina Azevedo (farmacêutica) e João Jácome de Castro (endocrinologista)