Os vírus são conhecidos por serem pequenos. Nem nos interessa, particularmente, o quão pequenos são. Apenas que são pequenos. Diria mesmo que chegam a ser extremamente pequenos, submicroscópicos até. Para os conseguirmos ver, é comum o uso do microscópio electrónico. Uma trabalheira só para os conseguirmos observar, agravada pela trabalheira para os conseguirmos estudar.
Os vírus são estruturas simples, o que numa primeira abordagem, nos faria negligenciá-los. Como aquele aluno que achamos que não vai longe na vida, porque é demasiado básico e tem pouco potencial. Aquele aluno que, comparado ao aluno mais complexo da sala, o deixa encostado a um canto. Comparados com as células, os vírus também são estruturas simples. Nem chegam a ser considerados organismos, porque lhes falta um sem número de estruturas para serem considerados como tal. Nem conseguem produzir a sua própria energia metabólica, vejam bem.
Claro que, socialmente, foram logo rotulados. São parasitas. Parasitas intracelulares obrigatórios o que, em boa verdade, os impede logo de serem considerados seres vivos, porque dependem de células para se multiplicarem. São incapazes de crescer e de se dividirem e precisam de terceiros para conseguirem obter tudo aquilo que não têm. São aquilo a que, na gíria, chamamos de chupistas. Se a nível laboral costumam ter sucesso, a nível social não costumam ter a vida muito facilitada.
Os vírus, os chupistas e nós, vivemos todos do mesmo: de interacções, daquele contacto próximo
Os chupistas são alpinistas sociais. Também não conseguem produzir a sua energia metabólica e dependem de terceiros para iniciar a escalada. Sem nos apercebermos, estamos contaminados com um deles. A primeira fase da doença intitula-se de “gajo porreiro” e, aqui, ainda permanecemos assintomáticos apesar de já estarmos infectados. Os primeiros sintomas são confundidos com uma amizade normal, pelo que os negligenciamos. Passado uns dias começa a primeira sintomatologia: numa primeira fase algum grau de “interesseirismo”, pontualmente algumas situações incoerentes e sintomas de abuso de forma cada vez mais recorrente. Nesta fase, devemos ligar para a saúde 24: um amigo verdadeiro, o nosso cônjuge ou um familiar (não necessariamente por esta ordem). Manter-se em isolamento é essencial numa primeira fase e não criar alarmismo social, que só tende a agravar o caso.
Lidamos mal com os vírus, não só pelas suas nefastas consequências, mas por lhes reconhecermos semelhanças. Criamos-lhes repulsa e insultamo-los, como se já nos tivéssemos conhecido anteriormente. Os vírus, os chupistas e nós, vivemos todos do mesmo: de interacções, daquele contacto próximo. Crescemos e alimentamo-nos com isso, quase que de uma forma egoísta. Acabamos é por ser mais parvos do que os vírus. Esses parasitas, ao menos, têm a inteligência de se resguardar no corpo de alguém e só saem por erro do hospedeiro. Já nós, ao invés de resguardarmos o nosso, optamos por expô-lo de forma negligente, em magote, na praia de Carcavelos.
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