A paixão pela joalharia começou na infância, mas, anos mais tarde, acabou por se tornar num negócio quando se mudou para o estrangeiro, mais concretamente para Inglaterra e Espanha. Lembra-se da primeira peça que desenhou e criou?

Embora fazer peças tenha sido algo que me acompanhou desde que me lembro de existir, consigo recordar perfeitamente qual foi a primeira peça que fiz. Era uma pulseira de missangas para a minha irmã vender na praia. Nessa altura eu fazia e a minha irmã mais nova tratava das vendas.

Vivia em Valência quando desenhou o seu primeiro toucado que, curiosamente, foi vendido no dia do enlace do Príncipe William com Kate Middleton. Sente que esse foi um momento de viragem na sua carreira?

Foi sem dúvida um momento que me ficou marcado e que, por isso, me lembro sempre. Acredito que tenha sido um ponto de viragem no mindset das clientes porque o casamento de William e Kate foi muito visto e vivido por toda a gente. Este gosto e interesse pelas headpieces acabou por ir crescendo como consequência.

A Cata Vassalo nasceu em Inglaterra. Eu vivia lá, mas criava peças essencialmente para clientes portuguesas

Antes de se mudar para Portugal, em 2015, funda a Cata Vassalo: uma marca de joalharia slow fashion para convidadas e noivas. O que a torna tão especial?

A Cata Vassalo nasceu em Inglaterra. Eu vivia lá, mas criava peças essencialmente para clientes portuguesas. Comecei a perceber que o grosso das minhas clientes era do meu país e que era com elas que mais me identificava. Quando regressei definitivamente a Portugal, continuei a trabalhar na marca e a ter a possibilidade de estar fisicamente mais próxima das pessoas que me procuravam.

Foi a partir dessa altura que decidiu começar a desenhar headpieces e toucados especificamente para noivas?

Não, já os criava em Espanha e depois em Inglaterra, mas foi aí que comecei a conseguir estar mais perto das clientes portuguesas, a conhecê-las pessoalmente e a estabelecer mais relações de networking com outros players na indústria dos casamentos.

Eu crio peças que façam as pessoas sentirem-se únicas e especiais

Crowns é o nome da coleção de noivas deste ano onde podemos encontrar toucados, coroas, tiaras, bandoletes ou chapéus. O que mais a fascina neste universo nupcial?

Curiosamente, nos últimos tempos, tenho ouvido muitas pessoas que admiro e com quem tenho a honra de trabalhar no desfile Utopia, dizerem que quando usam uma peça Cata Vassalo - seja uma headpiece, sejam uns brincos grandes ou um top - se sentem mais elas, mais mulheres, mais corajosas, mais fortes, mais “empoderadas”. Esta última palavra tem sido muito repetida no final para resumir todas as sensações que descrevem e que nos enchem de orgulho. Acredito que as nossas noivas sentem exatamente o mesmo e é isso que mais me fascina em todos os universos com que trabalho. Eu crio peças que façam as pessoas sentirem-se assim: únicas e especiais. Adoro saber que estas refletem as suas identidades, mas que as fazem sentir ainda mais empoderadas.

Mais tarde expandiu a marca através da criação de brincos, anéis e pulseiras. Sentiu que esse era o complemento perfeito para o seu portfólio de produtos?

Sem dúvida. Na Cata Vassalo queremos fazer peças que empoderem as pessoas que as usam. Nada é mais gratificante e fascinante que isso. Para nós, toda a gente tem uma coroa e adoramos que essa coroa possa assumir diferentes formas e formatos, mas queremos que transmita sempre o poder simbólico que uma coroa tem de distinguir alguém como especial.

Por norma lança três coleções anuais: uma coleção de headpieces, uma coleção dedicada aos acessórios e a coleção Utopia. Onde encontra inspiração para cada uma delas?

Todos os anos, lançamos uma coleção de headpieces com vários spin-offs ao longo do ano. Como fazemos peças únicas, queremos que existam sempre muitas evoluções e variações dentro da coleção anual. Também tentamos lançar anualmente uma coleção de cada tipo de peça como brincos, anéis, pulseiras, malinhas e chokers. Por fim, temos uma coleção permanente de peças únicas mais statement a que chamamos Utopia. Inclui peças que se podiam encaixar em cada umas das outras coleções, mas que são mais irreverentes. Demos-lhe o mesmo nome que o nosso desfile porque partilham a mesma linha estética. São essas “coroas” que podem assumir diferentes formas e formatos: de brincões, a tiaras, passando por saias, tops, pulseiras de mão e braço, entre muitas outras peças. É aqui que sentimos que não existem limites para a criatividade e isso é muito motivador. Inspiro-me em tudo. Nas pessoas, nas formas orgânicas da natureza, na música, noutras artes, em livros, em viagens, em texturas, na combinação de técnicas ou materiais… Tudo me fascina e inspira.

Todas as suas peças são feitas manualmente no seu atelier. De que forma é que a sustentabilidade está presente na marca Cata Vassalo?

Nunca desperdiçamos nada. Estamos sempre a dar novas vidas às peças que criamos. Uns brincos, de repente, podem ser incorporados numa headpiece, uma pulseira pode tornar-se parte de uma manga de um casaco… Tudo é reaproveitado. Não existem excedentes, nunca temos sobras de tecido que são desperdiçadas e isso estimula muito a nossa imaginação. Também é algo que comunicamos muito às nossas clientes: tragam-nos peças de família e nós damos-lhes uma nova vida. Temos muitas noivas que nos trazem joias antigas para serem parte das suas coroas. Na Cata Vassalo nunca existe desperdício.

[Na coleção Utopia] sentimos que não existem limites para a criatividade e isso é muito motivador

Que tipo de materiais privilegia na confeção das suas peças?

Todos. Usamos muito o latão banhado a ouro e isso é algo que nos distingue enquanto marca, mas o nosso atelier é um verdadeiro universo de materiais: tecidos, botões, joias, pérolas, cristais, pedras, flores… Este nosso “mundo” também faz com que tenhamos sempre tudo o que precisamos para criar, evoluir, combinar técnicas e materiais e, por isso, ser sempre muito criativa nas abordagens. Tento garantir que temos sempre todas estas condições para evoluirmos e crescermos enquanto pessoas e marca.

Outro aspeto diferenciador da sua marca é a vertente tailor-made, onde cria peças de joalharia e roupa bordada feita por medida. Qual a parte mais desafiante deste segmento?

Quem nos procura, confia no nosso gosto e conhece bem a nossa estética, nesse sentido, é muito fácil a fluidez da conceção e criação de uma peça tailor-made. Percebemos bem quem está do outro lado e representamo-la a partir desta linha Cata Vassalo. O mais complicado, por vezes, é comunicar que tailor-made e personalização não se tratam nem de uma cópia nem de uma reprodução de um desenho. Nós, nos nossos valores e princípios de trabalho, temos muito claro que não fazemos cópias nem executamos designs. Somos uma marca que cria a partir da sua estética e cujo trabalho é todo manual, combinando diferentes artes e que, por isso, demora tempo e exige uma dedicação minuciosa. Somos sempre muito transparentes para que, quem nos procura, saiba exatamente o que vai encontrar deste lado: dedicação máxima e atenção ao detalhe. Pomos tudo o que somos em cada peça.

Como se desenrola este processo criativo? Consegue captar a essência da pessoa e aquilo que pretende à primeira?

Como me inspiro muito em tudo, as pessoas são sempre um grande poço de inspiração. Não existe ninguém igual a ninguém e eu sou muito detalhista. Reparo em todos os pormenores sobre alguém, neste sentido, consigo ter uma leitura global de quem está do outro lado. As pessoas são muito transparentes e há pequenos gestos que me dizem muito: o brilho nos olhos, as referências, a postura corporal, as palavras, mas também o motivo que as traz até nós e que pode ser o evento em' si ou apenas o output que procuram emocionalmente ao usar a peça. Tudo isto contribui para que a imagem da peça se vá formando na minha cabeça.

Temos muitas noivas que nos trazem joias antigas para serem parte das suas coroas

Porque motivo decidiu apostar no design de vestuário?

Procuro sempre formas de fazer com que as pessoas se sintam especiais e únicas - porque o são. Há dias em que usar a nossa t-shirt preferida é suficiente, há outros em que precisamos de uns brincos maiores e outros em que queremos marcar um statement com uma headpiece. A roupa é uma consequência desta abordagem. A Cata Vassalo quer, como me têm dito, que as pessoas se sintam empoderadas ao usar as nossas peças. Isso é o que nos move. O formato é apenas uma consequência.

A criação de vestidos de noiva está nos seus planos?

Nunca dizemos que não a um desafio. Não é uma meta, mas tudo o que fazemos tem como objetivo empoderar alguém e fazer com que se sinta especial. Quem nos procura é que vai definir sempre o tipo de peça que precisa. Nós estamos aqui para realizar esse sonho.

Atualmente é conhecida como a joalheira das noivas. O que é que este título significa para si?

É uma motivação muito forte para continuar a evoluir enquanto designer e marca. Saber que estamos a fazer um caminho, e que isso tem impacto e é reconhecido, é sempre o mais recompensador.

Cada vez mais gostamos de criar peças para pessoas, independentemente de todos os labels e rótulos

Em abril, lançou a “Hand Full of Rings" a sua primeira coleção de joias sem género. Este é um segmento que gostava de explorar no futuro?

Sem dúvida. Cada vez mais gostamos de criar peças para pessoas, independentemente de todos os labels e rótulos. Queremos criar peças que deem empowerment a quem as usa. Fazer as tais “coroas” que falamos e que podem ser usadas por mulheres, por homens, numa festa, num casamento, num dia de trabalho, numa manhã cinzenta ou num fim-de-tarde com amigos. O importante é a atitude de quem usa e o empowerment que a peça lhe oferece.

Recentemente aventurou-se na confeção de peças com metais e pedras preciosas. A vertente de alta joalharia é algo que a atrai?

Neste momento, focamo-nos muito no latão e nas pedras semipreciosas. Gostamos muito de fazer peças marcantes e statement, mas que possam ser usadas por diferentes pessoas. Pomos o design, a atenção ao detalhe, a minuciosidade e a dedicação da alta joalharia, mas em materiais que nos dão liberdade para criar sempre mais e diferente. Os materiais para nós são apenas um ponto de partida para uma peça e não definem o seu poder nem o seu statement.