Quando confrontados com o diagnóstico de escoliose, sobretudo os doentes mais jovens e as suas famílias, deparam-se com inúmeras dúvidas e inquietações. Em caso de suspeita, o primeiro passo deve ser recorrer ao médico para que seja feita uma avaliação do quadro clínico e possam ser esclarecidos mitos e factos relacionados com a escoliose.
1. O que é a escoliose?
É uma deformidade tridimensional da coluna que se caracteriza por uma curvatura lateral no plano frontal, ou seja, quando olhamos de frente a coluna pode ter a forma de um ‘S’ ou de um ‘C’. O diagnóstico é feito quando o ângulo da curvatura é superior a 10 graus. Ângulos inferiores são considerados apenas desvios escolióticos, na maioria dos casos sem relevância clínica.
2. Qual a causa?
São conhecidas algumas causas de escoliose (nomeadamente congénitas e neuromusculares), mas na maioria das vezes não se sabe o que está na sua origem. Estes casos são denominados de escoliose idiopática (idiopática = causa desconhecida) e classificados de acordo com a idade de apresentação (infantil entre os 0 e 3 anos, juvenil dos 4 aos 10 anos, do adolescente a partir dos 10 anos até aos 18). A escoliose idiopática do adolescente é a mais comum.
3. Quem é mais afetado?
A escoliose idiopática afeta aproximadamente 3% dos adolescentes. Em casos ligeiros tem incidência semelhante em rapazes e raparigas, nos casos de maior gravidade a incidência é superior nas raparigas. A existência de familiares com escoliose é comum, mas o facto de a mãe ou o pai terem escoliose não significa que os filhos a venham a desenvolver.
4. Quais são os sinais de alerta?
Os sinais que devem motivar avaliação médica são: assimetria da altura dos ombros e bacia; proeminência das costelas ou de uma omoplata; inclinação do tronco para um dos lados.
5. A escoliose provoca dor?
Na maioria dos casos não. A sensibilização dos pais e pessoas próximas das crianças para os sinais de alerta é fundamental para um diagnóstico atempado.
6. As mochilas podem provocar escoliose?
As mochilas não provocam escoliose. Porém, o peso excessivo das mochilas (mais de 10% do peso corporal) pode ter consequências negativas, como dores de costas e pescoço, lesões degenerativas da coluna ou alterações da marcha e postura.
7. É possível praticar desporto?
É possível realizar a maioria dos desportos. O campeão olímpico Usain Bolt é um exemplo de como mesmo com escoliose é possível alcançar performances desportivas excecionais.
8. A escoliose piora?
Pode piorar sobretudo no pico de crescimento da adolescência (perto dos 14 anos nos rapazes e dos 12 anos nas raparigas). A gravidade da curvatura e a maturidade esquelética são os principais fatores prognósticos de progressão.
9. Qual o tratamento?
O objetivo do tratamento é suspender a progressão da escoliose e não obrigatoriamente a sua correção. Na maioria dos casos basta acompanhamento a cada 6 meses e exercícios de reforço muscular e flexibilidade. Casos mais graves podem necessitar de colete ou tratamento cirúrgico.
10. Se for operado fico com limitações?
Apesar do tratamento cirúrgico ter por base a fixação definitiva de parte da coluna, a maioria dos doentes regressa às suas atividades habituais. São inúmeros os relatos de doentes que se superaram ainda mais depois de terem sido operados. Descubra mais aqui: https://www.srs.org/patients-and-families/patient-stories/lindsay.
Um artigo do médico José Miguel Sousa, especialista em Ortopedia.
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