O fascínio pela advocacia

Foi no verão de 2018 que Kim Kardashian tomou uma decisão que viria a mudar a sua vida: enveredar pelo mundo da advocacia. No ano seguinte falou pela primeira vez publicamente sobre o seu sonho de se tornar advogada numa entrevista à revista Vogue. Mas qual a sua área de interesse? O sistema da justiça criminal e reforma prisional.

"Quando fui à Casa Branca e quando aprendi sobre o sistema [judicial] e o que se está a passar, fiquei honestamente surpreendida. Não fazia ideia das falhas do sistema judicial e percebi que se soubesse mais sobre o assunto podia fazer algo para ajudar. É o tipo de pessoa que sou. Isto veio dominar a minha vida", disse, em 2019, em entrevista ao programa da CNN ‘The Van Jones Show’. Curiosamente, o advogado e comentador político da estação televisiva foi uma das primeiras pessoas a reconhecer o seu potencial como advogada e a apoiá-la neste novo capítulo da sua vida.

Mas desengane-se quem pensa que o interesse pelo mundo da advocacia é algo recentemente. Filha do advogado Robert Kardashian, cuja trajetória ficou marcada por ter defendido O. J. Simpson, a advocacia é algo que lhe está no sangue. Questionada sobre o motivo pelo qual decidiu enveredar pela área de justiça social, a estrela explica que "a paixão do meu pai em fazer a coisa certa" foi determinante para si. "Ele queria sempre ajudar as pessoas e fiquei sempre intrigada. […] É algo que está em mim, que adoro fazer."

A formação não tradicional como advogada

Apesar de ter estudado Comunicação na Faculdade, a verdade é que a estrela pode tornar-se advogada sem ter frequentado o curso de Direito. À semelhança de outros três estados norte-americanos, a Califórnia, onde Kim Kardashian reside, não exige uma licenciatura para exercer a profissão.

"Se estiverem a fazer advocacia da mesma forma que eu, é um programa de quatro anos em vez dos habituais três, e após o primeiro ano, é obrigatório fazer o baby bar. Disseram-me que este é efetivamente mais difícil do que o exame oficial", disse durante o reality show "Keeping Up with the Kardashians" sobre esta nova etapa da sua vida.

Em vez de frequentar uma instituição de ensino, a estrela está a ser acompanhada por duas advogadas experientes - Jessica Jackson e Erin Haney - que estão a dar-lhe formação na área da justiça criminal. Enquanto mentoras da estrela de televisão, o seu papel é supervisionar as 18 horas obrigatórias de estudo que deve ter semanalmente.

"No primeiro ano de advocacia abrange três disciplinas: lei criminal, torts e contratos. Para mim, torts é o mais confuso, contratos o mais aborrecido e lei criminal faço de olhos fechados. Fiz o meu primeiro teste e tive 100%. É muito fácil para mim. A leitura é o que me chateia. Tira-me muito tempo", explicou à Vogue sobre o seu plano de estudos, em abril de 2019.

Apesar da sua determinação, o caminho para se tornar advogada não tem corrido sobre rodas. Recorde-se que em agosto de 2020 a estrela chumbou pela segunda vez no baby bar, um exame que determina a sua passagem para o segundo ano de advocacia.

O papel de ativista e as suas conquistas no mundo da reforma criminal

Após ter conhecimento do caso de Alice Marie Johnson, condenada a prisão perpétua por um crime não violento, em 2018 Kim Kardashian decidiu usar a sua influência e exposição mediática para conseguir levar o seu caso à Casa Branca e pedir clemência a Donald Trump. A reunião com o antigo Presidente dos Estados Unidos deu frutos, terminando com a libertação da ex-reclusa.

"A primeira vez que ouvi falar no caso da Alice foi atráves do Twitter. Alguém que eu sigo republicou uma história sobre ela. E eu senti no fundo da minha alma que era a minha responsabilidade educar outras pessoas sobre o que estava a aprender. Não sabia nada sobre o sistema judicial, apenas sei aquilo que é justo e o que não é", disse durante o documentário “Kim Kardashian West: The Justice Project” sobre este caso.

Em conjunto com a sua equipa de advogados e a organização #cut50, especializada em reforma da justiça criminal, tem analisado a correspondência que recebe de reclusos em busca de clemência. Desde 2018 que já conseguiu a libertação de diversas pessoas.

"Cada caso é diferente. Normalmente é um sentimento. Há alturas em que quero ajudar mas sei que não há nada que posso fazer mas ainda assim escrevo-lhes de volta e tento transmitir-lhes alguma paz e agradeço por me terem enviado uma carta. Tento ajudar o máximo de pessoas que consigo e às vezes somos bem-sucedidos e outras não", disse, em 2020, numa conversa com Van Jones para a Vanity Fair e que em diversas ocasiões elogiou a dedicação e empenho da estrela televisiva a esta causa. Mas as palavras de incentivo não foram vistas com bons olhos por muitas pessoas, que criticaram o comentador político por este estar a "roubar o mérito dos ativistas afroamericanos que trabalham há décadas nesta problemática", tal como explicou à Vogue, em abril de 2019.

"Em primeiro lugar, eu sou um deles [ativistas afroamericanos]. Mas eu estava na Sala Oval com a Kim e a Ivanka e o Jared e o Presidente, e vi com os meus próprios olhos Trump confessar ter muito receio em libertar alguém da prisão e essa pessoa fazer algo terrível, e o impacto que isso poderia ter no seu panorama político. Ele estava visivelmente nervoso em relação a isso. E eu vi a Kim Kardashian dar início à intervenção mais eficaz, emocionalmente inteligente que eu já vi na política americana", afirmou.

O sonho de abrir a sua firma de advogados

Esta sua jornada pelo mundo da reforma da justiça criminal foi alvo de um especial, intitulado "Kim Kardashian West: The Justice Project", produzido pelo canal Oxygen e que foi emitido nos Estados Unidos em 2020.

"Quis fazer este projeto como forma de seguir o meu trajeto e de como comecei após o caso da Alice Johnson. Sempre pensei que a podia apoiar porque não havia violência envolvida. Não sei se seria capaz de apoiar algum caso que envolvesse violência mas depois comecei a educar-me. Comecei a ir prisões e a falar com imensos reclusos que partilharam as suas histórias comigo e fiquei de coração partido… Havia histórias de pessoas com 14, 15 anos que cometeram crimes hediondos, mataram outra pessoa, mas nós nunca ouvimos o contexto em que isto aconteceu. Agora, quando estão na casa dos 30 e 40, e se aperceberam que passaram metade das suas vidas a reabilitarem-se pensei ‘Claro que estas pessoas merecem uma segunda oportunidade.’ […] Eu queria que os espectadores percebessem que deviam sentir mais empatia pelas pessoas que estiveram presas porque não sabemos a sua história. […] Eu quis ser a sua voz e dizer às pessoas que existem sempre dois lados da mesma história", disse ao programa The View sobre aquilo que a motivou a filmar este projeto.

Numa entrevista exclusiva à Reuteurs, Kim Kardashian falou sobre as suas ambições futuras, dizendo que um dos seus sonhos é abrir uma firma de advocacia composta por antigos reclusos. "Algumas das pessoas mais inteligentes que conheci, pessoas que conhecem bem a lei, são pessoas que estão presas", disse à agência noticiosa em outubro de 2019.

A estrela também vai lançar um podcast sobre reforma da justiça criminal que contará com a participação da produtora Lori Rothschild Ansaldi. Apesar de a notícia ter sido confirmada pela CNN Business em 2020, até ao momento não há novidades sobre o nome deste exclusivo do Spotify e da sua data de lançamento.