HealthNews (HN) – Como nasceu o projeto “SOL – Saúde Oral em Lisboa” e quais foram os principais objetivos iniciais?
André Brandão de Almeida (ABA) – O Serviço Odontopediátrico de Lisboa | Saúde Oral em Lisboa (SOL) abriu portas a 20 de agosto de 2019. O SOL “nasceu” da vontade, por parte do Senhor Provedor, em complementar o SNS numa resposta de saúde oral a crianças e jovens da cidade de Lisboa. E mais do que uma vontade, pretendia-se que essa resposta fosse uma mudança de paradigma na prestação de cuidados de saúde oral, aliando o acesso universal a todas as crianças e jovens, independentemente da sua condição económica ou social, à prestação de cuidados personalizados e com recurso a equipamentos, tecnologia e recursos muito diferenciados. Posteriormente a Direção de Saúde implementou a resposta no terreno e, dessa forma, há cinco anos que através do SOL, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa reforça o seu papel de complementaridade face ao SNS, dando resposta a mais um enorme desafio e ajudando milhares de crianças e famílias.
O objetivo e princípio fundamental do SOL foi bastante claro: disseminar o conceito de saúde oral como um direito, com ênfase na atenção precoce, na prevenção da doença e na criação de hábitos saudáveis.
Para que a afirmação deste projeto fosse possível, foram definidos vários princípios complementares ao principal: Garantir o acesso a todas as crianças e jovens, independentemente da sua condição económica ou social; Usar equipamentos, tecnologia e materiais de vanguarda; Garantir uma abordagem que procura alinhar as prioridades de saúde oral e saúde pública, aliando-as à educação, literacia e investigação; Possuir uma equipa dedicada, experiente, com conhecimentos sólidos e vocacionada para cuidados pediátricos.
HN – Quais são os serviços-chave oferecidos pelo projeto SOL para melhorar a saúde oral pediátrica em Lisboa?
ABA – O SOL tem como visão a prestação de cuidados de saúde oral que se destacam pela proximidade, personalização e qualidade do serviço prestado, apostando na inovação, melhoria contínua da qualidade e promovendo e envolvendo o utente e a sua família como agentes de mudança de saúde.
Os serviços prestados pelo SOL têm como foco a atenção precoce e a melhoria da condição de saúde oral da população pediátrica do concelho de lisboa. Para isso, muito contribui o início do acompanhamento das famílias antes dos 12 meses de idade, favorecendo um trabalho preventivo atempado. Ao concentrar-se na prevenção, não apenas se evitam problemas de saúde, mas também se estabelece um sistema de acesso mais eficiente. O investimento em educação e literacia em saúde oral, campanhas de consciencialização e consultas regulares desde a infância, permite identificar e abordar problemas de saúde oral em estadios iniciais, antes que se tornem complexos e dispendiosos de tratar.
A atenção precoce é crucial, pois permite um tratamento atempado, quando os problemas ainda são oportunos e o impacto na qualidade de vida é minimizado. Isso não apenas economiza recursos, mas também promove a saúde a longo prazo, criando uma população mais saudável e reduzindo a carga sobre o sistema de saúde. E é isso mesmo a que o nosso serviço se compromete diariamente como ferramenta chave na melhoria da saúde oral pediátrica. Garantir que, mesmo a meio de desafios orçamentais, as crianças têm acesso a cuidados de saúde oral de qualidade, levando a que se possa construir um sistema de saúde oral sustentável e eficaz, com benefícios duradouros para a população de Lisboa.
HN – De que forma as crianças e jovens podem aceder aos serviços do projeto SOL? Existem critérios específicos de seleção, por exemplo em função do rendimento familiar?
ABA – Os serviços do SOL podem ser utilizados por qualquer utente com idade compreendida entre os 0 e 17 anos e 365 dias, que resida no concelho de Lisboa, qualquer que seja a sua condição social e/ou económica.
Para validar a inscrição é necessário apresentar o cartão de cidadão de forma a comprovar a morada de residência e a idade. No caso do documento identificativo não ser o cartão do cidadão (por ex.: Título de Residência) terá de apresentar a certidão de domicílio fiscal, obtido por via eletrónica no portal das finanças.
A utilização dos serviços e tratamentos está isenta de qualquer pagamento, à exceção da Ortodontia. As intervenções e tratamentos de ortodontia são pagas nos termos da tabela de preços definida, à exceção dos titulares do direito ao abono de família que estão isentos desse pagamento, sendo necessário a apresentação da declaração da Segurança Social para fazer prova dessa condição.
HN – Como é composta a equipa do projeto SOL e as suas competências?
ABA – A equipa do SOL é constituída por 33 profissionais: 13 médicos dentistas, 13 assistentes dentários, 3 higienistas orais e 4 técnicos administrativos. Estes colaboradores exercem a sua atividade assente em valores, atitudes e práticas humanistas, num quadro de permanente e atuante disponibilidade. É a disponibilidade, a interajuda e o querer mais e melhor para os utentes que tornam o SOL especial. Desde a equipa administrativa à equipa clínica, são eles o motor deste grande projeto que procura, diariamente, não só prestar os melhores cuidados de saúde oral, mas também disseminar o conceito de saúde oral como um direito de todos.
A equipa clínica e multidisciplinar do SOL é constituída por profissionais com conhecimento e experiência em diversas áreas da medicina dentária nomeadamente Odontopediatria, Ortodontia, Endodontia, Cirurgia Oral e Higiene Oral. Desta forma, é possível uma abordagem abrangente aos cuidados de saúde garantindo tratamentos adaptados às necessidades individuais e específicas de cada utente.
HN – Quais as estratégias utilizadas para garantir a formação contínua da equipa e a atualização em práticas de saúde oral?
ABA – O compromisso do SOL com a educação, formação contínua, investigação e pesquisa bibliográfica permite-lhe estar na vanguarda da implementação de novas práticas de saúde, nomeadamente no que se refere a tratamentos pioneiros, procedimentos mais modernos e técnicas de última geração.
O SOL reconhece que a educação e a formação contínua são fundamentais para oferecer os melhores cuidados aos utentes. Como tal, investe na capacitação da sua equipa, garantindo que todos os profissionais estejam atualizados com as mais recentes descobertas e práticas em saúde oral.
Avançamos de mãos dadas com a evidência científica mais atual e procuramos capacitar os nossos profissionais com formação atualizada e permanente, e dar a oportunidade de investigação e apresentação de casos clínicos e publicações científicas em revistas da especialidade e em congressos de sociedades científicas nacionais e internacionais.
HN – Quais têm sido os principais impactos na saúde oral das crianças e jovens atendidos?
ABA – Desde o primeiro dia de funcionamento do SOL que uma das estratégias principais da equipa para a obtenção de resultados eficazes a longo prazo é a recolha de informação e a cuidada avaliação do utente na primeira consulta. Só assim é possível estabelecer prioridades e estratégias de ação individualizadas. São registados vários parâmetros essenciais às tomadas de decisão futuras, não só de tratamento, mas também de educação e prevenção. Conseguimos avaliar o impacto dos problemas de saúde oral no bem-estar geral do paciente.
Acreditamos que nestes cinco anos um dos principais ganhos na saúde oral dos nossos utentes assenta na adoção de comportamentos e hábitos saudáveis desde cedo, com um impacto importante e positivo na qualidade de vida. Além daquele, também a consciencialização e a diminuição dos fatores de risco para uma das doenças mais prevalentes na infância, a cárie dentária.
HN – Quais os desafios mais significativos enfrentados pelo projeto SOL desde a sua implementação, e como foram superados?
ABA – Sabíamos que, de uma forma geral, o impacto deste projeto na população alvo, seria bastante positivo, nomeadamente pela possibilidade de acesso a cuidados de saúde oral de qualidade isento de custos.
Ao longo destes cinco anos de funcionamento podemos destacar o período da pandemia Covid-19 como um dos maiores e primeiros desafios desta equipa. Volvidos apenas seis meses de funcionamento o serviço viu-se obrigado a fechar as portas. Era tempo de rapidamente pensar e equacionar uma resposta que, por um lado permitisse adequar a equipa em formato teletrabalho e por outro garantir um acompanhamento aos utentes em caso de necessidade. Com muito mérito e orgulho, o SOL delineou um protocolo de atuação perante os utentes, privilegiando o contacto telefónico, e sempre que possível a resolução do problema por esta via, fazendo a triagem e seleção dos casos urgentes com necessidade de atendimento presencial. Foi possível, com um grade trabalho e esforço de todos, dar resposta a todos os pedidos de ajuda que chegaram quer através do telefone quer através do email. Além desta importante resposta, a equipa estruturou um sistema de formação online, fazendo reuniões clínicas diárias e preparando trabalho de investigação e pesquisa para produzir novos protocolos clínicos, revisões bibliográficas e apresentações científicas, no objetivo de continuar a melhorar a prestação de cuidados de saúde.
No entanto, para a equipa do SOL existirá sempre um melhor e maior desafio subjacente à sua atuação: o compromisso e a melhoria contínua da qualidade na prestação dos cuidados de saúde oral. E esse desafio é diariamente ultrapassado não só pela dedicação de todos os que constituem a equipa, mas também pelo conhecimento desenvolvido a nível científico pelos clínicos.
HN – De que forma o projeto SOL envolve os pais e cuidadores na educação e prevenção da saúde oral das crianças?
ABA – A promoção da literacia em saúde é um elemento fundamental do modelo de cuidados do serviço. Envolve capacitar os utentes e suas famílias com conhecimento para a tomada de decisões conscientes e informadas sobre a sua saúde oral. Aconselhamos e apoiamos pais/cuidadores/educadores na aquisição de comportamentos preventivos de doença, consciencializando para a educação em saúde as famílias e crianças que chegam até nós. Ensinamos estratégias e ferramentas de hábitos de saúde oral adequados e essenciais à qualidade de vida das crianças.
Mas não é só em consulta que esta educação se promove e consegue. É muito importante chegar à comunidade e ter ações de proximidade. Os profissionais do SOL participam em diversos eventos, nomeadamente, a Feira do Livro de Lisboa e outros organizados pelas diversas Juntas de Freguesia. A promoção da literacia em saúde oral junto da comunidade permite uma maior proximidade e estratégias de comunicação, capacitando as pessoas de ferramentas de prevenção e de cuidados mais eficazes.
Desenvolvemos e continuamos a desenvolver trabalhos e documentos que contêm informação científica sobre diversos temas de saúde oral e acessíveis a todos. Destacamos os variados e milhares de folhetos informativos distribuídos e duas edições de cadernos técnicos disponíveis de norte a sul do país em escolas e rede de bibliotecas municipais. Desta forma capacitamos pais, cuidadores e educadores de conhecimento, permitindo um papel ativo na prevenção e mudança da saúde oral das suas crianças.
Entrevista de Antónia Lisboa
Conheça o projeto “SOL – Saúde Oral em Lisboa”
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