Existem alturas do ano em que apetece mesmo multiplicar plantas. Uma das técnicas mais simples para o fazer de um modo descomplicado em nossas casas, é recorrer à estacaria, um método de multiplicação das plantas usado desde há muitos anos e cuja principal característica é a obtenção de uma planta geneticamente idêntica à planta-mãe. A estacaria consiste em provocar o enraizamento de partes destacadas dessa mesma planta.
Estas partes, consoante a natureza do órgão destacado, podem classificar-se em estacas radiculares, caulinares ou foliares. Em relação à consistência, as estacas classificam-se como herbáceas (tenrinhas), semi-lenhosas ou lenhosas. Neste artigo vamos apenas referir as estacas caulinares herbáceas e semi-lenhosas. Estas, por sua vez podem ser terminais quando incluem o ápice ou intermédias se não incluem o ápice, também conhecido como gema terminal.
Se pretendermos fazer estacarias como começamos?
Primeiro, temos de conhecer a planta que queremos multiplicar, ler sobre essa planta e averiguar se é possível multiplicar por estaca. Consultar a revista Jardins, procurar em livros especializados ou pesquisar na internet são boas formas de o fazer. Em segundo lugar, é preciso escolher a planta mãe donde vamos retirar a estaca e verificar se se encontra isenta de pragas e doenças.
Também devemos evitar partes da planta que estejam em flor, pois irá reduzir bastante a probabilidade de termos sucesso. Retiramos então a estaca com recurso a material de corte bem afiado e devidamente desinfetado. A preparação da estaca implica a remoção das folhas dos nós que vão ficar enterrados e onde queremos que ocorra enraizamento.
Que porção da estaca fica dentro do substrato de enraizamento e que porção fica de fora?
As estacas podem conter nenhum ou vários nós. Estacas sem nós são, por exemplo, estacas herbáceas de petúnia ou amor-perfeito. Mas o mais habitual em nossas casas é fazermos estacas com um ou mais nós. Nesta última situação, devemos preparar as estacas de modo que o número de nós que vai ficar enterrado para enraizar seja maior do que o número de nós que fica de fora para constituir a parte aérea da futura planta.
No caso de estacas com muitos nós, também podemos seguir a regra de colocar dois terços da estaca dentro do substrato e um terço de fora. Assim, por exemplo, se temos uma estaca de roseira com um total de sete nós, devemos preparar essa estaca de modo a que fiquem enterrados, no mínimo, quatro nós.
Depois de retiradas as folhas dos nós que vão ficar enterrados, devemos proceder ao corte de pelo menos metade da área folear das folhas que ficam, com o objetivo de reduzir a transpiração, pois como a estaca não tem ainda raízes vai ter dificuldade em absorver água para alimentar as folhinhas que ficam. Se tivermos à disposição hormona de enraizamento, podemos aplicá-la, de acordo com as instruções do fabricante, por forma a acelerar o processo de formação de raízes.
Veja na página seguinte: Onde colocar as estacarias e qual o substrato a utilizar
Qual o substrato a utilizar?
Existem no mercado substratos próprios para sementeiras e estacarias. O importante é que seja um substrato isento de doenças, com uma granulometria fina para que aconchegue bem a estaca e permita que esta esteja sempre húmida, mas não encharcada. Antigamente, era usual usar caixas com areia fina que tinha de estar sempre humedecida.
Onde colocar as estacarias?
É importante que o local onde colocamos as estacas a enraizar tenha bastante luz mas não apanhe sol direto. Deve estar protegido do vento, pois este desseca as estacas jovens. A temperatura deve ser amena (entre 15º C e 22º C) e adequada à espécie que estamos a multiplicar, o calor excessivo ou muito frio não favorecem o enraizamento.
Quanto tempo demora o processo?
O tempo que as plantas demoram a enraizar varia de espécie para espécie e de acordo com as condições ambientais que lhes damos mas, de um modo geral, podemos dizer que, num prazo entre um mês e meio a três meses, o enraizamento garante a independência da nova planta e podemos proceder à sua plantação em vaso ou local definitivo.
Há aqui um pormenor importante. Nas plantas que tenham medula fraca ou tenham o caule oco, deve cortar-se a estaca imediatamente abaixo do nó, pois se ficar uma porção grande de entrenó a humidade entra para o caule e pode apodrecer a estaca. São exemplo desta situação as roseiras, a lúcia-lima, as hidrângeas (hortênsias), entre outras espécies botânicas.
Texto: José Pedro Fernandes (engenheiro florestal)
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