"Pomos mesmo em questão a veracidade desses números. Seria importante que o Ministério da Saúde dissesse para onde os contratou, porque vamos aos hospitais e aos centros de saúde e não os encontramos", afirmou o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Jorge Roque Cunha, à agência Lusa.
Segundo o Portal da Transparência do Ministério da Saúde, o SNS tinha ao seu serviço um total de 147.075 profissionais de saúde em janeiro - dos quais 31.406 médicos e 48.739 enfermeiros - mais 9.765 do que em março de 2020.
Os mesmos dados adiantam que, no mesmo período, o número de médicos aumentou dos 30.297 para os 31.406, um crescimento de 3,6%.
Nas contas do sindicato, o número de médicos não aumentou, mas pelo contrário diminuiu e são "menos 200".
"Esta situação não seria por si grave se não soubéssemos que se vão reformar, nos próximos três anos, cerca de 1500 médicos de família e 1800 médicos hospitalares", lembrou.
No último ano, segundo o sindicato, reformaram-se cerca de 400 médicos de família e 550 a 600 médicos hospitalares, concluindo que as novas "contratações não chegam para os substituir".
Para o sindicalista, além do número de médicos que saíram do Serviço Nacional de Saúde (SNS) por motivos de aposentação, "é politicamente desonesto" incluir, entre os novos contratados, os médicos reformados contratados, quando o sindicato estima que pelo menos 150 dos 400 contratados "não estão a fazer atividade assistencial".
Apesar das novas contratações, "a urgência de pediatria do Hospital Amadora - Sintra não voltou a abrir, não há urgência de pediatria no sul do país, várias vezes por semana as urgências de ginecologia/obstetrícia em Lisboa não aceitam grávidas", exemplificou para concluir que "não adianta o Ministério da Saúde tapar o sol com a peneira".
O secretário-geral do SIM sublinhou que "era fundamental ter um SNS mais atraente, impedindo a saída dos médicos para o estrangeiro ou para hospitais privados e evitar que, nos concursos para a contratação de especialistas, "mais de 40% das vagas hospitalares e 25% para os médicos de família fiquem por ocupar".
Os problemas no SNS vieram a agravar-se com a pandemia de covid-19, a começar pelo número de profissionais infetados ou em isolamento profilático, que ficaram ausentes do serviço.
Apesar de existirem novas contratações, o trabalho dos médicos tem vindo a estar focado no combate à pandemia de covid-19 desde há um ano, estando em atraso toda a restante atividade, o que revelador da carência de profissionais, enfatizou o sindicato.
"As cirurgias e as consultas para os doentes não covid estão muito mais atrasadas do que estavam no passado", referiu.
Já nos centros de saúde, além de haver cerca de um milhão de utentes que continuam sem médico de família, estes profissionais têm agora mais tarefas, como a assistência de doentes nas Áreas Dedicadas às Doenças Respiratórias, o contacto telefónico para vigilância de infetados pela covid-19 e até a participação na vacinação contra a covid-19.
"Estamos a falar de 2000 médicos de família que não estão a fazer aquilo que é o seu trabalho: vigiar os hipertensos e os diabéticos e fazer os rastreios do cancro do colo do útero e do cancro do cólon", entre outras tarefas regulares.
"Daqui a uns anos iremos pagar muito caro este não acompanhamento", alertou, acrescentando que o número de mortes associados a causas não covid já aumentou, em resultado de os cidadãos "irem mais tarde às urgências".
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