Escócia, Saint Andrews, num ano destes. Dez dias gloriosos de sol ininterrupto, uma coisa rara e nunca vista por estas bandas, depois de um dos invernos mais agrestes de sempre, que levou as neves até ao mês de março. Os escoceses parecem não se importar. Basta um raiozinho de sol para saírem à rua as sandálias, os shorts, as t-shirts de manga curta. Os pubs transbordam para os passeios e as esplanadas crescem como cogumelos.
Só eu ando de botas e blusão porque, para mim, 12º C de temperatura máxima, com ou sem sol, é inverno. Mas a verdade é que esta Escócia, limpa, arrumada, de terra fértil e vegetação generosa, nos põe em paz com nós próprios e o mundo. É um spa mental. Fui visitar os Cambo Gardens, propriedade da família Eskine desde 1688, tendo a casa original sucumbido a um incêndio e sido totalmente reconstruída em 1880.
Em termos britânicos, é uma casa recente mas, apesar disso, muito difícil de manter, já que conta com o intimidante número de 100 quartos. Os atuais proprietários, Lady Catherine e Sir Peter Eskine, puxaram pela imaginação e, em vez de aguardar subsídios, inventaram formas para atrair visitantes, gerar fundos e conseguir assim manter o estate no nível de dignidade a que estava habituado.
As muitas atrações dos jardins
As alterações introduzidas permitiram manter um nível muito mais em linha com o de um passado mais próspero. Os Cambo Gardens têm inúmeros atrativos para uma visita e são um dos passeios mais bonitos por terras escocesas. Catherine Eskine é uma jardineira emérita e conseguiu lá estabelecer a maior coleção nacional de galanthus. No mês de fevereiro, a principal atração desta agreste área de Fife é o «Snowdrop Spectacular».
Um espetáculo de som e luz noturno que oferece ao público a possibilidade de admirar a coleção em condições completamente diferentes do habitual. Como ter visitantes durante o mês de fevereiro não constituía uma receita suficiente, a responsável alargou os atrativos do jardim a um festival de túlipas na primavera e a um festival de rosas no verão. No outono, o jardim é sobretudo admirado pelas suas herbáceas.
Há apenas dois jardineiros permanentes para cuidar das muitas variedades botânicas existentes no jardim e toda a manutenção da propriedade, denominada Cambo House & Estate e localizada em Kingsbarns, é conseguida por voluntários vindos dos quatro cantos do mundo. Uma prática que outros espaços semelhantes noutras zonas do mundo também têm vindo a adotar nas últimas décadas.
Veja na página seguinte: As condições que fazem toda a diferença
O festival de tulipas tinha, naquele ano em que o visitei, cerca de 6.500 bolbos plantados. Amarelas, roxas, cor de laranja, encarnadas e até pretas, só vi tulipas em tal profusão quando visitei o Keukenhof, na Holanda. Mas os Cambo Gardens têm também uma magnífica zona de floresta, onde impecáveis caminhos bem cobertos de mulch proporcionam um passeio fácil de caminhar e magnífico de ver.
É também lá que se encontra outra das atrações, uma família de porcos. Todos com nome próprio e tratados como animais de estimação, que se encarregam de comer os rizomas de uma hera invasiva que ataca os bolbos dos galanthus. Além de uma boa sinalização, a propriedade dispõe de um salão de chá e de vários espaços para alojamento, incluindo um bed and breakfast, apartamentos e chalés.
A venda de plantas, sobretudo dos bolbos dos famosos galanthus, assim como uma loja bem equipada, com merchandising baseado na imagem das pequenas florinhas brancas, completam uma estratégia inteligente para sobreviver nos dias de hoje com uma propriedade sobredimensionada e sem agricultura. A recompensa são 25.000 visitas anuais com entradas a cerca de 6 €. Rule, Britannia!
Texto: Vera Nobre da Costa
Comentários