“Existe ainda pouca evidência científica sobre a relação entre a doença por SARS-CoV-2 (COVID-19) e a alimentação. Contudo, sabemos que um estado nutricional e de hidratação adequados contribuem, de um modo geral, para um sistema imunitário otimizado e para uma melhor recuperação dos indivíduos em situação de doença”, lemos na introdução ao manual disponibilizado online pela Direção Geral da Saúde, em parceria com a Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação (FCNAUP) e Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS).
Ainda de acordo com o documento “à data, não existe uma relação entre o consumo de determinados alimentos ou suplementos e o reforço do sistema imunitário”. Contudo, “sabemos que à semelhança de outras funções fisiológicas do organismo, para garantir o normal funcionamento do sistema imunitário, é necessário uma alimentação equilibrada com a presença de diferentes nutrientes, desde logo os fornecedores de energia (hidratos de carbono, proteínas e lípidos) e vitaminas e minerais (como as vitaminas A, B6, B9, B12, C e D e o cobre, ferro, selênio, zinco) e água. Nutrientes que se conseguem encontrar quando se seguem as recomendações da Roda dos Alimentos”.
Menos compras, mas mais racionais
Face à compra menos frequente e a necessidade de organizar de forma diferente a ida ao supermercado, o manual traz-nos orientações sobre o planeamento e compra de alimentos.
“Numa situação de isolamento, é importante garantir a disponibilidade de alimentos que permita assegurar as necessidades alimentares por um período mais longo de tempo, sendo a otimização do momento de ida aos supermercados essencial para evitar deslocações frequentes às compras”, vinca o documento.
Por outro lado, a “compra responsável”, ou seja, o comportamento do consumidor, não açambarcando, também é importante para que os supermercados mantenham a boa gestão de stocks.
“O açambarcamento de produtos alimentares pode, inclusive, ser um estímulo ao consumo alimentar excessivo e de má qualidade nutricional (principalmente excesso de sal, açúcar e gordura), num período em que estão presentes outros fatores de risco, como por exemplo o sedentarismo e o stresse emocional”, diz-nos o manual, aconselhando a aquisição de alimentos que apresentem uma boa durabilidade.
Planear passa por fazer uma lista de compras organizada, comprar apenas aquilo que é necessário, sem exageros (que alimentos tenho em casa? Com os alimentos que tenho em casa, que refeições posso preparar? Que alimentos preciso de comprar adicionalmente para as refeições que ainda faltam?).
Já no momento da aquisição, aconselha-nos o manual a ter em consideração a lista de compras que organizámos, alimentos com prazo de validade mais longo e que haja equilíbrio entre estes e alimentos frescos, preferir alimentos de elevado valor nutricional em detrimento de alimentos com elevada densidade energética.
O que incluir num kit alimentar para um período de isolamento de 14 dias?
Esta é a pergunta que muitos consumidores já terão colocado. De acordo com os organizadores do manual de alimentação em época de isolamento social, “os cálculos [para a tabela de alimentos incluída no kit] foram desenvolvidos tendo em conta as necessidades nutricionais médias diárias estimadas para a população portuguesa (2000 kcal, 20% proteína, 50% hidratos de carbono e 30% lípidos), seguindo tanto quanto possível as recomendações da Roda dos Alimentos. Assim, as quantidades apresentadas são referentes às quantidades necessárias por pessoa e para um período de 14 dias. De acordo com a composição do agregado familiar, estas quantidades devem ser ajustadas”.
O Kit apresenta-nos as quantidades de alimentos divididas por cereais e derivados, tubérculos (cereais de pequeno-almoço, pão); hortícolas (cenoura, cebola, curgete, couve-flor, feijão-verde, alho); fruta (maçã, pera, laranja, tangerina); laticínios (leite, iogurtes); carne, pescado e ovos; leguminosas (feijão, grão, ervilhas, lentilhas); gorduras e óleos, outros alimentos.
Não basta comprar com variedade, é importante manter uma alimentação saudável. Nesse sentido o manual traz-nos seis passos, onde se incluem comer mais fruta e hortícolas, beber água ao longo do dia, resgatar para a mesa as leguminosas, fazer uma alimentação completa, variada e equilibrada, seguindo os princípios da Roda dos Alimentos.
Aleitamento materno
“A amamentação pode ser mantida desde que as mães estejam devidamente informadas e esclarecidas e desde que sejam asseguradas boas práticas de higiene e tomadas todas as precauções para evitar a transmissão da COVID-19 à criança”, sublinha o manual recorrendo a dados publicados pela UNICEF, Centro de Controlo e Prevenção da Doença (CDC) dos Estados Unidos e o Royal College of Obstetricians and Gynaecologists (RCOG) do Reino Unido.
O mesmo documento refere que “as mães com COVID-19 devem ser devidamente informadas e esclarecidas sobre todos os benefícios e riscos da amamentação, bem como sobre todas as precauções que devem ter para evitar a transmissão do vírus para a criança”.
COVID-19 e alimentação da população idosa
Já no que respeita à COVID-19 e estado nutricional dos idosos, somos alertados para o facto da “população idosa é um dos grupos que apresenta um maior risco de doença grave por COVID-19. (…) As medidas de isolamento e distanciamento social para minimizar a transmissão da COVID-19, podem ser um fator de risco para o agravamento do estado nutricional dos idosos, quer naqueles que se encontram em contexto de domicílio, quer para os idosos institucionalizados. Um pior estado nutricional associa-se a um pior prognóstico e a um risco aumentado de complicações em caso de doença aguda e, consequentemente, está associada a um maior risco de mortalidade”.
Neste sentido, o documento elenca orientações, “que não são diferentes das recomendações que já deviam ser genericamente seguidas pela população idosa” e que incluem o consumo de leite e derivados, fruta, leguminosas, sopas, carnes, pescado e ovos, frutos oleaginosos e a necessária hidratação.
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