A paixão pela televisão vem desde cedo. Cláudio Ramos queria ser um comunicador e provar que o facto de viver longe de Lisboa, em Vila Boim, no Alentejo, não era impedimento para viver o sonho. Com atitude, insistência e perseverança conseguiu uma oportunidade que agarra até hoje. Atualmente, trabalha 17 horas por dia e é com orgulho que, como resultado do seu esforço, se intitula a pessoa que mudou a maneira de fazer social em Portugal.
Foi com a mesma espontaneidade e sinceridade com que o vemos no 'Passadeira Vermelha, em 'Contra Capa', ambos da SIC Caras, ou como 'vizinho' de Cristina Ferreira no 'Programa da Cristina', da SIC, que Cláudio Ramos aceitou responder às perguntas do Notícias ao Minuto.
Da infância à relação difícil com o padrasto, passando pelo casamento, a paixão pela filha e a forma como encara a sua profissão, nada ficou por responder.
A paixão pela televisão vem desde cedo. Na época em que iniciou o seu percurso televisivo, o Cláudio queria ser conhecido ou queria apenas ver o seu talento reconhecido?
Queria ser um comunicador. Queria que se entendesse que viver fora de Lisboa não era impeditivo de se chegar onde os sonhos nos levam. Estamos a falar de há quase 20 anos e nessa altura nada era como hoje. Todos queremos ver o nosso trabalho reconhecido. Quem diz que não, está a mentir!
Sou dos que faz televisão por paixão a quem a vê. Não pela paixão de me rever dentro dela
Tal como já referiu em diversas entrevistas, o Cláudio teve uma infância de alguma pobreza, marcada até por episódios de violência. Nessa altura, a televisão era uma forma de sonhar com um futuro melhor?
Passei por dificuldades num espaço de tempo que atingiu a minha família. Nada que me tenha feito mal, porque acho que me ajudou a crescer. Torno tudo em coisas positivas. Sendo muito rico ou muito pobre, o meu caminho passaria sempre pela televisão. Sou dos que faz televisão por paixão a quem a vê. Não pela paixão de me rever dentro dela.
Qual a maior loucura que fez para conseguir chegar ao lugar onde está hoje (na televisão)?
Trabalho. Nos dias que correm, trabalhar 17 horas por dia é uma loucura... e nem todos podem dizer que o fazem. Ou porque não podem, ou porque acham que não vale a pena. O trabalho continua a ser a melhor arma. O trabalho e a persistência de acreditar que se é capaz. Acreditar sempre!
Está tudo mais do que perdoado. Os pais fazem pelos filhos o que acham melhor e podem. Podemos não concordar, e eu não concordei com muitas coisas
A primeira grande vitória no seu percurso televisivo, qual foi?
Talvez tenha sido a coragem que tive de entregar uma cassete em VHS ao Dr. Emídio Rangel e dizer-lhe por escrito: 'Veja. Sou a pessoa ideal para este lugar'. Dois dias depois, fui chamado. Daí para a frente nunca mais parei e tudo foram vitórias somadas. Umas mais fortes do que outras, mas são vitórias.
Já conseguiu perdoar o seu padrasto?
Não tive 'padrasto'. Tive pai, porque foi a pessoa que me educou, é o pai dos meus irmãos, e é o seu nome que tenho na minha certidão de nascimento. Está tudo mais do que perdoado. Os pais fazem pelos filhos o que acham melhor e podem. Podemos não concordar, e eu não concordei com muitas coisas. Quando cresci, fiz 16 anos e saí de casa. Fiz aquilo que deveria ter feito porque entendi que o meu caminho não era aquele.
A minha filha liga coisa nenhuma ao que se diz ou escreve sobre o pai
Continua a não ter curiosidade em conhecer o seu pai biológico?
Nenhuma curiosidade.
O que há de inquebrável na relação com a sua filha?
O amor. É impossível que o amor de pai e filha seja quebrado. E a confiança que temos um no outro. Aconteça o que acontecer.
De que forma é que a sua filha lida com os comentários menos positivos que, pelo facto de ser uma figura pública, ouve sobre si?
A minha filha liga coisa nenhuma ao que se diz ou escreve sobre o pai. A Leonor vive no Alentejo, cresceu nesta 'normalidade' e está muito protegida. Tem no pai o maior orgulho. Para ela, o pai pode ser apresentador de televisão como poderia trabalhar no campo na apanha da azeitona que o orgulho seria o mesmo. Foi essa a educação que a Leonor recebeu.
Chegou a sofrer bullying na adolescência por ser um rapaz e adolescente diferente?
Nunca sofri bullying na minha vida. Nunca! No limite dos limites vivi com os problemas que vivem todas as crianças que são de qualquer forma diferentes dos padrões da maioria a que chamam 'normalidade'. Não se deve usar a palavra neste contexto. É uma coisa muito séria de que miúdos sofrem agora, eu nunca permiti que isso a mim me atingisse.
Ajudei muito a muita, muita gente, mas aquela maneira de 'amar' era uma. Não me identifico hoje com ela, mas não lhe tira a veracidade da altura
O Cláudio foi casado com uma mulher e teve uma filha. O seu casamento surgiu da necessidade de, naquela época, provar às pessoas que não era homossexual?
Não tive nunca necessidade de provar nada a ninguém. Casei muito apaixonado e convencido de que era para a vida toda, senão não o teria feito. Eu preocupo-me muito pouco com o que pensam de mim
Assumir a sua homossexualidade publicamente trouxe-lhe compreensão por parte dos fãs?
Acho que 'assumir' publicamente apenas fez com que as pessoas ouvissem da minha boca o que queriam ouvir. Não mudou nada em mim, nem mudou nada na relação que tenho com os outros. Nem eu permitia que da minha orientação sexual dependesse a minha relação com as pessoas. Quem gosta do meu trabalho gosta do meu trabalho, para lá de com quem namoro.
Na sua entrevista ao programa ‘Alta Definição’ afirmou que não voltaria a acreditar no amor. Passados todos estes anos, ainda pensa da mesma forma?
As pessoas mudam, eu sou dos que vive o momento e não retiro uma vírgula ao que disse na altura, e que todos os dias me chega reproduzido por alguém de várias maneiras. Ajudei muito a muita, muita gente, mas aquela maneira de 'amar' era uma. Não me identifico hoje com ela, mas não lhe tira a veracidade da altura.
É disparatado dezenas de famosos e famosos criticarem a imprensa quando sem ela nem saberíamos que existem
Já voltou a amar?
Amei sempre de várias maneiras. Nunca se ama da mesma maneira.
Referiu publicamente que tem um problema de saúde que lhe afeta o coração. Esse problema aumentou o seu medo da morte?
Tenho há mais de dez anos um problema que me foi diagnosticado que tem a ver com a fibrilhação auricular. Há quase dois anos fiz uma operação e está tudo a correr lindamente. O medo que tenho da morte é o de deixar de estar com as pessoas de que gosto, de viver o que quero e de causar sofrimento às pessoas a quem faço falta.
Basicamente, fui eu quem mudou a maneira de fazer 'social' em televisão
Ainda recebe ameaças pelas coisas que diz enquanto comentador?
Nunca fui ameaçado... talvez tenha sido uma vez há mais de 15 anos. Liguei mais importância ao refogado que estaria a fazer na altura do que à ameaça que alguém me tentou fazer.
Na sua opinião, qual é o limite que a imprensa cor-de-rosa e os comentadores não devem passar quando o assunto é a vida privada de um famoso?
O da intimidade, que é uma coisa diferente da privacidade. Mas isso depende muito do mediático, porque o respeito é ganho a pulso e isto é um jogo onde só está quem quer. O problema é que de vez em quando se esquecem as regras de ambos os lados. Mas regra geral, a imprensa serve o mediático e o mediático serve a imprensa. Um precisa do outro e vice-versa. É disparatado dezenas de famosos e famosos criticarem a imprensa quando sem ela nem saberíamos que existem.
O que mudou nos últimos anos no mundo dos famosos e na crónica social?
Basicamente, fui eu quem mudou a maneira de fazer 'social' em televisão. Fi-lo nas 'Noites Marcianas', depois na 'Tertúlia cor de rosa', no 'Capa de revista' , no 'Jornal rosa', no 'Contra-capa' e no 'Passadeira Vermelha'. Basta olhar par estes formatos e perceber a evolução. Ver a evolução que imprimi nestes formatos sempre ao longo do tempo é perceber a cronologia do social e ver a evolução de como se faz bem 'social' em televisão. Fazer social bem feito é uma arte que nem todos conseguem dominar. Muitos querem, mas é mais que estar sentado a dar palpites sobre quem aparece nas revistas. Há que entender isso. O digital veio também mudar a maneira como mediaticos e imprensa lidam uns com os outros. A imprensa perdeu terreno para as redes sociais, mas o encanto do jornalismo de entretenimento mantém-se para muita gente.
Eu faço o que tenho que fazer, sempre que me sinta realizado. Rótulos é para gente pequenina de cabeça.
Ficou, praticamente desde o início do seu percurso televisivo, associado à crónica social sobre famosos. É um rótulo com o qual vive bem?
Lindamente. Porque sou o melhor a fazer.
Sente que esse rótulo o impede de fazer outro tipo de projetos?
De maneira nenhuma, senão não teria sido o apresentador escolhido para fazer as férias da Júlia Pinheiro e do Jota [João Paulo Rodrigues] nos últimos cinco anos, não teria apresentado especiais, e não teria com a Ana Marques e com o Jota assegurado o 'Queridas Manhãs' depois da saída da Júlia [Pinheiro]. E, seguramente, não teria sido escolhido par ser o 'Vizinho do lado' da Cristina. Faço o que tenho de fazer, sempre que me sinta realizado. Rótulos é para gente pequenina de cabeça.
Que outras vertentes gostaria de mostrar na televisão portuguesa?
Tudo o que seja comunicar com o prazer de chegar às pessoas. Vou fazendo a minha carreira, já de quase 20 anos, a tentar perceber o melhor caminho e aceitando os projetos que me aparecem dando-lhes o meu cunho. Estou ao serviço de uma estação, tenho a certeza de que a direcção confia no meu trabalho e sabe o que quero fazer.
Para mim, estar nesta mudança do paradigma televisivo em Portugal é estar na história da televisão
A ‘guerra’ pelas audiências está cada vez mais acesa entre as estações de televisão nacionais. A que se deve, na sua opinião, esta nova forma de ver o mercado televisivo?
Eu tenho a memória muito presente de revoluções televisivas e há mais de 16 anos que isto não acontecia. Aconteceram duas coisas muito importantes: a transferência da Cristina e a volta da liderança das manhãs à SIC, que não a tinha desde os tempos da Fátima Lopes. Deve-se a um conjunto de coisas, mas a mais importante é o produto. 'O Programa da Cristina' é um belíssimo formato que reinventou o daytime e o público reconheceu isso, senão tinha visto por curiosidade e não repetia a vontade de ver. Tudo o que se faça neste horário daqui para a frente já tem de ser muito bem pensado. Esta é a verdade. Não há um programa como este e a prova está aí, no conteúdo, nas reações, nas audiências, no formato... no que se comenta na rua, no que dizem os críticos. A televisão é feita para as pessoas que ali se sentem, literalmente, em casa. Na minha opinião, juntar tudo isto a uma estratégia que a estação tem definida leva a esta revolução que eu, como espectador, considero bem-vinda.
Tal como já referiu, é o ‘vizinho’ de Cristina Ferreira no seu novo programa - ‘O Programa da Cristina’. Como tem corrido esta experiência?
Muito bem. É o descobrir de uma outra faceta minha. Também aqui, depois de estar oito anos nas manhãs num registo diferente, tive de me reinventar e 'oferecer' mais e melhor. Gostei logo do projeto e do desafio. Para mim, estar nesta mudança do paradigma televisivo em Portugal é estar na história da televisão. Gosto muito disso!
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