Em declarações hoje à agência Lusa, a presidente da ULSBA, Conceição Margalha, explicou que a Unidade de Saúde Pública daquela entidade, que integra o Hospital de Beja e os centros de saúde de 13 dos 14 concelhos do distrito de Beja, tem atualmente três médicos, nomeadamente dois especialistas em saúde pública e uma interna em formação na especialidade.
Os dois médicos especialistas candidataram-se a um concurso de mobilidade e ficaram colocados na Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo, para onde vão ser transferidos, acrescentou.
Se os dois especialistas não forem substituídos, a terceira médica interna não poderá continuar na ULSBA sem tutor e terá de sair para continuar a formação na especialidade noutra unidade de saúde, frisou.
Dado tratar-se de uma transferência ao abrigo de um concurso que "não pode ser impedido", a ULSBA, "perante a atual situação de pandemia, está a desenvolver esforços para a colocação dos dois médicos especialistas na ARS de Lisboa e Vale do Tejo não se efetivar de imediato e ser protelada" até haver uma solução, indicou Conceição Margalha.
A responsável frisou que a ULSBA "não pode contratar diretamente médicos de saúde pública" e vai ter que esperar pelo concurso nacional que o Ministério da Saúde irá lançar no final deste ano para contratar e colocar médicos recém-especialistas em unidades do Serviço Nacional de Saúde.
Se os clínicos saírem sem serem substituídos, a ULSBA "ficará sem médicos de saúde pública, mas não sem conseguir dar resposta à pandemia" porque "tem outros cinco médicos de família que desempenham funções de autoridade de saúde e têm colaborado no processo" de gestão da covid-19, frisou.
"Estes cinco médicos continuam a trabalhar com a ULSBA, mas trabalham nos centros de saúde e não podem estar a tempo inteiro na Unidade de Saúde Pública" e, por isso, a saída dos clínicos sem a necessária substituição poderá trazer "algumas consequências e dificuldades" à gestão da pandemia, admitiu Conceição Margalha.
No caso de a ULSBA ficar sem médicos de saúde pública, explicou, "a maneira de operar" da Unidade de Saúde Pública terá de ser "reajustada" com esses outros médicos, o que "será difícil".
Isto "porque, quanto mais tarefas se atribuem a profissionais de saúde já sobrecarregados, mais difícil será a operacionalização das tarefas todas", sublinhou.
Contactado pela Lusa, o presidente do Conselho Sub-regional de Beja da Ordem dos Médicos (OM), Pedro Vasconcelos, mostrou-se "bastante preocupado" com a situação, frisando que a ULSBA ficar sem médicos de saúde pública "pode ter consequências dramáticas na capacidade de resposta" do Baixo Alentejo na gestão da pandemia de covid-19.
Pedro Vasconcelos disse que a situação da ULSBA "preocupa bastante" a OM, "particularmente numa altura em que o contributo da saúde pública é fundamental para a boa gestão" da pandemia.
"Vai haver uma dificuldade muito maior na gestão de dados e contactos e na avaliação de situações da pandemia que tem de ser a saúde pública a aquilatar e, por consequência, isso não vai trazer a fluência necessária para momentos de dificuldade como o que estamos a viver e em que um dos esteios principais para a boa execução das tarefas é conseguir ter quem as ponha rapidamente em prática no terreno", alertou.
O responsável frisou que "é ilegal qualquer médico exercer funções de uma especialidade que não seja a sua" e disse que a OM espera que "possa haver uma solução" para a situação.
Tendo em conta "a excecionalidade dos tempos que vivemos", poder-se-á "eventualmente protelar a transferência dos dois médicos, sem pôr em causa a legitimidade dos seus pedidos", e para "evitar haver um hiato sem médicos de saúde pública" na ULSBA e, "naturalmente, será necessário contratar outros médicos para os substituir", o que "não será fácil", disse.
"Tudo isto remete-nos para o problema mais antigo e profundo da dificuldade em fixar médicos no interior do país", o qual "vai ter que ser visto de uma vez por todas pelos vários níveis das diversas tutelas", porque "não se podem suceder situações destas e que "ainda mais graves se tornam" quando acontecem "em momentos particularmente difíceis como o que estamos a viver", rematou Pedro Vasconcelos.
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