"Uma coleção que se chama "Luto" não pode ter uma carga simpática", começa por afirmar Hugo Costa, visivelmente emocionado, após apresentar as suas propostas outono/inverno 2025/26 na 54.ª edição do Portugal Fashion.

A coleção, que só ficou completa horas antes do desfile – era para ser apresentada apenas em setembro –, acabou por adquirir um significado mais profundo para o criador, que não tem dúvidas de que se deve ao período de instabilidade emocional e particularmente desafiante ao nível de saúde mental que atravessou. Para o designer, esta altura de maior vulnerabilidade impactou o seu processo criativo e influenciou o seu entusiasmo pela moda. "Eu sentia que nas últimas coleções já era tudo muito automatizado. Não era tão refletido e não eram as coleções que eu sentia que era capaz de fazer, tão impactantes", explica.

Hugo Costa Portugal Fashion 2025
Hugo Costa Portugal Fashion 2025 créditos: Portugal Fashion / Ugo Camera

A apresentação de "Luto", que decorreu no Museu do Carro Elétrico, é um momento de recomeço e de renascimento da sua marca homónima onde o criador decidiu agarrar-se apenas àquilo que fazia sentido para si. Neste momento de mudança, decidiu incorporar aqueles que são alguns dos elementos que mais gosta de trabalhar, onde se destacam os processos manuais de tingimento que resultaram em sweatshirts, calças e casacos com pinceladas cor-de-rosa.

"A cor original é o vermelho, mas como nós gostamos dessas surpresas e do resultado final, deixámos ficar e é um bocado uma metáfora para o sofrimento. Um sangramento invisível das pessoas que passam por problemas de saúde mental, que não se vê, mas que parece que está sempre a escorrer", elucida o designer que fundou a sua marca homónima em 2010 e que, desde então, tem sido uma presença assídua na plataforma Bloom, dedicada aos jovens designers do Portugal Fashion.

Hugo Costa Portugal Fashion 2025
Hugo Costa Portugal Fashion 2025 créditos: Portugal Fashion / Ugo Camera

Esta transição sente-se ainda ao nível das silhuetas apresentadas esta temporada. Apesar de manter o color blocking e o oversize – que sempre fizeram parte dos códigos da marca –, Hugo Costa tentou inovar ao trazer peças diferentes para cima da passerelle, incluindo "alguns elementos básicos mais justos" e "muito colados ao corpo". Isto é visível através das camisolas de gola alta, crop tops e camisas que se escondem por debaixo dos sobretudos e parkas com capuz, ou das calças flare conjugadas com blazers e camisas.

"Os próprios elementos foram todos redesenhados, foram todas modulações novas, ou seja, o oversize de nenhuma peça era de transição. Tirando a camisa, nenhuma peça foi de transição, foi tudo modelado de novo. Foi mesmo a ideia de reconstruir tudo", afirma. Em 2016, a marca deu o salto, ao realizar o seu primeiro desfile individual no line-up principal do certame de moda português e ao participar na Semana de Moda Masculina de Paris.

Hugo Costa Portugal Fashion 2025
Hugo Costa Portugal Fashion 2025 créditos: Portugal Fashion / Ugo Camera

De forma a refletir o estado emocional do designer, a coleção vestiu-se com uma paleta escura, onde o preto e o cinzento foram os protagonistas. Para além das pinceladas cor-de-rosa, o castanho, o verde-escuro e o xadrez foram os únicos tons de cor a surgir na passerelle. A narrativa visual, que começou com uma carga mais sombria, terminou com tons de branco, creme e cru, aludindo à ideia de que depois da tempestade, vem a bonança. Em termos de materiais e tecidos, o estilista apostou no denim e deadstock que, na sua opinião, "torna as peças muito mais autênticas, muito menos repetíveis".

Apesar de explicar que a responsabilidade do sucesso das marcas depender única e exclusivamente dos criadores, Hugo Costa não esconde que o certame de moda, que não se realizou em 2024, tem um impacto direto não só na visibilidade destas, mas igualmente no "hype mais constante" que estas necessitam para se manterem relevantes no mercado. Questionado sobre o novo formato do Portugal Fashion, que daqui em diante só se realizará uma vez por ano, elogia, no entanto, salienta que ainda está a decidir qual é o melhor caminho para si.

Hugo Costa Portugal Fashion 2025
Hugo Costa Portugal Fashion 2025 créditos: Portugal Fashion / Ugo Camera

"Eu sou um designer claramente mais forte a fazer inverno, tenho perfeita consciência disso. Então apostarmos muito mais nessa estação e, depois, a outra ser um drop, um shooting, mas o nosso ênfase passará só por fazer inverno e acho que este formato acaba por poder potenciar esse registo, mas também não é um caminho fechado para nós", conclui.

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