Os problemas respiratórios são uma das principais preocupações de saúde para os idosos. Um em cada sete adultos com mais de 65 anos vive com um problema respiratório, como doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), asma brônquica, apneia do sono, fibrose quística, entre outras.

O trabalho da enfermeira Vanessa Ferreira, enfermeira há 12 anos e desde 2021 na equipa REMEO Home da Linde Saúde, passa pela prestação de cuidados ao domicílio e apoio atendendo às necessidades individuais de longo prazo de doentes ventilados. Apesar de cuidar dos outros através da sua profissão, Vanessa vive de perto com um diagnóstico semelhante. Há cerca de um ano e meio, o seu avô foi diagnosticado com uma doença respiratória crónica – apneia do sono – e passou a fazer terapia de servoventilação – modalidade ventilatória que está indicada para o tratamento de distúrbios respiratórios do sono –, tal como algumas das pessoas a quem a enfermeira Vanessa Ferreira presta cuidados no seu trabalho diário. 

Os avós são um dos pilares da família e o elo de ligação que se estabelece com eles tem muito significativo nas nossas vidas. Para contribuir para a sua qualidade de vida e longevidade é necessário cuidar. Há 12 anos que a Vanessa é enfermeira e tem um papel ativo em cuidar dos outros. O que a motivou a seguir a profissão de enfermagem e a dedicar-se ao cuidado de pessoas com doenças respiratórias crónicas?

Desde muito cedo que a área da saúde me interessou. Quando ingressei no curso de Enfermagem percebi que estava no caminho certo para a minha realização pessoal dentro de uma profissão que, apesar de muito exigente, é muito bonita. Como enfermeira posso estar presente em várias fases da vida (boas e menos boas) e apoiar as pessoas e suas famílias a vivenciar essas experiências da melhor forma possível.

Na minha primeira experiência profissional, em Bruxelas, trabalhei de perto com doentes com diferentes patologias respiratórias e foi aí que nasceu o meu gosto por esta área. Quando me foi dada a oportunidade de trabalhar com a equipa onde me integro e me foi explicado que poderia fazer todo o acompanhamento de pessoas com estas doenças no domicílio, não hesitei em mergulhar nesta atividade com toda a dedicação e afinco que acredito serem necessários.

Os problemas respiratórios são uma das principais preocupações de saúde em pessoas com uma idade mais avançada, sendo que um em cada sete adultos com mais de 65 anos vive com um problema respiratório. Enquanto enfermeira que presta cuidados respiratórios domiciliários, qual é a sua missão na vida destas pessoas? E de que forma o seu trabalho contribui para aliviar os sintomas das doenças respiratórias e melhorar a sua qualidade de vida?

Acredito que aquilo que fazemos tem um papel fundamental na melhoria de qualidade de vida do doente, dos seus cuidadores e familiares. A minha missão integra a filosofia da equipa a que pertenço - cuidamos para a vida, através de cuidados de saúde diferenciados no sentido de diminuir o impacto negativo da doença e capacitando todos os envolvidos na gestão da sua condição.

A contribuição que o nosso trabalho tem no alívio de sintomas passa por fazer um acompanhamento muito próximo do doente e da família, desde que inicia a terapia connosco. Esse acompanhamento visa sobretudo o sucesso da terapia, porque se o doente conseguir cumprir o que lhe é pedido terá alívio de sintomas, como é o caso da dispneia (falta de ar), um dos sintomas mais comuns nestas doenças. Além disso, é possível ainda identificar muito rapidamente mudanças no estado de saúde das pessoas, permitindo muitas vezes que se previnam idas à urgência e até mesmo internamentos, através de uma visita presencial e do contacto com o prescritor.

Trabalhar com doentes que necessitam de ventilação mecânica de longa duração pode exigir um envolvimento emocional intenso. Como lida com os desafios e as gratificações desta profissão?

Sim, por muito que seja um trabalho, entrar em casa das pessoas todos os dias e ver todo o tipo de situações pode ser exigente emocionalmente. Aquilo que faço no meu dia a dia é estar totalmente presente em cada visita, ouvir atentamente aquilo que está menos bem, tentar resolver as situações necessárias, dentro do que me é possível, e mostrar que o doente e a família têm este apoio quando precisam. Isso traz-me paz de espírito por saber que faço tudo aquilo que pode ser feito.

Há momentos stressantes, difíceis, mas felizmente faço parte duma equipa maravilhosa, com colegas com quem posso contar para me darem o apoio necessário nesses momentos. As gratificações dão-me, sem dúvida, a motivação necessária para continuar a dar o meu melhor todos os dias.

Apesar de cuidar dos outros através da sua profissão, sabemos que vive de perto com um diagnóstico semelhante ao de algumas pessoas a quem presta cuidados no seu trabalho diário. Há cerca de um ano e meio, o seu avô foi diagnosticado com síndrome da apneia obstrutivo do sono. Como recebeu esta notícia e como descreveria o impacto que este diagnóstico teve na sua família?

Recebemos a notícia com tranquilidade e ao mesmo tempo alguma preocupação, sobretudo porque achámos que o meu avô teria muita resistência a iniciar uma terapia deste género. No entanto, eu sabia que ele teria ao dispor dele todas as condições para que conseguisse fazê-lo e, surpreendentemente, correu tudo bem.

Foi necessário fazer vários ajustes, mas após algumas tentativas conseguimos que ele ficasse bem adaptado.

Como foi lidar com o diagnóstico do seu avô enquanto enfermeira que na sua atividade diária contacta com este tipo de casos? Sentiu que poderia dar maior e melhor suporte ao seu avô e/ou à sua família no que fazer após o diagnóstico?

Sem dúvida que o facto de trabalhar nesta área me deu a tranquilidade necessária para que pudesse dar-lhe todo o apoio necessário, assim como um acompanhamento próximo. Foi mais fácil explicar à família aquilo que ia ser necessário fazer, assim como o esclarecimento de dúvidas e até mesmo no contacto com a médica.

Como é que esta doença impactou e impacta a vida do seu avô?

O meu avô foi motorista e, durante muitos anos, conduziu à noite e tinha o sono muito alterado. Não conseguia descansar bem, ressonava muito, o que fazia com que adormecesse facilmente durante o dia com alguma frequência. Tinha e tem ainda queixas de cansaço que pioravam com esforços, porque além desta situação, tem também problemas cardíacos. Foi a cardiologista que fez o pedido para a realização de um estudo de sono e foi aí que soubemos que fazia muitas paragens respiratórias durante o sono.

Que tipo de tratamento o seu avô fez ou faz nos dias de hoje? E como é que isso melhorou a sua condição?

O meu avô utiliza diariamente um equipamento com terapia de servoventilação durante a noite. Isto permitiu a correção das paragens, com melhoria da oxigenação, da qualidade do sono e da qualidade de vida.

O seu avô também utiliza terapia de servoventilação. Como tem sido para si acompanhá-lo neste processo, sabendo que também auxilia outros doentes com a mesma terapia?

Eu acompanho o meu avô em tudo, então acabou por ser natural este acompanhamento. Preocupo-me se coloca bem a máscara e se está a cumprir, por saber o quanto é importante que o faça.  Por ter experiência na área, sei que nem sempre há a adesão que nós gostaríamos, principalmente quando se inicia estas terapias mais tarde, mas ele surpreendeu-me pela positiva e tem sido muito fácil de lidar com esta situação.

Que conselhos práticos daria a outras pessoas que têm familiares a lidar com doenças respiratórias crónicas, no sentido de promover a sua qualidade de vida e bem-estar?

Acredito ser fundamental haver um bom acompanhamento da pessoa. O suporte dado pela família é fundamental, tanto na realização da terapia, como no apoio psicológico que é necessário para alguém que vive com doenças respiratórias crónicas. Por isso, estar presente no dia a dia é muito importante. Além disso, seguir as indicações médicas e cumprir os tratamentos é fundamental.

No âmbito do Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, que mensagem gostaria de deixar à sociedade, ou a outros netos e familiares, sobre a importância de cuidar e amar os nossos familiares mais idosos, especialmente aqueles que enfrentam problemas de saúde?

Os meus avós tiveram um papel fulcral na minha formação enquanto pessoa. Tenho memórias muito bonitas e não conseguiria deixar de parte pessoas que me deram tanto. Os avós são um porto seguro, são momentos felizes, são amor. Os idosos são pilares da nossa sociedade que não podem, nem devem, ser esquecidos ou postos de parte e merecem ser tratados com respeito, dignidade e amor. Os profissionais de saúde existem para dar o apoio necessário nos momentos mais desafiadores, por isso, contem connosco para ultrapassar as dificuldades que os problemas de saúde trazem. Estejam ao lado deles e eles serão, sem dúvida, pessoas melhores e mais realizadas na vida.