
Num tempo em que a rapidez é exaltada como virtude e a produtividade parece medir o valor de uma vida, surge uma proposta contraintuitiva: parar. Ou, pelo menos, abrandar. Esta é a proposta de O Método Slow, o mais recente livro do norte-americano Lee Holden, publicado em Portugal com a chancela da Nascente, e com um subtítulo provocador: E se para alcançar mais fosse preciso fazer menos?
Mestre de Qigong, acupuntor e herbalista certificado, Holden tem dedicado a sua carreira à integração da sabedoria oriental com as exigências da vida moderna. Através de programas de televisão, cursos online e formações para professores, “já ajudou dezenas de milhares de pessoas a reconectar-se com o corpo, a curar desequilíbrios e a encontrar um ritmo de vida mais sustentável. O livro agora publicado em português condensa essa experiência”, lemos na recensão à obra.
O Método Slow apresenta-se como um manual de práticas e princípios desenhados para aplicar, no quotidiano, a sabedoria da desaceleração. Holden inspira-se na meditação, nas artes marciais, na medicina tradicional chinesa e na ciência contemporânea para desenvolver um programa que “promete restaurar o equilíbrio físico, mental e emocional. A premissa é simples: a velocidade a que vivemos tem um preço. Se não o reconhecermos com consciência, pagá-lo-emos com stresse, esgotamento e desumanização”, destaca a apresentação que é feita ao livro.
Com práticas como a meditação de gratidão, a respiração vagal — que ativa o sistema nervoso parassimpático para reduzir o stresse —, a acupressão digestiva e até técnicas como a reflexologia sexual, Holden oferece ferramentas concretas para cultivar um estado de presença. Sublinha o autor que “a mente moderna está frequentemente refém do ruído: preocupações, listas de tarefas, notificações, pressões sociais. Viver nesse estado contínuo de agitação — a chamada ‘mente de macaco’ — impede-nos de aceder à clareza, energia e serenidade que nos permitiriam florescer”.
O Método Slow não se dirige apenas a espiritualistas, praticantes de ioga ou curiosos por terapias alternativas. “É uma proposta universal: para pais exaustos, profissionais à beira do burnout, estudantes, empreendedores, ou qualquer pessoa que sinta ter perdido a sua bússola interior no meio do turbilhão diário”.
Do livro, publicamos o excerto abaixo.
O inimigo número 1 do stress*
Está na altura de aprender algumas técnicas de prevenção. Está na altura de cultivar a criptonite do seu stress. Está na altura de recorrer ao mindfulness.
“Mindfulness” é uma palavra muito popular, tal como stress. Mas é um conceito muito vezes mal interpretado. Para começar, mindfulness é o oposto de “mind‑fullness” (em inglês, “encher a mente”). Não precisa que lhe diga o que é ter a mente… cheia. Cheia de dúvidas, preocupações, sobrecarga, pensamentos críticos, fantasias sobre o futuro e memórias dolorosas do passado. É assim que a sua mente funciona naturalmente, por isso não seja muito duro consigo mesmo se tiver uma mente que está em esforço, também conhecida como “mente de macaco”.
Estamos programados para pensar em excesso porque, muito simplesmente, foi o que permitiu à raça humana sobreviver durante tanto tempo. O tigre‑dente‑de‑sabre tinha os seus — isso mesmo — dentes. Tal como o tubarão, que ainda hoje mete medo a milhões de peixes. O mamute podia contar com o seu tamanho e força. Os roedores primitivos tinham a sua pequenez e agilidade e podiam enfiar‑se em buracos minúsculos para se abrigarem de catástrofes naturais.
O Sapiens tinha a sua mente. Foi isso que permitiu ao Homo sapiens (ou seja, nós) triunfar sobre os Neandertais (outro tipo de ser humano pré‑histórico).
Éramos mais inteligentes. Podíamos usar a mente para prever cenários futuros através da rememoração de circunstâncias passadas. Era essa a nossa salvação. Usávamos as nossas mentes brilhantes para planear, criar estratégias, contar, ligar e evitar o perigo com muita antecedência. Éramos máquinas de resolver problemas, e nenhuma outra criatura no planeta Terra podia dizer o mesmo de si própria. Podemos dizer que tínhamos Big Brain Energy e que usámos essa energia para vingar na vida e no jogo da evolução. Era tudo uma questão de sobrevivência dos mais aptos, e nós éramos tão aptos quanto possível.
Como a sobrevivência era o objetivo, as nossas mentes adaptaram‑se para garantir que ele se concretizava. Mas hoje em dia, o nosso objetivo na vida mudou. Queremos mais do que a mera sobrevivência — queremos prosperar. Agora, o que realmente queremos é felicidade na vida. Queremos amar e ser amados. Queremos viver num estado de paz e equilíbrio. Queremos fazer do mundo um lugar melhor. E isso é ótimo. O único problema é que a mente não treinada terá dificuldade em lá chegar devido à sua programação primitiva e à sua infestação de PNA (pensamentos negativos automáticos).

Os PNA produzem uma corrente constante e subtil de ansiedade. Se permanecermos neste estado a longo prazo, esta ansiedade subtil começará a transformar‑se em stress quando for desencadeada por qualquer estímulo que possa surgir. E se continuarmos stressados, isso acabará por causar todos os sintomas desagradáveis que foram descritos anteriormente. Para evitar que o stress se manifeste, temos de recorrer ao arqui‑inimigo das perturbações mentais, que é… O mindfulness. Simples, mas muito eficaz. O mindfulness é a arte de prestar atenção. Consiste em abrandar a mente pensante e estabelecer uma ligação com o momento presente: o único momento em que podemos encontrar a felicidade. As consequências desta prática são extremamente benéficas para a nossa saúde mental. O mindfulness não é apenas para alguns indivíduos.
O mindfulness é para as massas. E precisamos disso agora mais do que nunca.
Qual é o aspeto de um praticante de mindfulness? Bem, para começar, não precisa de ser oriundo dos territórios budistas da Ásia, onde o mindfulness tem muitas das suas raízes originais. Não precisa de usar vestes ou de emanar continuamente uma expressão de paz. Um praticante de mindfulness é simplesmente uma pessoa que vive aqui e agora. Vive a sua vida real, não a que existe apenas nas suas cabeças.
Como resultado, a ansiedade e o stress não são comuns. Mas é uma arte a dominar. A mente está programada para pensar excessivamente para evitar a dor e procurar o prazer e, por conseguinte, para estar preocupada com o que pode acontecer ou porque é que algo aconteceu. Isto é o oposto do mindfulness.
* Em consonância com a forma original adotada no livro citado, optamos por manter a grafia 'stress' no excerto aqui reproduzido.
Imagem de abertura do artigo cedida por Freepik.
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