Em declarações à agência Lusa a propósito do alerta da Organização Mundial de Saúde, que se manifestou preocupada com o acelerar dos novos casos nalguns países da Europa, o especialista lembrou que “qualquer circunstância em que haja multiplicação acelerada e descontrolada do vírus aumenta a probabilidade de aparecer uma nova variante”.
Diz que não é automático que tal variante escape à proteção conferida pelas vacinas, mas admite que há esse risco: “Não quer dizer automaticamente que vá aparecer uma variante que escapa às vacinas, mas é um risco. Não quer dizer que seja uma fatalidade, mas quando deixamos vírus multiplicar-se livremente (…) criamos uma situação propícia a esse perigo”.
O investigador do Instituto de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa admite que a Europa, com o ritmo de crescimento dos novos casos nalguns países, conjugado com taxas mais baixas de vacinação, “pode contribuir para esse risco”, mas lembra que o continente europeu não está numa situação homogénea.
“Há países numa situação muito difícil, como os do leste e alguns do Centro da Europa, e outros ainda numa situação relativamente boa, como Portugal. Mas, claro que, fazendo parte da mesma comunidade, estes países não podem garantir que vão continuar nessa situação boa, pois estão expostos â circulação das pessoas”, afirmou.
O especialista considera inevitável que se tenham de manter algumas medidas de proteção, reforçando eventualmente outras, sobretudo com o aproximar do Inverno e do Natal, quando a mobilidade das pessoas e os contactos aumentam.
“Vimos no Natal passado que este período é especialmente propicio a contágios e à propagação do vírus. Não estamos na mesma situação, e não voltaremos a viver a mesma situação em termos de intensidade porque coincidiu com a entrada da variante do Reino Unido e porque já temos uma população bastante vacinada, mas é preciso atenção”, considerou.
O investigador insiste que é preciso aprender com o passado, sobretudo por causa das condições climatéricas e da cultura de Natal, em que há maior mobilidade e contactos entre as pessoas. "E isto é propicio à propagação do vírus e a contágios”, insiste.
“Mesmo tendo a população vacinada, sabemos que as vacinas não impedem por completo o contágio e a transmissão e é expectável que a situação epidémica piore no Natal”, acrescentou.
Miguel Castanho sublinha que as vacinas são eficazes ao evitar a doença grave e a hospitalização, mas lembra que o chamado ‘covid longo’ é um problema “de dimensões consideráveis”.
“Se muita gente adoece, ainda que com formas mais leves ou moderadas da doença, estamos a arriscar a que muitos sofram ao longo de vários meses ou anos as sequelas do vírus e isso também tem custos”, lembra, sublinhando: “Não podemos corre esse risco”.
Face ao aproximar do Inverno e do Natal, Miguel Castanho defende que se devem reconsiderar algumas medidas de proteção individual, designadamente o uso de máscara sempre que se contacte com outras pessoas.
“Estamos com parâmetros de incidência semelhantes a junho e numa situação que já vimos disparar e ser o início de uma fase em que as coisas pioram, mesmo estando mais vacinados”, alertou.
Sobre as doses de reforço, Miguel Castanho é prudente e defende que “faz sentido acelerar a análise dos dados de modo a que se perceba se a terceira dose, a de reforço, é necessária para todos faixas etárias ou não”.
“Não devemos avançar para a terceira dose indiscriminadamente. Temos de perceber primeiro que faixas etárias beneficiam. É preciso ver se a lógica que se aplica aos maiores de 80 anos também se aplica a outras faixas etárias”, concluiu.
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