No cenário global da saúde do mundo ocidental tem-se alastrado uma epidemia silenciosa, que afeta milhões de vidas globalmente e impõe um grande desafio aos sistemas de saúde: a obesidade.
A OMS estima que 14% da população sofre de obesidade, o que representa quase mil milhões de pessoas em todo o mundo a lutar contra esta doença. Nos países desenvolvidos, 5-10% de todos os gastos em saúde são relacionados com a obesidade e o gasto global estimado é de mais de 2 triliões de dólares anualmente. Não existe outra doença com tanto impacto global, a nível económico e de sofrimento individual.
Todos os anos, no dia 4 de março, comemoramos o Dia Mundial da Obesidade, que nos convida a refletir sobre este problema de saúde pública que não conhece fronteiras e afeta pessoas de todas as idades, géneros, etnias e condições sociais. Mais do que uma marca no calendário, esta data carrega uma mensagem de alerta global que não pode ser ignorada.
A obesidade é, muitas vezes, considerada uma questão menor, que é vista apenas com uma componente estética. Na verdade, é um problema de saúde complexo, com impacto em todos os aparelhos e sistemas, com uma quebra importante na qualidade de vida e com um aumento do risco de morte prematura. A sua origem é extraordinariamente complexa e tem raízes em fatores genéticos, ambientais, hormonais, comportamentais, culturais e sociais. Não se trata apenas de um número na balança ou de uma necessidade de roupas mais largas; é uma doença que traz sérios problemas associados e um significativo aumento do risco de outras complicações, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, patologia osteoarticular, dificuldades respiratórias e mais de uma dúzia de tipos de cancro.
Portanto, a comemoração do Dia Mundial da Obesidade deve ser sinónimo de ação. É um momento para educar e inspirar mudanças de estilo de vida e promover políticas públicas que apoiem escolhas saudáveis nas nossas populações.
Num mundo onde a comida ultraprocessada é, muitas vezes, mais acessível e conveniente do que opções saudáveis, a batalha contra a obesidade começa nos nossos pratos. Educar as pessoas sobre nutrição adequada, incentivar o consumo de alimentos frescos e não processados e promover a culinária caseira são passos fundamentais para mudar essa realidade.
Além disso, a importância da atividade física não pode ser subestimada. O sedentarismo é um dos grandes aliados da obesidade, pelo que incentivar a prática regular de exercício desde a infância é essencial para criar hábitos saudáveis, e que perdurem ao longo da vida.
Contudo, as soluções não são apenas individuais. É fundamental que governos e instituições também desempenhem o seu papel na luta contra a obesidade. Políticas que promovam o acesso a alimentos saudáveis (por exemplo através da flexibilização da política fiscal), a educação nutricional (nas escolas e na sociedade) e a prática de exercício físico, desde idades jovens, são passos concretos que podem fazer diferença.
Além disso, a obesidade está intimamente ligada a questões socioeconómicas. Em muitos casos, a dificuldade no acesso a alimentos saudáveis está associada à pobreza e à desigualdade social. A falta de tempo e disponibilidade para a prática de exercício físico está ligada às dificuldades sociais, à necessidade do pluriemprego e, muitas vezes, à falta de uma rede de suporte para apoio às famílias. Imaginem uma mãe trabalhadora (ou pai), que quando sai (já tarde) do emprego, tem de ir buscar o filho à escola, levá-lo às atividades que a escola não promove; chegar a casa já tarde, com todas as tarefas para completar. Pouco tempo e disponibilidade sobra para preparar uma alimentação calma, natural e saudável, e muito menos para a prática de exercício físico.
Portanto, abordar a obesidade significa também enfrentar estas questões subjacentes, procurando criar comunidades mais saudáveis e equitativas para todos.
Ao comemorarmos o Dia Mundial da Obesidade, não apenas reconhecemos a gravidade deste problema de saúde, mas também demonstramos o nosso compromisso em melhorar. Cada pequena mudança nas nossas escolhas diárias pode ser um passo em direção a um estilo de vida mais saudável.
Em última análise, a obesidade é um desafio que só pode ser superado com esforços conjuntos, envolvendo governos, instituições, profissionais de saúde e cada indivíduo. Vamos aproveitar esta data para nos comprometermos em construir um futuro mais leve e saudável.
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