As doenças cardiovasculares são responsáveis por cerca de 40% dos óbitos que ocorrem em Portugal. Quando as artérias ficam obstruídas com placas de gordura, ocorre uma diminuição ou, nalguns casos, até mesmo ausência do fluxo sanguíneo que pode provocar diferentes problemas cardiovasculares, uma situação que deve a todo o custo evitar. As consequências mais conhecidas são a angina de peito e o enfarte do miocárdio mas, para além do coração, existem outros órgãos que podem ser atingidos.

É, por exemplo, o caso do cérebro e dos rins. Por todas estas razões, estas patologias, muito comuns, devem ser tratadas conscientemente e prevenidas no quotidiano. Para além da medicina tradicional, a fitoterapia, baseada nos benefícios das plantas naturais, pode ser muito útil na prevenção de algumas doenças. Um pouco por todo o mundo, são muitos os especialistas que a recomendam. Descubra, de seguida, o que deve ingerir no dia a dia para se proteger do que ameaça a sua saúde cardiovascular.

1. Chá verde

Quando os níveis de colesterol no sangue sobem mais do que o que é considerado saudável, as artérias vão ficando obstruídas, dificultando a circulação e podendo levar à ocorrência de um enfarte ou angina de peito. Caracterizada pelo excesso de colesterol em circulação no sangue, a hipercolesterolemia não apresenta sintomas, pelo que os seus valores devem ser monitorizados regularmente através de análises, para evitar o desenvolvimento de doenças coronárias.

Como explica Pedro Lôbo do Vale, médico de clínica geral, "as análises realizadas para aferição dos valores de colesterol indicarão a quantidade de colesterol total, de colesterol LDL [o mau] e de colesterol HDL [o bom], que circulam no sangue". Graças ao seu conteúdo elevado de catequinas, que evitam que as gorduras se agarrem às paredes das artérias, o chá verde é muito útil para combater o colesterol.

Para além disso, esta bebida, muito apreciada em território nacional, reduz a concentração de glicose no sangue, beneficiando em caso de diabetes, outro dos grandes fatores de risco das doenças cardiovasculares. Deve tomá-lo sob a forma de infusão, uma colher de sobremesa de folhas secas por chávena, várias vezes ao dia", recomenda. "O seu uso deve ser moderado em caso de ansiedade, hipertensão arterial e úlcera gastroduodenal", adverte, no entanto, o especialista.

2. Folhas de oliveira

A hipertensão, uma condição clínica que contribui para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares graves, funciona como uma bomba-relógio no organismo. Conforme a idade vai avançando, os valores de tensão arterial vão mudando e é necessário fazer ajustes, sendo recomendável fazer exames de rotina periódicos a partir dos 45 anos. Infelizmente, é muito comum em território nacional.

"A hipertensão caracteriza-se por uma pressão sanguínea [força com que o sangue é bombeado, a partir do coração, contra as paredes das artérias] que se eleva e permanece aumentada ao longo do tempo", explica Pedro Lôbo do Vale. A oliveira é uma árvore da região mediterrânica e as suas folhas, utilizadas em casos de hipertensão, "baixam os valores máximos da pressão sanguínea e regulam os valores mínimos para níveis fisiológicos", esclarece o especialista.

Pode fazer uma infusão de folhas de oliveira para tirar maior partido dos seus benefícios. Utilize cerca de três gramas de folhas de oliveira para 150 mililitros ou, em alternativa, 12 gramas para 600 mililitros de água a ferver. Beba duas chávenas por dia, idealmente às refeições. Pelo seu teor em taninos, as folhas são ligeiramente irritantes para a mucosa gástrica. Se não gosta de folhas de oliveira, pode optar por alho.

3. Ginkgo biloba

Se não gosta de chá verde, pode experimentar outra planta, ginkgo biloba. "As suas folhas ajudam a inibir a agregação plaquetária e melhoram a microcirculação, contribuindo para uma melhor oxigenação das células", refere o médico. Tome-o em infusão. Utilize uma colher de sobremesa de folhas por chávena. Ingira duas chávenas por dia, após as refeições. "Não o utilize se estiver a tomar fármacos anticoagulantes", alerta, contudo, o especialista.

4. Alho

Outra planta que é útil na regulação da tensão arterial é o alho. Segundo Pedro Lôbo do Vale, "diminui a agregação plaquetária, aumenta a atividade fibrinolítica, produz efeitos hipoglicemiantes e ajuda na redução dos níveis de colesterol". Ingira-o cru, dois a cinco dentes por dia.

Em alternativa, tome-o em pó, entre um a três gramas por dia. Também o pode ingerir em cápsulas de 300 a 500 miligramas. "Não o utilize se tiver hemorragias ativas e trombocitopenias, no pré e pós-operatório e/ou se estiver a tomar anticoagulantes", aconselha ainda o médico.

5. Centáurea-menor

As alterações cardiovasculares são responsáveis por uma grande parte das complicações que os diabéticos podem sofrer. "A diabetes é uma doença em que os níveis de glicose no sangue se encontram acima dos valores normais e surge quando o pâncreas perde a capacidade de segregar insulina ou quando as células deixam de ser capazes de a utilizar ou mesmo por ambos os motivos", esclarece Pedro Lôbo do Vale.

Os diabéticos têm maior risco de sofrer de problemas cardiovasculares se não controlarem os seus níveis de glicemia e de hemoglobina glicada que deve ser avaliada a cada três a seis meses. Por outro lado, existe uma percentagem elevada de diabéticos tipo 2 que são obesos, o que representa mais um fator de risco para o coração. Uma investigação recente sobre a centáurea-menor, também conhecida como fel da terra, tem-se dedicado à avaliação dos seus efeitos sobre as células responsáveis pela secreção de insulina. Em caso de diabetes, o efeito protetor desta planta, rica em flavonoides, tem sido atribuído ao seu potencial antioxidante.

Um efeito benéfico que contribui para a diminuição do dano dessas células. Utilize duas a três gramas de sumidades floridas para 150 mililitros de água a ferver e beba duas ou três chávenas por dia. "Esta planta não deve ser usada por mulheres a amamentar, devido aos seus constituintes amargos. Deve também ser evitada em caso de úlceras gastroduodenais", acrescenta ainda o médico de clínica geral.

6. Arando

Se tiver dificuldade em encontrar centáurea-menor na sua área de residência, substitua-a por arandos. Para além de combaterem as infeções urinárias, estes pequenos frutos diminuem a glicose no sangue e conferem maior resistência ao músculo cardíaco. Pode ingeri-los frescos ou secos. Também existem no mercado suplementos alimentares que os integram na sua composição.

7. Garcinia cambogia

O excesso de peso e a obesidade promovem, a par do sedentarismo, uma sobrecarga significativa para o coração, que se vê, assim, obrigado a trabalhar mais e sob esforço. Para além disso, estimulam um aumento considerável de outras gorduras no organismo, que se tornam prejudiciais para a saúde cardiovascular.

Por isso, é importante fazer exercício moderado regularmente e seguir uma alimentação saudável e equilibrada. Um dos compostos desta planta, o ácido hidroxicítrico, contribui para o bloqueio parcial da síntese de ácidos gordos, reduzindo também a conversão de açúcares em ácidos gordos. Contribui ainda para a redução do apetite.

Devido a estas propriedades, a garcinia cambogia é utilizada em caso de obesidade e hiperlipidemia, bem como para controlar o apetite. Pedro Lôbo do Vale recomenda utilizar esta planta sob a forma de extrato seco. "Tome duas a três cápsulas de 500 miligramas por dia, meia hora antes das principais refeições", aconselha.

8. Freixo

Em substituição da garcinia cambogia, pode utilizar folhas de freixo. Estas partes da planta possuem ação diurética e ligeiramente laxativa, pelo que também podem ser utilizadas em caso de obesidade, sobretudo se for acompanhada de retenção de líquidos. Para isso, faça uma infusão com 2,5 a 3 gramas de folhas para 150 mililitros de água a ferver e beba três chávenas por dia. Mas tenha atenção. "Se tomar hipotensores ou cardiotónicos, a sua utilização deve ser controlada", adverte o médico.

9. Espinheiro-branco

Esta planta medicinal, também conhecida por pirliteiro, reúne uma série de propriedades que favorecem diretamente a saúde cardiovascular. Além de atuar especificamente no coração e nos seus vasos sanguíneos principais, ataca os problemas associados à doença cardíaca. Tal sucede porque o espinheiro-branco regula a tensão arterial, trata a ansiedade e a depressão, controla as arritmias, atua como tónico cardíaco e protege o coração depois de episódios de enfarte.

Pode tomá-la em infusão, a meio da manhã, a meio da tarde ou à noite. Para a preparar, utilize um grama de flores para 150 mililitros de água a ferver ou quatro gramas de planta para 600 mililitros de água fervente, sendo recomendadas duas a três chávenas por dia, fora das refeições. "Não abuse", avisa, todavia Pedro Lôbo do Vale. "Doses muito elevadas desta planta podem provocar depressão respiratória e cardíaca", adverte ainda o médico de clínica geral.

Texto: Sofia Santos Cardoso com Pedro Lôbo do Vale (médico de clínica geral)