Duarte Jorge

Com "2112. ONYX DISTRICT." o jovem designer apresenta-nos um mundo sem classes sociais, onde a elite vive no luxo e o resto da população sobrevive nas sombras. O grupo de rebeldes Anomals, que encabeçam esta luta entre a opressão e a liberdade, são os protagonistas desta coleção masculina que lhe valeu o Prémio ModaLisboa x IED Istituto Europeo di Design e onde as silhuetas oversized e muito exageradas dominaram a passerelle.

“É uma visão minha de como seria a sociedade se os ricos continuassem a ficar mais ricos e os pobres mais pobres. É uma visão distópica e ciberpunk de um futuro, que chamei de 2112, e que seria  ano em que se passaria”, explica o designer em entrevista ao SAPO Lifestyle.

O jovem natural de Lisboa apostou naquela que é uma das cores que melhor espelha a sua identidade enquanto criador de moda, o preto, que é marcado por ligeiros toques holográficos e metalizados que encontramos nos capuzes dos casacos e que têm um simbolismo muito forte: representam o vírus ciberorgânico Cyberlight. “É um vírus bom, de luz, que é um pouco a esperança na cidade de escuridão que eu criei”, refere.

Duarte Jorge
Duarte Jorge créditos: © ModaLisboa | Photo: Ugo Camera

Em cima da passerelle vemos casacos puffer XXL, calças largas com folhos recortados e partes de cima adornadas com fechos éclaires. Ainda que esta seja uma coleção masculina, Duarte Jorge explica que com estas peças tentou dar asas “ao lado mais escultório e mais artístico” e criar uma coleção que tanto pode ser usada por homens como por mulheres. “Eu gosto de ir além do que é o convencional e que, além da roupa, seja uma peça artística”, frisa.

Especializado em têxteis pela Escola Artística António Arroio, o designer brincou com materiais muitos diferentes materiais, como o pelo, o canelado e tecidos acetinados. “Os rebeldes  [da cidade onde se passa a minha história] usam os recursos que podem, então as peças estão cheia de retalhos e tecidos diferentes.  Tentei, mesmo assim, manter o lado mais sustentável dos materiais, com vinatex e tecidos com base em laranja".

Duarte Jorge, que foi um dos nomes cujo talento criativo conquistou a atenção dos cinco membros do júri do concurso Sangue Novo, para além de ter sido premiado com uma bolsa no valor de 4.000 euros, vai rumar, em novembro de 2025, até Florença para um Master's Degree em Fashion Brand Management no Istituto Europeo di Design. Questionado sobre as expectativas que tem em relação a esta aventura académica, o jovem deixa uma mensagem de otimismo e determinação. “Vou-me esforçar para criar a minha marca, conseguir pôr-me mais no mercado e dar-me mais a conhecer para que mais gente possa utilizar a minha roupa.”

Gabriel Silva Barros

“É um sonho”. É assim que Gabriel Silva Barros descreve a sensação de, esta sexta-feira, ter ouvido o seu nome a ser anunciado com um dos dois jovens talentos a ganhar a 64ª edição do concurso Sangue Novo.

“De Volta ao Mar” é o nome da coleção vencedora e a continuação de “Masquerade at the Gentlemen’s Club”, apresentada na edição anterior do Sangue Novo. Nesta apresentação, o jovem natural da Madeira conta uma história que tem como figuras centrais os pescadores que, após uma ida ao cabaret, passaram a noite a fazer cross-dressing e a expressarem a sua identidade fluída em liberdade absoluta.

“Esta é a manhã seguinte. É eles acordarem, terem de voltar à realidade e as perguntas que ficam da noite anterior. ‘O que é que aconteceu?’, ‘Quem sou eu agora?’ são as perguntas que vêm de dentro e é isso que eu queria fazer com esta coleção: pôr o homem nessa perspectiva”, conta ao SAPO Lifestyle sobre o conflito interno destas personagens e sobre a sua jornada de transformação interior.

Gabriel Silva Barros
Gabriel Silva Barros créditos: © ModaLisboa | Photo: Ugo Camera

O preto e o vermelho dominaram as propostas sem género apresentadas em cima da passerelle onde a flanela, malha e tecidos desgastados ganham uma nova vida com a incorporação de brilhos, lantejoulas, plumas e rendas. Esta diversidade de materiais, que marca o lado excêntrico, teatral e fantasioso dos uniformes usados pelos pescadores, pretende pôr-nos a refletir sobre questões de masculinidade e a figura homem na sociedade.

O storytelling e a personalidade arrojada são os dois elementos que melhorem definem a identidade de Gabriel Silva Barros enquanto criador de moda e como indivíduo. “Eu tenho uma personalidade forte e um ponto de vista que não é convencional e é isso que eu quero transmitir na minha roupa”, diz. Os drapeados, assimetrias e detalhes das peças conferem dinamismo à coleção que lhe valeu o Prémio ModaLisboa x RDD Textiles.

Apesar de ser um apaixonado pelas passerelles, Gabriel Silva Barros não esconde o desejo de, um dia, ver as suas peças em performances teatrais. “Entre o teatro e a catwalk. Acho que a indústria está a tentar diferentes maneiras de moda e isso é interessante.”

O jovem, que já frequentou a Central Saint Martins e a Universidade de Westminster, salienta a importância de iniciativas como o Sangue Novo para a moda nacional e explica que o estágio de 3 meses na RDD Textiles, onde irá utilizar produzir uma coleção com materiais inovadores e alternativos, vai permitir-lhe dedicar-se aquilo que mais ama: fazer moda. “Estou muito entusiasmado para desenvolver uma coleção. Sinto-me visto pela indústria e só me apetece chorar.”

Clique na galeria e veja os cinco finalistas da última edição do concurso Sangue Novo.