Ao abrir as discussões, o secretário-geral da ONU, António Gurerres, criticou os países que "ignoraram as recomendações da OMS", considerando que o mundo paga "um preço alto" pelas estratégias divergentes. "Como resultado, o vírus espalhou-se por todo o mundo e agora está a dirigir-se para os países do Sul, onde pode ter efeitos ainda mais devastadores", acrescentou, pedindo um "grande esforço multilateral".
"Espero que a procura de uma vacina possa ser o ponto de partida", disse na reunião que termina na terça-feira.
Neste sentindo, o presidente chinês Xi Jinping garantiu que uma eventual vacina chinesa se tornará um "bem público mundial", prometendo que o seu país dedicará dois mil milhões de dólares em dois anos à luta global contra a COVID-19.
Numa mensagem de vídeo, o presidente francês Emmanuel Macron também disse que, se uma vacina for descoberta, "será um bem público global, à qual todos deverão ter acesso".
Apesar da escalada de tensões entre Washington e Pequim, os países esperam adotar durante esta reunião uma longa resolução promovida pela União Europeia, que apela a um "acesso universal, rápido e equitativo a todos os produtos (...) necessários para a resposta à pandemia".
O texto também pede o lançamento "o mais rápido possível (...) de um processo de avaliação" para examinar a resposta sanitária internacional e as medidas tomadas pela Organização Mundial da Saúde face à pandemia.
A este respeito, o chefe da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, declarou na reunião que lançaria uma investigação "o mais rápido possível, no momento apropriado, para rever as experiências e lições aprendidas e fazer recomendações para melhorar a preparação e resposta nacional e global à pandemia".
A resolução também pede à OMS que "colabore estreitamente com a Organização Mundial de Saúde Animal, a Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas e os países (...) com o objetivo de identificar a fonte zoonótica do vírus e determinar por que via foi introduzido na população humana, (...) em particular por meio de missões científicas e de colaboração de campo".
"Nenhum assunto evitado"
Se a resolução for adotada, "será um resultado importante porque a OMS será o primeiro fórum mundial a concordar unanimamente sobre um texto", disse uma fonte diplomática europeia. "Nenhum assunto foi evitado" na resolução, como "a reforma da OMS e, em particular, das suas capacidades que se mostraram insuficientes para evitar uma crise dessa magnitude", garantiu esta fonte à AFP.
Resta saber se os Estados Unidos apoiarão a resolução que não exige uma investigação imediata sobre a origem do vírus ou as ações tomadas pela OMS em resposta à pandemia. Washington acusa Pequim de ter ocultado a escala da epidemia e a OMS de ter falhado na gestão da pandemia. Por essas críticas, o governo de Donald Trump suspendeu a contribuição americana à OMS.
A questão da origem do vírus também atinge as relações China-Estados Unidos. Washington exige há várias semanas uma investigação sobre a origem do vírus, porque suspeita que Pequim ocultou um acidente em laboratório que estaria na origem da pandemia. Também acusa a China de tentar piratear uma pesquisa americana sobre uma vacina.
Ao mesmo tempo, o governo americano acredita que a OMS negligenciou um alerta precoce de Taiwan sobre a gravidade do coronavírus - o que a agência da ONU nega. E os Estados Unidos, apoiados por alguns países, pediram à OMS que "convide Taiwan" para o organismo, apesar da oposição da China.
Depois de ser observador, Taiwan foi excluído da OMS em 2016, ano em que Tsai Ing-wen chegou ao poder. A presidente recusa-se a reconhecer o princípio da unidade da ilha e da China continental no mesmo país.
Em Genebra, a OMS assegura que cabe aos Estados-membros decidir se aceitam Taiwan ou não. Pouco antes da abertura da reunião, o chefe da diplomacia taiwanesa, Joseph Wu, afirmou que tinha concordado em adiar esse debate para que as discussões do dia pudessem concentrar-se na pandemia.
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