Oito dias após a morte da mãe, eis que Manuel Luís Goucha abriu o coração através de um tocante vídeo que partilhou nas redes sociais e no qual recorda Maria de Lourdes Sousa, que morreu aos 101 anos.
"Sempre entendi que a dor é uma coisa muito íntima e que por isso mesmo não é partilhável. Esta foi a razão que levou a que nada publicasse durante a última semana sobre a partida da minha mãe", começa por dizer.
"Quero agradecer do coração as inúmeras, inúmeras mensagens de carinho que eu fui recebendo ao longo desta semana nas redes sociais", realça.
"Depois, porque estou muito grato à vida por me ter dado a minha mãe durante 69 anos, por me a ter emprestado durante tantos anos. Sinto-me um privilegiado por isso mesmo", adianta, notando que as memórias o têm consolado de certa maneira.
Entretanto, partilhou um pouco da biografia da mãe: "Estou a falar-vos de uma mulher que, aparentemente, não era uma mulher de afetos, não era uma mulher de toque, tal como eu não sou. Não era uma mulher de beijos, dava mas de modo fugidio.
Sempre procurei entendê-la. Estamos a falar de alguém que nasceu há 101 anos, em 1923, numa época situada entre duas grandes guerras mundiais.
Por outro lado a minha mãe era a filha mais nova de três irmãos (…) e já não havia conhecida o conforto que os seus irmãos mais velhos tinham experimentado. O meu avô Manuel já tinha estourado o património da família com mulheres e no jogo.
Era uma mulher que gostava muito de ler, sempre a vi rasgar a noite lendo romances, gostava muito de cinema (…), era ela que nos levava ao cinema a mim e ao meu irmão para vermos os desenhos animados, mas mais tarde foi com ele que fui ver o meu primeiro filme para nove anos", afirma, notando que o filme que viu foi 'My Fair Lady'.
"Foi durante toda a vida manicura. Começa aqui em Lisboa, onde aliás conhece o meu pai e depois largas décadas, já após a sua separação, ela é a manicura no salão mais elegante da cidade de Coimbra", relata, afirmando que o dinheiro sempre foi "muito importante para ela, porque assim não dependeria de homem algum".
"Nunca dependeu do meu pai, ainda que estivesse casada com ele pouquíssimos anos e tão pouco dependeu daquele que foi o seu segundo companheiro. Ela foi sempre independente face aos homens. A minha mãe era uma mulher rebelde e livre, lutando pelos seus direitos, num mundo em que as mulheres não tinham direito a tudo o que os homens tinham", garante.
"A minha mãe fez da vida aquilo que quis, foi sempre senhora da sua vida. Talvez a frase que eu mais escutei ao longo da sua vida tenha sido esta: 'ninguém manda em mim!'. E realmente ninguém mandava nela. Era indomável. Foi senhora da sua vida e senhora da sua morte, porque ela morre aos 101 anos, tal como queria, serenamente, na sua casa e na sua cama. Na casa em que viveu durante 60 anos", diz ainda.
No final do vídeo, que poderá ver de seguida, Manuel revela que a mãe lhe deixou uma carta, escrita a 8 de junho de 2003, depois de se ter sentido mal numa noite. A carta era secreta, uma vez que apenas o neto Filipe, filho do irmão de Goucha, sabia da sua existência.
Com a morte da avó, com quem tinha uma enorme cumplicidade, este decidiu ir em busca da carta para a entregar aos destinatário. Encontrou-a numa gaveta da cómoda de Maria de Lourdes Sousa.
Goucha decidiu partilhar o seu conteúdo, repleto de amor, com os fãs.
Ouça-a de seguida:
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