Submeter-se a uma intervenção de estética não só deixou de ser um tema tabu, como se converteu numa dessas muitas actividades que se podem partilhar com o parceiro, reforçando assim os laços de união. Isto é, pelo menos, o que se depreende da última tendência norte-americana no campo da estética. Bisturi para ela e para ele... em simultâneo! Trata-se de um dado adicional que vem confirmar até que ponto a cirurgia e a medicina estética entranharam fundo na nossa sociedade.
Diz o ditado popular, «diz-me com quem andas dir-te-ei quem és». Pois bem, se atentarmos nos últimos dados fornecidos pelos cirurgiões plásticos norte-americanos, esta simbiose com a pessoa que está ao seu lado pode ir mais além e traduzir-se em atitudes tão próximas como exibir o mesmo nariz, rejuvenescer em uníssono através do botox ou superar ombro a ombro o período pós-operatório de uma abdominoplastia.
Na verdade, um relatório recente da American Academy of Facial Plastic and Reconstructive Surgery (AAFPRS) revelou que, de acordo com 47% dos cirurgiões norte-americanos consultados, o número de casais que se operam ao mesmo tempo aumentou de forma considerável nos últimos dois anos. Mas qual a razão que explica a tendência para a subida deste tipo de comportamento?
Os especialistas apontam para um eventual desejo oculto por parte dos homens de também melhorarem o seu aspecto físico, misturado com um maior entendimento homem-mulher. Para além disso, o facto de ambos se poderem apoiar mutuamente durante a intervenção também parece ter relevância.
Um novo conceito de reforma
Os cirurgiões norte-americanos também salientaram que a idade em que se realiza esta demanda conjunta se situa por volta dos 60 anos, e que os tratamentos mais desejados nestes casos são o botox para eliminar as rugas do terço superior do rosto, o lifting para um rejuvenescimento integral do rosto e a blefaroplastia (elevação das pálpebras e eliminação dos papos), uma intervenção relativamente simples com resultados surpreendentes.
Ao que parece, quando se goza de boa saúde, a idade da reforma pode ser um bom momento para se submeter a uma cirurgia de rejuvenescimento, já que se tem assegurada a tranquilidade necessária que requer uma intervenção deste tipo, assim como o tempo de repouso. Ambos os factores ajudam os pacientes a recomporem-se mais facilmente.
Por outro lado, também é muito comum nestas idades aproveitar o tempo livre de que se dispõe para realizar uma viagem com uma operação de estética incluída. Desta forma, os pacientes passam o pós-operatório sem medo de encontrar conhecidos e voltam a casa rejuvenescidos.
Veja na página seguinte: Cirurgia a dois em Portugal
Cirurgia a dois em Portugal
Estará esta tendência da cirurgia a dois a fazer eco também em Portugal? Em declarações num passado recente, o cirurgião plástico Ângelo Rebelo, diretor da Clínica Milénio, em Lisboa, não lhe reconhece o estatuto de tendência, mas fala com naturalidade na existência de vários casos. «Esta não é uma situação inovadora nem estranha. Há muito tempo que tenho familiares nas minhas consultas, incluindo casais, mães e filhas e até irmãos», refere.
«Não são os casos mais frequentes, mas praticam-se, não constituindo, porém, propriamente uma tendência», afirma o cirurgião. Quanto ao motivo que leva dois familiares a recorrer simultaneamente (ou em intervalos de tempo muito curtos) à cirurgia estética, Ângelo Rebelo refere um aspecto importante. «Alguns traços físicos têm um carácter genético, como é o caso das acumulações de gordura, celulite ou tipo de mama», esclarece.
«Por isso, é comum depois de um dos familiares se submeter à experiência com sucesso incentivar o outro», admite. Até porque, conforme sublinha, «a cirurgia estética não tem padrões de idade definidos. Nem a mãe deve achar que lá porque viveu toda a vida com um nariz torto já não vale a pena corrigi-lo, nem a filha deve estar à espera de uma suposta idade ideal para se operar, vivendo durante anos com problemas de autoestima», diz.
Diferença de idades também é comum
Por outro lado, no caso dos casais, há um elemento aglutinador a registar, sobretudo quando existem uma diferença de idades entre os cônjuges. «Existe cada vez mais uma preocupação com a imagem. Por isso, à medida que as mulheres vão retocando o seu aspecto, os maridos não querem ficar para trás, e vice-versa, sobretudo quando têm diferença de idades, para não criar um desfasamento muito grande em termos de imagem entre os dois», afirma.
Já no que diz respeito ao tipo de intervenções mais procuradas por estas duplas de pacientes, Ângelo Rebelo aponta várias. «As mulheres jovens procuram sobretudo o aumento da mama e a retirada de gordura», refere. «Os homens jovens querem retirar gordura da barriga e do peito e, nas faixas etárias de meia idade, em ambos os sexos, embora o corpo continue a ser uma preocupação, a eliminação das rugas, o lifting e a cirurgia das pálpebras são os procedimentos mais procurados», assegura.
Veja na página seguinte: Pacientes únicos com opções várias
Pacientes únicos com opções várias
Nestes casos de cirurgia a dois quem é afinal o elemento dominante, a mulher ou o homem? Depende dos casos, defende Ângelo Rebelo. «De acordo com a minha experiência, os homens são mais recatados, vêm com a mulher à consulta, assistem e depois aproveitam para expor o seu caso», sublinha. «Mas também acontece ser o homem a estimular a mulher a ir à consulta. Noutros casos, é a mulher que após a cirurgia, ganha autoestima, refloresce e convence o marido a seguir-lhe o exemplo, tendo como argumentos o sucesso da sua intervenção e a ausência de complicações», acrescenta ainda.
E quando o casal decide operar-se simultaneamente, prefere fazê-lo no mesmo dia ou em dias separados? Também aqui, há diferentes padrões de comportamento. «Já operei muitos casais que não querem fazer a cirurgia no mesmo dia por uma questão de logística deles», revela o especialista.
«Apesar de todas as minhas cirurgias serem feitas sem anestesia geral nem internamento e, por conseguinte, o pós-operatório ser relativamente simples, as primeiras 24 horas requerem sempre alguns cuidados, o que os obrigaria a recrutar uma terceira pessoa para os assistir nesse período», acrescenta ainda.
«Preferem, por isso, fazer as cirurgias desfasadas, mas com intervalos muito curtos, apenas o suficiente para poderem fazer o acompanhamento pós-operatório um do outro», conclui. Mas também se dá o caso inverso! «Já tenho operado marido e mulher no mesmo dia, desde que haja uma terceira pessoa para lhes dar assistência nas primeiras 24 horas», frisa ainda.
Texto: Fernanda Soares
Comentários