Estima-se que cerca de 20% das pessoas com cancro tenham também diabetes e que as pessoas com diabetes apresentem um maior risco de desenvolver determinados tipos de cancro, além de menos anos de sobrevivência em média.
“As doenças não transmissíveis, como é o caso do cancro e da diabetes, estão entre as dez ameaças à saúde global identificadas pela OMS. A situação agrava-se quando pensamos nas pessoas que têm as duas doenças em simultâneo”, alerta José Manuel Boavida, presidente da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP), que a propósito do Dia Mundial de Luta Contra o Cancro, que se assinala anualmente a 4 de fevereiro, reforça a importância do diagnóstico precoce de cancro em pessoas com DT2.
A taxa de mortalidade em pessoas com DT2 devido a doenças cardiovasculares tem vindo a decrescer, segundo apontam alguns estudos, o que parece ter criado uma transição para outras causas de morte, como é o caso do cancro. A proporção de mortes por cancro nas pessoas com diabetes, entre as mortes por todas as causas, permanece alta (> 30%) em idades jovens, e tem aumentado constantemente em idades mais avançadas, aponta o estudo “Desigualdades nas tendências de mortalidade por cancro em pessoas com diabetes tipo 2: estudo populacional de 20 anos na Inglaterra”.
Em 2018, a mortalidade por cancro aumentou na franja dos 75 anos ou mais, face a 1998. Este aumento verificou-se especialmente no caso dos cancros colorretal, do pâncreas, hepático e do endométrio. Em contraste com a população geral, a taxa de mortalidade devido a estes cancros é quase duas vezes maior em pessoas com diabetes tipo 2.
Ainda assim, segundo o mesmo estudo, a mortalidade por todas as causas em pessoas com diabetes tipo 2 diminuiu para todas as idades. As conclusões do estudo sugerem assim que as estratégias de prevenção e deteção do cancro merecem um nível de atenção semelhante ao de outras complicações como as doenças cardiovasculares.
“Estas conclusões mostram que são necessárias estratégias de prevenção eficientes com medidas que promovam ambientes favoráveis à saúde e acompanhamento médico para controlo da diabetes. O diagnóstico precoce de cancro em pessoas com diabetes, é essencial e salva vidas! Para o conseguir, é crucial apostar também em estratégias de deteção precoce e encaminhamento adequado”, explica João Filipe Raposo, diretor clínico da APDP.
O estudo “Desigualdades nas tendências de mortalidade por cancro em pessoas com diabetes tipo 2: estudo populacional de 20 anos na Inglaterra” foi realizado entre 1998 e 2018, e baseou-se em mais de 130.000 adultos com 35 anos ou mais e diabetes tipo 2. O objetivo foi descrever as tendências a longo prazo das taxas de mortalidade por cancro em pessoas com diabetes tipo 2, tendo como base subgrupos definidos por características sociodemográficas e fatores de risco.
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