O amor-próprio tem sido muito estudado pelo vasto impacto que pode ter nas várias esferas da vida da pessoa e nos indivíduos à sua volta. Prova disso são duas investigações, oriundas de instituições e continentes diferentes, que revelaram que o meio onde crescemos e a orientação sexual podem influenciar a forma como vemos o nosso corpo. A primeira, conduzida por investigadores da Universidade da Carolina do Norte, nos EUA, contou com a participação de 333 esudantes do ensino superior.

Esse estudo científico americano concluiu que, quando os pais falam mal da sua própria autoimagem e dizem que estão gordos, por exemplo, os filhos tendem a seguir-lhes os exemplos e, muito provavelmente, irão espelhar esse comportamento e discurso ao longo da vida. De acordo com esta pesquisa, isso traduz-se em maus hábitos alimentares, numa dissociação do funcionamento do seu organismo e numa incapacidade em apreciar o seu corpo. Os resultados foram divulgados pela publicação científica Appetite.

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A segunda, liderada por cientistas da Universidade de Mastrique, nos Países Baixos, em parceria com estudiosos da Universidade do Oeste da Inglaterra, no Reino Unido, procurou averiguar, numa amostra de 439 homens, se a orientação sexual de um indivíduo afeta o modo como se olha ao espelho. "Registou-se uma autoimagem inferior nas minorias sexuais que nos participantes heterossexuais", apuraram. De acordo com o estudo, essa situação deve-se à pressão mediática e à internalização de que os homens devem ter uma aparência atlética para serem aceites na sociedade. As conclusões foram publicadas na revista científica Body Image.

"Todos já o fizemos após uma rejeição. Pensar nos nossos defeitos, nas nossas falhas e naquilo que gostaríamos de ser ou de não ser e, depois, insultamo-nos. É interessante que o façamos, pois, se a nossa autoestima já está a sofrer, por que é que queremos continuar a magoá-la? Não iríamos piorar uma lesão física de propósito, mas fazemos isso com as nossas lesões emocionais, constantemente. Temos de identificar os nossos maus hábitos psicológicos e mudá-los", recomenda Guy Winch, psicólogo clínico.

"Há pouca coisa que podemos fazer para transformar a nossa imagem. E, apesar de superficial e (i)mutável, ela tem um grande impacto nas nossas vidas", sublinha também Cameron Russell, modelo. "Todos os meses, mais de 10.000 pessoas perguntam ao [motor de busca] Google se são feias. Temos que educar para a confiança na própria imagem corporal, dar estratégias aos adolescentes para lidarem com as pressões e aumentarem a sua autoestima", defende a coach motivacional Meaghan Ramsey.

“Quantas vezes aceitamos uma opinião, uma tendência, preconceitos e valores culturais, só para nos integrarmos num grupo?", questiona também Delali Bright, ativista. "Eu gostava que as minhas filhas nunca deixassem que essas influências manchassem a sua autoimagem", confidencia. Ainda que o problema tenha sido identificado, o caminho a percorrer ainda é longo. "Apenas 2% das mulheres é que se acham bonitas. Precisamos de redefinir a visão global de beleza", apela Ashley Graham, modelo plus-size.