As hérnias discais afetam entre 13 a 40% das pessoas ao longo da vida. Ocorre mais frequentemente em pessoas entre os 50 e os 60 anos de idade. Ao contrário do que se achava, a incidência de hérnias discais na lombar não aumenta com a idade. De facto, revelou-se que as incidências de hérnias diminuíam significativamente a partir dos 65 anos, com raras incidências em pessoas com mais de 80 anos. Outros fatores de risco revelam ser o excesso de peso, tabaco e ter uma profissão que envolva esforço físico (como levantamento de cargas pesadas) ou ainda ser do género masculino (a prevalência de hérnias discais na lombar é cerca de duas vezes mais elevada que no género feminino).
Antes de continuarmos a falar em patologia de coluna (que nós conhecemos através da gíria popular como “dores de costas) é importante perceber o normal funcionamento desta estrutura, que é a base central do nosso corpo. A coluna vertebral encontra-se dividida em 4 regiões: cervical (7 vértebras), torácica/dorsal (12 vértebras), lombar (5 vértebras) e sacro-coccígea.
Numa vista lateral a coluna apresenta várias curvaturas consideradas fisiológicas: cervical e lombar apresentam uma curvatura em forma de lordose e a região torácica e pélvica uma curvatura em forma de cifose.
O canal vertebral segue as diferentes curvas da coluna vertebral. É formado pela junção das vértebras e serve de proteção à medula espinhal. Entre os corpos de duas vértebras adjacentes (desde C2-sacro) existem discos intervertebrais. O disco intervertebral é formado por um anel fibroso e um núcleo pulposo. Os discos conferem flexibilidade à coluna e funcionam também como elementos que amortecem os impactos. Quando ocorre alterações degenerativas (com ou sem trauma) causam protrusão ou rotura do núcleo através do anel fibroso na área lombossacral, o núcleo é deslocado posterolateralmente, ou posteriormente, no espaço extradural (epidural). A radiculopatia ocorre quando o núcleo herniado comprime ou irrita a raíz nervosa. A protrusão posterior pode comprimir a coluna ou a cauda equina, em especial no caso de um canal medular congenitamente estreito (estenose lombar). Na região lombar, mais de 80% das roturas do disco afetam as raízes nervosas L5 ou S1. Os nervos espinhais fazem conexão com a medula espinhal e são responsáveis pela inervação do tronco, membros superiores e partes da cabeça. São no total 31 pares.
Todas as condições que enfraqueçam os discos constituem fatores de risco para a ocorrência de hérnia discal. A hérnia discal L5/S1 é das mais frequentes, comprimindo os nervos que emergem da coluna nestes segmentos. Os discos são bem hidratados, mas à medida que envelhecemos, o conteúdo de água vai diminuindo, tornando os discos menos elásticos e mais suscetíveis a lesões. No caso da hérnia discal L5/S1, o anel que circunda o disco intervertebral rompe-se e o núcleo que está no seu interior passa para o canal vertebral, comprimindo as raízes do nervo, provocando dor.
A herniação do disco em geral pode ou não ter sintomas associados, mas quando afeta as raízes nervosas pode apresentar sinais e sintomas aos nível dessas mesmas raízes. A dor, em geral, ocorre de forma súbita e a dor nas costas é tipicamente aliviada pelo repouso no leito.
O sintoma mais comum é a dor ciática, uma dor aguda que irradia pela face lateral ou posterior da perna até ao pé (causada pela pressão da hérnia discal sobre os nervos L5 ou S1). Outros sintomas comuns são o adormecimento, formigueiro, alterações da sensibilidade e fraqueza muscular do membro afetado. Mais raramente, quando estão envolvidos outros nervos lombares, a dor irradia pela face anterior da coxa e habitualmente não ultrapassa o joelho (cruralgia). Os sintomas variam de pessoa para pessoa e podem piorar durante a noite.
A dor ciática trata-se de uma crise aguda de dor ao longo do nervo ciático. A dor é provocada por uma irritação ou compressão das raízes do nervo ciático ou outro tipo de dano no nervo ciático. A localização da dor varia consoante as raízes do nervo afetadas, mas é comum irradiar. As origens do nervo ciático encontram-se nas raízes nervosas de L4, L5, S1, S2 e S3. O nervo ciático é o nervo mais espesso do corpo humano dando-lhe uma predisposição à ocorrência de compressões ao longo do seu trajeto.
A qualidade de vida das pessoas com hérnias discais pode ser alterada devido aos episódios dolorosos na lombar, algumas vezes com irradiação nas pernas. A dor pode ser aguda e piorar com esforço físico, ou crónica e de intensidade variável. Pessoas que apresentam dor na lombar e nas pernas (ou dor ciática), assumem uma diminuição da sua qualidade de vida. A dor também pode provocar uma redução da amplitude do movimento de flexão da anca, tal como uma alteração da marcha e/ou do ritmo de marcha. Além disso, podem ocorrer distúrbios da sensibilidade como parestesias, dormências do membro, ou perda de sensibilidade. Em casos mais graves, as hérnias podem causar paralisias, parciais ou totais, do pé ou joelho.
Posto isto, é de elevada importância o papel do fisioterapeuta e de toda uma equipa multidisciplinar de saúde para tentar reduzir ao máximo os episódios dolorosos e aumentar a qualidade de vida e bem-estar desta população.
Um artigo do fisioterapeuta Sérgio Loureiro Nuno.
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