De acordo com um estudo do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e da HelpAge International estima-se que existam 868 milhões de pessoas com mais de 60 anos no mundo, representando 12% da população mundial.

Todos os anos quase 58 milhões de pessoas fazem 60 anos, pelo que em 2050, 22% da população mundial terá mais de 60 anos (mais de 2 mil milhões de pessoas). O envelhecimento da população é um fenómeno que apresenta um impacto importante em todos os domínios da sociedade.

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No ranking da HelpAge, que avalia 96 países, a Suécia é um dos 3 melhores países para envelhecer, distinguindo-se, entre vários factores, pelos cuidados de saúde primários.

Já Portugal, ocupa o 38º lugar do ranking, e a principal causa de morte continuam a ser as doenças cardiovasculares. De acordo com o Relatório do Programa Nacional para as Doenças Cérebro-Cardiovasculares de 2017, da Direcção-Geral da Saúde, constata-se que nos últimos cinco anos não houve redução da mortalidade por Doença Isquémica Cardíaca, ocorrendo ainda um agravamento da mortalidade prematura, ou seja, abaixo dos 70 anos.

Um cardiologista sueco e a sua equipa de investigadores do Hospital Universitário de Linköping conduziu um ensaio com idosos, com idades compreendidas entre os 70 e os 87 anos, residentes na cidade de Kisa e arredores (centro da Suécia), que foram distribuídos de forma aleatória em 2 grupos: um grupo de tratamento e outro grupo de controlo (placebo). Os investigadores testaram os efeitos de suplementação diária com duas  substâncias antioxidantes: selénio e coenzima Q10.

O stress oxidativo, sobretudo a peroxidação de lipoproteínas de baixa densidade (LDL), tem um papel importante no desenvolvimento da aterosclerose.

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Falta de selénio nos Europeus

O selénio é um mineral presente na estrutura molecular de importantes enzimas antioxidantes (glutationa peroxidase). É hoje reconhecido que os europeus não obtêm níveis suficientes de selénio na alimentação, devido aos baixos níveis de selénio no solo, comprometendo a defesa antioxidante do organismo. Por outro lado, a coenzima Q10 é um antioxidante lipossolúvel, envolvido na produção de energia (adenosina trifosfato – ATP).

Em doentes com insuficiência cardíaca, verifica-se uma redução da concentração de coenzima Q10 no miocárdio, estando relacionada com a gravidade dos sintomas e com a extensão da disfunção ventricular esquerda. Adicionalmente, uma baixa concentração de coenzima Q10 parece ser um marcador independente da mortalidade por insuficiência cardíaca. Paralelamente, a produção de Q10 no fígado sofre uma diminuição com o avançar da idade.

Os resultados do ensaio sueco, designado Kisel-10, foram publicados em 2013, no International Journal of Cardiology, concluindo ter havido uma redução relativa de 53% nas mortes por causa cardiovascular no grupo de idosos que tomou estes dois suplementos. Os investigadores verificaram também que os idosos apresentavam melhor função cardíaca, determinada por ecocardiografia e uma menor concentração plasmática do NT-proBNP, um biomarcador de insuficiência cardíaca e de disfunção do ventrículo esquerdo.

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Esta análise permitiu ainda concluir que os doentes com cardiomiopatia apresentam níveis mais baixos de selénio e de coenzima Q10. Os doentes com disfunção ventricular são particularmente afectados pelo stress oxidativo e pelo processo inflamatório envolvido. A suplementação com coenzima Q10 e selénio nos doentes idosos permite reduzir a morte por causa cardiovascular, sendo especialmente importante nos diabéticos, doentes com síndrome metabólico e doentes que apresentam isquémia cardíaca (doença coronária).

A coenzima Q10 e o selénio são necessários para o mecanismo de defesa contra o stress oxidativo, envolvido no processo inflamatório do endotélio vascular nos idosos.
Os resultados do estudo KiSel-10 são promissores do ponto de vista da cardiologia preventiva, em particular por se tratar de um estudo que envolve substâncias de origem natural. Estratégias de intervenção, mais invasivas para o doente, são também mais dispendiosas, parecendo ter um impacto menos significativo a nível da mortalidade.

Doenças cardiovasculares matam 35 mil portugueses por ano

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De acordo com o relatório European Cardiovascular Disease Statistics 2017, as doenças cardiovasculares resultam em 3,9 milhões de mortes em toda a Europa e matam 35 mil portugueses.

Considerando o impacto das doenças cardiovasculares na nossa população, que representam um terço da mortalidade total, as estratégias de prevenção da área da cardiologia contribuem para uma redução da morbilidade, mortalidade e custos para o sistema nacional de saúde.

Segundo o Relatório do Programa Nacional para as Doenças Cérebro-Cardiovasculares, houve um aumento em 26% dos internamentos por doenças do coração, entre 2011 e 2015 e consomem-se cada vez mais medicamentos, apesar dos encargos financeiros globais do SNS serem menores.

As explicações são do médico Agnelo Martins, do Instituto de Cardiologia Preventiva de Almada.