A designação perda perinatal comporta um conjunto de situações de perda que podem verificar-se ao longo da gestação ou após o parto, englobando o aborto espontâneo, a morte fetal (nado-morto), a morte neonatal, a interrupção médica da gravidez, a interrupção voluntária da gravidez e o diagnóstico de anomalias congénitas no feto/bebé (Public Health Agency of Canada, 2000).
Sabemos que esta perda tem um impacto significativo e duradouro, com repercussões psicológicas e sociais importantes que vão para além da vivência da mulher. Reflete-se, a nível individual, no aumento de sintomatologia ansiosa e depressiva e na diminuição da qualidade de vida física e psicológica, na deterioração da relação conjugal e da relação com a rede de apoio /social.
Não é só uma gravidez que não evoluiu. Não é só um coração que deixou de bater numa fase embrionária. Não é só feto que não se desenvolveu. São todas as expectativas e sonhos daquela mulher grávida que já vive como mãe muito antes da primeira ecografia. São todos os projetos daquele casal que já se sente como sendo pais muito antes de terem o seu bebé nos braços.
Naturalmente, este tipo de perdas dá origem a um processo de luto que, embora natural e esperado, é muitas vezes negligenciado. De facto, o luto por perda perinatal tem um desafio específico: a falta de espaço e a autorização da sociedade para expressar a dor. É um dos lutos mais complexos e com menos validação social.
É frequente estes pais depararem-se com profissionais de saúde ou com outras pessoas do seu meio que, ao tentarem suprimir o sofrimento associado ao tema da morte, contribuem para uma clara falta de empatia e aceitação social para sentir e viver a perda, o que representa um fator de risco para a elaboração do luto.
Assim, é comum que o luto por perda perinatal seja vivido em casa. Só. Em silêncio. Sem espaço para estar com todos os pensamentos e emoções que surgem de forma avassaladora.
Sem espaço para estar com a tristeza, o medo, a culpa, a raiva ou a frustração. Sem espaço para partilhar estas emoções desafiantes com o núcleo social próximo, que possa fornecer suporte emocional. Embora todas estas emoções sejam válidas. Embora todas estas emoções sejam necessárias para integrar a perda. Embora todas elas devam ter o seu espaço para serem sentidas e partilhadas.
Importa ajudar estes pais a encontrar um espaço, onde seja permitido sentir e expressar a sua dor, reorganizar os seus sentimentos e construir novos significados para aquela perda que tem tanto de invisível como de profunda.
Texto: Elisabete Bento - Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta/Consulta do Luto Pin Porto
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