Temos vivido uma época em que os avanços da Medicina da Reprodução e da Obstetrícia têm vindo a desafiar os limites da idade da gravidez na mulher. A definição de idade materna avançada e gravidez já nem é consensual, por se verificar um número crescente de mulheres com gravidezes depois dos 35-40 anos.

No entanto, a gravidez espontânea após aos 50 anos é rara, por coincidir com a idade média de ocorrência da menopausa. Na Menopausa, ocorreu uma exaustão do capital de ovócitos duma mulher. A reserva ovárica está presente desde o nascimento; ativa-se na puberdade e esgota-se na menopausa.

Pela Legislação Portuguesa, os tratamentos de Procriação Medicamente Assistida só são permitidos nas mulheres até os 49 anos e 364 dias.

A grávida mais idosa conhecida, resultante de um programa de doação de ovócitos, foi reportada na Índia, aos 70 anos, com uma gravidez gemelar e escolha de sexo fetal.

Este caso, e outros com desfechos inicialmente favoráveis, devem ser refletidos por todos nós nas estratégias actuais e futuras da possibilidade de gravidez na menopausa.

Atualmente, estas possibilidades passam por dois processos: a doação de ovócitos, ou a preservação prévia de ovócitos da própria.

Aprendemos, nestes programas, que a probabilidade de gravidez depende da idade dos ovócitos e não da idade do útero. Daí que a possibilidade de gravidez seja possível depois da idade da menopausa de forma artificial, mas não espontânea.

O declínio da fertilidade que ocorre a partir dos 35 anos é quantitativo e qualitativo. A ocorrência de alterações nos cromossomas dos ovócitos aos 42-45 anos atinge os 50% e é de 100% depois 45 anos.

A preservação de ovócitos é possível e já não é considerada um processo experimental, permitindo uma taxa de sobrevivência ovocitária acima dos 90%. É um processo que faz parte do tratamento oncológico de mulheres jovens com necessidade de tratamentos com ameaça de originarem infertilidade.

No entanto, tem vindo a ser uma opção crescente nas mulheres com o intuito de preservar os seus ovócitos, de forma a serem utilizados no futuro, adiando o seu projeto de maternidade. Inicialmente designado por “social freezing”,

No aconselhamento da preservação de ovócitos devemos ser honestos na explicação das possibilidades verdadeiras de gravidez posterior e que depende da idade em que os ovócitos foram colhidos, de forma a não se criarem falsas expectativas.

A preservação de ovócitos deve ocorrer até aos 35-36 anos. Se forem colhidos depois dessa idade a probabilidade de gravidez passa para metade.

Implicações

A possibilidade da gravidez na menopausa que a PMA abriu levanta questões de saúde na mulher grávida após os 40-50 anos, com maior risco de pré-eclampsia ou de diabetes, por exemplo.

As implicações e questões sociais não podem ser esquecidas, devendo servir de base para uma discussão alargada para a promoção da gravidez em idades jovens, sem penalizações laborais ou na carreira profissional das mulheres.

Estas notícias também podem dar a noção errónea que a as técnicas de Procriação Medicamente assistida possibilitam a gravidez sempre. Mas a idade é um limite.

Um artigo do médico Luís Ferreira Vicente, Coordenador do Centro Procriação Medicamente Assistida do Hospital Lusíadas Lisboa, Vice-Presidente Sociedade Portuguesa de Medicina de Reprodução (SPMR) e Presidente da Secção de Endoscopia da Sociedade Portuguesa de Ginecologia (SPEG).

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