A situação social da sociedade está empobrecida e a empobrecer, no que diz respeito a valores éticos de conduta comportamental. Estes valores são extremamente importantes para o bom funcionamento de qualquer tecido social, desde o mais pequeno, por exemplo uma família, ao maior, como por exemplo um país ou mesmo o planeta. Estas regras de conduta sustentam as relações interpessoais tornando-as mais produtivas, sinceras e harmoniosas, originando bem-estar, entendimento e paz.
O Sanātana Dharma, mais conhecido como Hinduísmo aqui no ocidente, é o conjunto de todas as entidades religiosas, espirituais e sociais da Índia. Estas abarcam um conhecimento que é eterno e encerram em si mesmo um conjunto de valores que sustentam, ou pelo menos deveriam sustentar, o bom funcionamento das sociedades.
Dharma quer dizer literalmente aquilo que sustenta algo e que, por isso, atribui qualidades intrínsecas ao que é sustentado. Um livro só será um livro se tiver capa, lombada e se contiver palavras e estas tiverem conteúdo lógico. Podemos dizer então que a sua forma, as palavras e o contudo lógico são o que sustentam o livro, caso contrário teremos um caderno, ou outro objecto qualquer. Dharma pode ser colectivo ou individual e deverá ser aprendido para poder ser usado a favor do bem-estar de todos. O que sustenta a qualidade de ser mãe é completamente diferente daquilo que sustenta a qualidade de ser filho, o Dharma da mãe é então diferente do Dharma do filho.
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Quando falamos de Yoga falamos de Dharma, pois Yoga e Dharma andam de mão dada, não existindo Yoga sem Dharma.
Muitas das vezes, o yoga surge descontextualizado e desmembrado assim que sai da Índia. Muitos professores, por falta de capacidade ou por pressões sociais, vendem um pacote e chamam-lhe Yoga. Yoga não é um desporto muito menos um negócio! Yoga é cultura e educação!
O Dharma de um professor de Yoga passa por valorizar e ensinar o Yoga respeitando a tradição. Sem tradição o conhecimento não flui de mestre a discípulo e sem tradição não há garantia da eficácia daquilo que está a ser ensinado. A tradição protege o conhecimento, protege o mestre e os discípulos e é um corpo vivo, intemporal e maravilhoso, acarinhando todos aqueles a que a ela pertencem.
Lamento que o yoga surja descontextualizado e desajustado e que sofra as influências de uma sociedade de consumo que produz em grande número cidadãos doentes e sem paz. A missão do professor de yoga é ensinar e relembrar, antes de mais o Dharma e só depois o restante. Ainda bem que o Yoga está a ser difundido e conhecido pois é uma pérola da humanidade, um recurso educativo de valor incalculável. É com profunda tristeza e alguma revolta que reparo que está a ser mal ensinado, seja por professores ignorantes e incompetentes ou por anjos caídos. A senda do yoga é árdua e requer um compromisso vitalício por parte do yogi, yoga é para toda a vida e não só para a sala de aula.
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O yoga propõe um caminho com um fim bem claro, que é a mudança da ideia de que somos limitados e infelizes, para a compreensão de que somos por natureza felizes e completos. A esta compreensão chamamos Mokṣa e para que tal aconteça é necessário o estudo do autoconhecimento. O corpo é o meio físico onde o Ser ou Ātma é reflectido, e quando o Yogi sério pratica tem isso presente. Daqui surge a não identificação com toda e qualquer experiência, inclusive a experiência do corpo, da energia das emoções e do pensamento. O yogi percebe-se a si mesmo como um ser livre de atributos, como pura consciência – Sākṣi Puruṣa.
O yoga terá com certeza o melhor dos futuros pois está de acordo com o Dharma. Existirão sempre homens e mulheres sábias e santas que perpetuarão a tradição do yoga, proporcionando a toda a humanidade a preservação de tão valioso e raro conhecimento.
É bom que os yogis desta era possam usar os meios de informação para permitir a saudável disseminação deste corpo de conhecimento, desta ciência de vida e liberdade! Desejo que todas as pessoas nesta ou noutras vidas possam beneficiar com o yoga e que possam perceber a verdade última, que possam verdadeiramente ser livres! Para que tal possa acontecer é necessário que os todos os professores ajustem e adaptem o ensino deste Darshana às sociedades ocidentais, descodificando-o e simplificando-o ao máximo. Com simplicidade e sem perder a essência do ensinamento manter-se-á este Sampradāya, esta tradição de ensino.
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Considero-me com a sorte de ter encontrado excelentes professores, tais como Miguel Homem, Pedro Kupfer, Glória Arieira e Svāmi Dayānanda Sarasvatī, que mantêm a tradição viva e saudável, muito obrigado a todos eles.
Em suma, resta referir que o yoga não é um desporto, um negócio ou uma actividade de lazer e que não deverá ser usado como tal. Respeitando a tradição respeitamos o Yoga, aprendendo a tradição aprendemos o yoga, respeitando o yoga respeitamos a tradição, aprendendo o yoga aprendemos a tradição.
por: Paulo Vieira
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