Porque nos havemos de ralar quando uma relação acaba? Já alguma vez pensou nisso? Esta questão foi o mote para que Anouchka Grose, psicanalista, escrevesse o livro "Já não há canções de amor", publicado em Portugal pela editora Estrela Polar. Um livro sobre o amor, apesar de nunca ter pensado fazê-lo. A necessidade de compreender a natureza deste sentimento surgiu com o fim de uma relação e o sofrimento causado pela rutura.

Mas não pense que é apenas mais um livro sobre um dos temas mais tratados na literatura, no cinema e na música. A autora reuniu frases, poemas, canções, textos filosóficos, filmes, romances, mas também seguiu a ciência ou não fosse ela psicanalista. Por estas páginas passam, entre outros, os pensamentos de Freud, cujas ideias sobre os problemas do amor a autora considera tão boas quanto as letras de Leonard Cohen.

A relação conturbada de Richard Burton e Elizabeth Taylor, o amor trágico de Romeu e Julieta, as quatro visões do amor das personagens da série "Sexo e a cidade" e até a história de Ava, uma mulher como tantas outras que se apaixona sempre pela pessoa errada, também têm lugar nesta obra. Não sobressai apenas o lado positivo deste sentimento, que a ciência moderna diz ter sido essencial para a sobrevivência e a evolução da espécie.

Os altos e baixos intrínsecos ao amor

Em algumas ocasiões denota-se até um certo pessimismo, isto porque, segundo Anouchka Grose, o amor tal como tudo o resto, tem altos e baixos, no entanto, a autora defende que a maioria das pessoas ainda acredita nele. Por que razão o amor nos leva à loucura, o que fazer quando o nosso amor não é correspondido, como ser o parceiro certo e qual a relação entre o amor e o ódio são alguns dos temas debatidos ao longo dos capítulos.

A psicanalista aborda ainda a monogamia versus o poliamor, bem como a necessidade de alguns casais recorrerem ao swing e a diferença que existe ou não entre homens e mulheres. "O amor pode ser, muitas vezes, difícil. As pessoas podem matar-se ou fazer mal umas às outras ou aborrecer-se até à morte. Inicialmente, o livro pretendia questionar-nos sobre o que nos incomodava", afirmaria meses depois do lançamento.

"O amor é muito mais difícil do que sopa. Quando queremos fazer uma, juntamos diferentes ingredientes e, independentemente dos que usarmos, obtemos sempre sopa. No amor, é diferente. O que funciona com uns casais nem sempre funciona com os outros. Nem as recomendações mais básicas se aplicam a todos", sublinhou a psicanalista, que entretanto já publicou outros livros, em entrevista à revista 3:AM Magazine.

Texto: Rita Caetano com Luis Batista Gonçalves (edição digital)