A Carochinha, para além de mimada, porque se consta que fazia birras por não gostar de sopa de tomate, era uma Gold Digger e ninguém toca nesse assunto. Para começar, achou cinco contos no chão e foi perguntar à vizinhança que destino lhes daria, em vez de lhes tentar encontrar o dono. A vizinhança também tem culpas no cartório por tê-la aconselhado da pior forma. Foi à loja dos chineses, colocou o “outfit galdéria” e foi para a varanda perguntar quem é que queria casar com ela. Mandar um piropo na rua, dá multa, mas ir para a varanda leiloar a franga é charme. Como se não chegasse o aparato, ainda se faz valer de dinheiro alheio para se promover. Uma meretriz, portanto.

Reza a história que o primeiro a aparecer foi um boi. Deve ter sido um daqueles bombados do ginásio, todo rebarbadão dos esteróides. A Carochinha disse que não queria casar com ele, porque ainda lhe acordava os putos durante a noite. Portanto, ou já vem de outro casamento ou já estava a fazer planos em ter uma ninhada. Claro que o boi, ao ouvir isto, arrancou logo sem fazer pó.

A seguir apareceu um burro. Aparece sempre, por acaso. Disse-lhe que também não o queria, porque lhe acordava os meninos de noite. Calhou bem porque, devido ao seu elevado grau de imbecilidade, até hoje ainda não sabe o que lhe aconteceu.

Continuou aos gritos a perguntar quem é que queria casar com ela, que era bonita e perfeitinha. Lá está: apareceu um porco. Deve ter-lhe dito algo como “fazia-te um fio terra até meteres o quadro do prédio abaixo”. Claro que ela não quis, porque isso envolvia, abrir portas, voltar a ligar o quadro e acordava-lhe os meninos de noite. Obviamente que o porco inspirou fundo, cuspiu para o chão, arrepanhou os túbaros e seguiu viagem, proferindo insultos sexistas.

De seguida, passou um cão. Até ao cão ela se fez. Claro que, se os outros lhe acordavam os garotos, um cão nem se fala. Não o adoptou, não ligou para o canil e deixou que permanecesse abandonado. Os protectores dos direitos dos animais que sonhem que isto aconteceu e ainda vai ter problemas. E nem sou eu a dizer, é a Bastet e o Cabeleira.

Depois daquela gritaria a perguntar incessantemente quem raio é que queria casar com ela, aparece um gato. Um gatão, leia-se. Daqueles modelos que conseguem lavar a roupa nos abdominais. Claro que a Carochinha queria muito, mas teve de pedir escusa, porque iam acordar os meninos à noite com a gritaria “à la Pornhub”.

Ainda a Carochinha não tinha arranjado solução para tamanha rameirice, quando lhe aparece um rato. Daqueles todos gatunos - até se consta que era banqueiro. Pediu-lhe para ele falar mas, numa de evitar escutas e com receio do segredo de justiça, pouco ou nada disse. A Carochinha ficou maravilhada e quis logo casar com ele, porque tinha a certeza que não lhe acordava as crias.

Ao que parece, casaram-se mesmo. O banqueiro foi envelhecendo e começaram a chamar-lhe João Ratão, pelo crescimento exponencial da sua ratice. Era muito bom larápio e péssimo nas lides domésticas, porque estas em nada conseguiam exponenciar a sua arte de burla. Excepto quando, certo dia, ficou de tomar conta da panela que estava ao lume enquanto a Carochinha foi à missa. Armou-se em lambão e quis comer a sopa enquanto estava ao lume. Tropeçou e caiu com a zona púbica dentro da sopa, morrendo com essa região toda cozida.

Quando a Carochinha chegou a casa, ficou em choque e não conseguiu chorar. É que consta-se que desatou aos gritos, numa daquelas birras infantis, porque sempre disse que não gostava de sopa de tomate.