Quem desce a Avenida da Liberdade, em Lisboa, rumo à Praça dos Restauradores, sabe que poucas dezenas de metros volvidos após o icónico Cinema São Jorge, vai encontrar outro espaço que serve de emblema à capital desde 1947. A porta com o número 155 é, há quase sete décadas, um sinónimo de refeições de marisco.

A Ribadouro, marisqueira e cervejaria, é também para muitos lisboetas mais do que uma casa onde se sentam à mesa. Para muitos artistas foi durante décadas pouso de tertúlia, dado o restaurante ser espaço contíguo ao velhinho parque Mayer. Muitas famílias também fizeram desta marisqueira uma segunda casa no que respeita aos apetites da mesa.

É com Alberto Mota, marisqueiro há  mais de 30 anos na cervejaria que nos dispomos para uma breve e ilustrativa aula sobre como bem tratar uma ostra antes de a levarmos à mesa.

No caso presente, um lote de ostras, de bom porte, com as características cascas coriáceas. “Estas chegaram hoje do Algarve, da Ria Formosa. Também compramos ostras a produtores da Ria de Aveiro e do Estuário do Sado”, observa Alberto.

Neste caso, estamos perante ostras com um ano de crescimento. A Ribadouro recebe entre 40 a 50 quilos deste bivalve por semana. “Há que ter muito cuidado com a frescura deste marisco” alerta o nosso interlocutor, “se não estiver fresco é dos mais perigosos para a saúde humana”. Acresce que a ostra deve ser previamente depurada.

As afrodisíacas ostras

As ostras ocupam um lugar de destaque na lista de alimentos afrodisíacos.  Já o grego Estrabão louvava as ostras de Marselha e o romano Ausónio mencionava, em monografia, as ostras gaulesas. Séculos mais tarde, o escritor Alexandre Dumas chamava-lhes "Orelhas de Vénus". Vatel, cozinheiro do rei Luís XVI, terá cometido suicídio por causa das ostras. Casanova consumia em jejum uma média de 40 gramas de ostras por dia.

As propriedades afrodisíacas que se atribuem às ostras devem-se ao seu alto teor de zinco, mineral que é necessário para a produção de esperma. Por exemplo, seis ostras cruas ou cozidas em vapor fornecem mais de cinco vezes a dose diária recomendada de zinco.

Como podemos avaliar esta frescura? “Há que observar se a concha não está aberta e, caso se confirme que abriu, terá perdido a água”. Neste caso, está proibido o consumo. “Uma boa ostra é uma ostra fechada”, sublinha o marisqueiro. O teste auditivo também nos pode indicar se a ostra está viva, ou não. Basta, para o efeito, bater entre si duas ostras. Se o som emitido for idêntico ao da pancada entre duas pedras, o marisco estará vivo, pois as conchas estarão fechadas.

Entretanto, até a hora da preparação, as ostras não devem ser lavadas com água doce, antes com água previamente salgada (numa proporção de 30 g de sal por litro de água).

Já abrir a ostra implica uma técnica apurada. Um saber fazer que o senhor Manuel exemplifica com destreza. Munido de uma faca e de uma luva de malha de ferro, aplica pressão com o polegar no punho do instrumento de corte, empurra a lâmina para dentro, no ponto certo, e com um movimento de alavanca abre as duas faces da concha.

Dentro da concha muito calcificada vamos encontrar o tão desejado corpo de carne mole, complexa, de aroma e sabor intensos. O “cofre” que há muito acicata a imaginação daqueles que procuram o tesouro, a pérola perfeita que este molusco desenvolve no seu interior.

Alberto Moita, o marisqueiro que nos ensina a conhecer uma boa ostra

Quando um parasita invade o corpo da ostra, esta liberta uma substância denominada madrepérola, que se cristaliza sobre o invasor impedindo-o de se desenvolver ou reproduzir. Levará perto de três anos até que essa matéria se torne numa pérola. A forma desta dependerá do formato do invasor. Por sua vez a cor está relacionada com a saúde da ostra.

O purista vai aprecia a ostra, assim mesmo ao natural, com toda a frescura a mar. Quem não aprecia sabores tão intensos pode acrescentar à carne da ostra, um fio de limão, ou mesmo um molho.

Optando por acrescentar um molho, fica a sugestão de umas Ostras com vinagreta de cebola roxa, pepino e hortelã.