“Abrilina abriu a janela. ‘Vou arejar a casa, deixar sair o mofo do inverno. E que linda é, a luz da manhã que entra! Decidiu, então, sair para comprar flores”. É desta forma que a artista visual e ilustradora Raquel Costa inaugura as páginas do seu livro “25 Mulheres", um olhar no feminino sobre a revolução. O rol de mulheres continua com Benedita, Dora, Eunice, Fátima, Guimar, numa evolução por ordem alfabética de outras tantas protagonistas presas entre o Portugal anterior à “Revolução dos Cravos” e o caminho para o tempo que lhe sucedeu. “Noémia já não é o seu nome. Não aqui. Aqui é apenas um número entre números”, escreve a autora. Noémia está presa. Teodora é emigrante, Vera gosta de juntar cravos, Yolanda educa os filhos no amor à liberdade.

A propósito do livro editado sob a chancela da Oficina do Livro escreve a autora: “Ainda que só mais recentemente me tenha apercebido, andei a planear este livro, na minha cabeça, durante a última década (...) O 25 de Abril, sinónimo de liberdade, democracia e igualdade exigia de nós, ano após ano, um processo contínuo de responsabilização enquanto indivíduos e comunidade (...) não estou certa de que, em qualquer destas vertentes, os avanços que conseguimos tenham sido significativos ou permanentes”.

No livro, as histórias das 25 mulheres são contadas pela sua voz. Esta viagem à sociedade portuguesa do início dos anos 70, espelha as contradições da condição feminina, com as quais ainda nos debatemos hoje, meio século depois. Para a autora, o livro encerra um desejo, o de “favorecer a curiosidade e o diálogo, quer pelo aprofundamento das raízes históricas dos relatos nele narrados, quer pela indagação do significado contemporâneo do ser mulher”.

25 mulheres
créditos: Oficina do Livro/Raquel Costa

“Isolar 25 histórias, de entre a diversidade que é a existência no feminino é, seguramente, redutor. Tenho uma aguda noção de muitas histórias que deixei por contar. A minha esperança é que aquelas que selecionei, respeitem a verdade da memória histórica e façam alguma justiça à sua pluralidade”.

Raquel Costa nasceu no Porto, formou-se em Artes Plásticas – Escultura e é mestre em Ensino de Artes Visuais. Atualmente, leciona na Escola Superior de Design, do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave. Participa com regularidade em exposições a solo e coletivas, em Portugal e no estrangeiro. Dirige oficinas de ilustração e realiza sessões de desenho ao vivo. É cofundadora do Little Black Spot Creative Studio, onde trabalha em ilustração e design de comunicação, para os mercados editorial e publicitário. Conta já com diversos livros infantojuvenis ilustrados, para várias editoras nacionais, entre eles o livro NOA, com texto de Susana Cardoso Ferreira – vencedor do prémio Bissaya Barreto –, editado pela Oficina do Livro/Leya.

“25 mulheres. Uma revolução no feminino” chega aos escaparates com o preço de 14,5€.