
Enquanto médica geriatra, dedicada a acompanhar o estado de saúde de pessoas mais velhas, todos os anos me pedem para refletir sobre a saúde dos avós. Todos os anos deparo-me com um dilema: nem todos os avós se enquadram nesta faixa etária, havendo avós muito jovens; e nem todas as pessoas mais velhas que acompanho são avós e isso não compromete o seu valor e os seus direitos.
Não obstante, é inegável que os avós são uma figura muito relevante na vida, história, tradições, hábitos e emoções de muitas famílias. O seu papel especial justifica que tenha sido reconhecido um dia dedicado a homenageá-los e valorizá-los. E esta é sempre uma oportunidade para passar mensagens úteis que contribuam para melhorar a sociedade em que vivemos.
Em Portugal, a maioria dos adultos torna-se avó/avô entre os 55 e os 65 anos e esta é uma etapa da vida em que é importante adotar estilos de vida saudáveis para envelhecer com qualidade e satisfação.
Há alguns dias, no hospital onde trabalho, organizámos uma sessão dirigida às pessoas mais velhas sobre os “Cuidados a ter no Verão”, enquadrada num ciclo de sessão sobre literacia em Medicina Geriátrica chamado “Envelhecer Bem”. Antecipando a pausa do Verão, a audiência mostrou o interesse em saber como também preparar o Inverno.
Ajudar os avós – e as pessoas mais velhas em geral - a preparar o Inverno é um bom mote para este meu artigo.
O Inverno pode ser uma estação delicada para as pessoas mais velhas em virtude do frio. As temperaturas baixas podem agravar direta ou indiretamente o estado de saúde, aumentar o risco de quedas e afetar o bem-estar emocional. Sabemos que no Inverno aumenta a mortalidade, e esse fenómeno associa-se ao aumento da circulação dos vírus respiratórios na nossa comunidade, tal como o vírus da gripe responsável por grande parte das infeções respiratórias no Inverno. A gripe nas pessoas mais velhas pode ser grave, provocar a perda da capacidade física e comprometer a autonomia das pessoas. A gripe pode complicar-se e originar pneumonias, com necessidade de tratamento com oxigénio ou mesmo ventilação em unidades de cuidados intensivos. As pessoas mais velhas e com doenças crónicas, como a diabetes, as doenças cardíacas e respiratórias, têm maior risco de ter formas graves de gripe e suas complicações.
Algumas dicas práticas podem já ser postas em prática e planeadas atempadamente para tornar o Inverno menos adverso, manter a sua autonomia e qualidade de vida. Vejamos algumas:
1. Manter-se bem agasalhado, quando chegarem as temperaturas mais frias.
- Usar camadas de roupa, com tecidos quentes e leves;
- Proteger extremidades: gorro, cachecol, luvas e meias grossas;
- Vestir-se bem mesmo dentro de casa, principalmente em divisões menos aquecidas.
2. Aquecer a casa com segurança
- Verificar se os aquecedores estão em bom estado e afastados de cortinas ou móveis;
- Usar mantas térmicas, verificando se o circuito elétrico está em boas condições. Ter cuidado com sacos de água quente na cama, que podem causar queimaduras por contacto prolongado com a pele ou por derrame de água;
- Evitar aquecedores a gás ou lareiras sem ventilação, para prevenir intoxicações por monóxido de carbono;
- Isolar bem portas e janelas para evitar correntes de ar, mas arejar e ventilar os espaços frequentemente.
3. Prevenir as infeções respiratórias
- Tomar a vacina da gripe e da COVID-19 a partir de outubro. Estas poderão ser disponibilizadas no Centro de Saúde ou nas Farmácias. Esteja atento às campanhas de informação a partir de setembro. Pode perguntar ao seu médico, no Centro de Saúde ou nas Farmácias. Existe uma vacina contra a gripe de alta dose que é mais eficaz nas pessoas mais velhas. Pergunte ao seu médico se é candidato a receber esta vacina, de forma gratuita ou adquirindo na farmácia;
- Poderão estar indicadas também as vacinas contra a pneumonia e contra o vírus sincicial respiratório. Todas as infeções respiratórias que puder prevenir são uma forma de evitar problemas de saúde agudos ou crónicos e irreversíveis;
- Encoraje os seus familiares e amigos a vacinarem-se também. Todas as pessoas com 18 ou mais anos podem vacinar-se contra gripe. Quanto mais pessoas vacinadas, menos vírus circularão na comunidade;
- Usar máscara quando estiver em ambientes com muita gente (p.ex. no supermercado, nos transportes públicos, nos serviços de saúde), em especial quando há muitos casos da gripe (esteja atento às notícias) e junto a pessoas com sintomas respiratórios;
- Siga as medidas de etiqueta respiratória: Cobrir a boca e o nariz com um lenço de papel quando tossir ou espirrar; depositar no contentor de lixo mais próximo os lenços utilizados para se assoar; se não tiver um lenço de papel, espirrar para a dobra do braço/cotovelo e não para a mão;
- Distanciamento de pessoas com sintomas respiratórios;
- Lavar e/ou desinfetar as mãos frequentemente, bem como equipamentos e superfícies que possam estar infetados.
4. Compensar as doenças crónicas
- Agendar consultas antes do Inverno para controlar doenças crónicas como diabetes, hipertensão ou problemas respiratórios;
- Tomar a vacina da gripe e da COVID-19 a partir de outubro. Estas poderão ser disponibilizadas no Centro de Saúde ou nas Farmácias. Esteja atento às campanhas de informação a partir de setembro. Pode perguntar ao seu médico, no Centro de Saúde ou nas Farmácias. Poderão estar indicadas também as vacinas contra a pneumonia e contra o vírus sincicial respiratório. Todas as infeções respiratórias que puder prevenir são uma forma de evitar problemas de saúde agudos ou crónicos e irreversíveis;
- Ter medicação em casa suficiente para não precisar sair em dias de frio ou chuva.
5. Alimentação adequada
- Tomar refeições quentes e nutritivas: sopas, ensopados, legumes cozidos;
- Incluir alimentos ricos em vitamina D e proteínas (ovos, peixe, lacticínios), importantes para a imunidade e os ossos;
- Beber líquidos, mesmo sem sede — hidratar-se é essencial, mesmo no Inverno.
6. Evitar quedas
- Em dias gelados ou de chuva, evitar sair de casa cedo ou quando o chão estiver escorregadio. Se necessário, use um auxiliar de marcha adequado;
- Usar sapatos antiderrapantes, mesmo dentro de casa;
- Garantir boa iluminação e eliminar obstáculos nos corredores e escadas;
- Evitar tapetes soltos e manter os caminhos desimpedidos.
7. Cuidar do bem-estar emocional
- O Inverno pode trazer solidão e tristeza — é importante manter o contacto com familiares ou vizinhos;
- Participar em atividades sociais em centros de dia, igrejas ou clubes;
- Aproveitar o sol, mesmo que por breves momentos à janela ou na varanda.
Um artigo da médica Sofia Duque, especialista em Medicina Interna e em Geriatria no Hospital Cuf Descobertas.
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