Madonna apareceu sentada na primeira fila durante o desfile, coberta por um véu que mal mostrava o seu rosto.

A coleção, na verdade, foi uma homenagem da marca italiana à superestrela da cultura pop. Todas as modelos utilizaram perucas loiras, algumas usavam espartilhos com seios pontiagudos e outras usavam fatos pretos com casacos masculinos adornados com suspensórios.

A partir das 20h (21h em Lisboa), os holofotes voltaram-se para o desfile de Bottega Veneta que, para a apresentação da temporada primavera-verão 2025, inspirou-se na infância. O clássico da sétima arte "E.T., O Extra Terrestre" terá tido uma grande influência na criação da coleção.

Fundada em 1966 na cidade italiana de Vicenza, na região do Vêneto, a casa, famosa devido aos artigos de couro e artesanato, juntou-se ao grupo Kering em 2001 e está a passar por um bom momento, enquanto a Gucci, o primeiro carro-chefe do grupo, encontra-se a enfrentar uma queda de 20% nas vendas.

Ainda assim, a Gucci teve um faturamento de 4,1 mil milhões de euros no primeiro semestre do ano, enquanto a Bottega Veneta faturou 836 milhões de euros no mesmo período.

Uma gota no oceano para a Kering, mas que tem a sua importância e é acompanhada por uma visão única da moda.

Ser cult sem rede social

A Bottega Veneta destaca-se por brincar com a exclusividade hiperdiscreta, sob a direção artística de Mattieu Blazy, que chegou à marca de luxo no final de 2021.

O franco-belga, que vive entre a Antuérpia e Milão, começou a sua carreira como designer masculino para Raf Simons antes de ingressar na Maison Martin Margiela.

Depois de passagens pela Célin e Calvin Klein, foi finalmente convidado a chefiar o prêt-à-porter da Bottega Veneta.

A visão baseia-se na força do know-how e da habilidade artesanal da casa veneziana.

Os materiais utilizados jogam com ilusões de ótica e peças icónicas, como a calça com aparência de jeans feita de couro de bezerro, vendida por 5.200 euros.

A marca cultivou um status de cult nos últimos anos com escolhas de vanguarda, como a ausência de um logotipo nos produtos.

Blazy prefere os sinais distintivos do seu "intrecciato", o famoso couro trançado característico da casa, ou o seu "nó", sapatos e outros acessórios.

E a ausência estratégica nas redes sociais. Em 2021, a marca excluiu a sua conta de Instagram, que contava com milhões de seguidores. Em vez disso, os fãs assumiram a conta não oficial "newbottega" para não perderem nenhuma das suas últimas notícias.

Clientes exclusivos

A casa de luxo está a multiplicar as iniciativas "artísticas", como a publicação de um fanzine a cada seis meses, com uma tiragem limitada, distribuída aos poucos, mas gratuitamente nas lojas. A revista tornou-se num objeto de culto desde a primeira edição e esgota em menos de uma hora assim que chega às lojas.

Amante da arte e do design contemporâneos, Matthieu Blazy alimenta os projetos da marca a trabalhar com fotógrafos, artistas e designers.

Blazy também trabalha em colaborações importantes que são reveladas no dia das exposições, como as 400 cadeiras diferentes do designer italiano Gaetano Pesce - que morreu em abril - ou a reinterpretação do Tabouret Cabanon de 1952 de Le Corbusier com Cassina para a exposição Winter 24 da casa.

O recém-inaugurado Palazzo Van Axel, em Veneza, vai receber clientes exclusivos da Bottega Veneta para descobrir o universo da marca num palazzo restaurado no coração de La Serenissima.

Os clientes terão à disposição serviços personalizados, como a possibilidade de escolher entre couros de luxo, não disponíveis na loja, ou encomendar peças únicas.

O palácio também irá sediar exposições, projetos especiais e, em novembro, a apresentação da coleção Haute Joaillerie.