“Vai de férias que engravidas logo”; “Deixa de pensar, relaxa que acontece”; “Já tentaste a medicação X?”; “A minha prima fez o tratamento Y e engravidou à primeira!”; “Não te podes enervar, é a ansiedade que impede a gravidez!”.

A infertilidade afeta seis em cada dez casais em idade reprodutiva. É uma condição de saúde crónica com impacto significativo em quase todas as áreas da vida: pessoal, profissional, familiar, conjugal, e social.

A vivência de barreiras à fertilidade é uma crise na vida do casal, normalmente inesperada, abrupta e sem roteiro ou mapa para seguir. Quem passa por dificuldades em conceber já ouviu estes e muitos outros “conselhos”. Apesar de bem-intencionados, são muito pouco úteis, sendo por vezes prejudiciais — podem despoletar e exacerbar sentimentos de frustração, inadequação, incerteza quanto ao futuro, com impacto psicológico considerável, sendo comum o aparecimento de sintomatologia ansiosa e depressiva.

No passado mês de junho, mês da sensibilização para a (in)fertilidade, refleti bastante acerca do papel de cada um de nós, enquanto cidadãos, na sensibilização para este tema.

E sonhei: se eu me encontrasse com o génio da lâmpada, pedia três desejos: (1) Educação para a fertilidade e saúde reprodutiva em vários contextos: escola, cuidados de saúde primários e comunidade; (2) igualdade no acesso (atempado) ao diagnóstico e tratamentos de fertilidade; (3) sensibilização para o tema da fertilidade, incluindo educação para as emoções e promoção da empatia e respeito.

Sabemos hoje que os jovens em idade reprodutiva têm baixos conhecimentos acerca da fertilidade e saúde reprodutiva, de forma geral (Pedro et al., 2018). Várias iniciativas têm sido desenvolvidas um pouco por todo o mundo. O tema foi discutido no Parlamento Europeu este ano. Investigadores portugueses têm participado em vários estudos científicos que mostraram a necessidade da educação para a fertilidade, nomeadamente nos currículos escolares e também nos cuidados de saúde primários. Foi desenvolvido o jogo FACTS! com o apoio da Fertility Europe e da Associação Portuguesa de Fertilidade, de forma a atrair os jovens para o tema. Vale a pena explorar!

Escrevo também a todos vós que são pais, mães, tios, avós, sogros, irmãos, amigos, colegas de trabalho. Não perguntem se, como, quando vão ter filhos: esta pergunta pode ser indutora de emoções negativas e mal-estar para quem está a vivenciar barreiras à fertilidade, quem está em fase de tratamentos, quem está a lidar com tratamentos sem sucesso ou até uma perda gestacional.

Se conhecem alguém que está a passar por um processo de infertilidade, mostrem-se presentes para ouvir e respeitem se não quiserem partilhar. Para os líderes de equipas e pessoas com cargos de gestão de recursos humanos, apelo à sensibilidade e compreensão. Pequenos gestos farão toda a diferença na vida destas pessoas.

Recentemente, em Portugal, foi lançado o Movimento + Fertilidade, com o objetivo de apoiar a parentalidade e combater as desigualdades nos contextos laborais.

Para quem está a passar por estes desafios: Falar sobre o tema pode ajudar. Procurar ajuda de um psicólogo especializado pode ser fundamental e ativar a rede de apoio social é de extrema importância. A Associação Portuguesa de Fertilidade dispõe de vários recursos, nomeadamente uma rede de Apoio Psicológico, com psicólogos com especialização na área. Procurem ajuda! Não estão sozinhos!

Texto escrito por Juliana Pedro, Psicóloga, a convite do Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida (CNPMA)

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