Na 12ª edição do Relatório destacam-se as mortes que as doenças respiratórias continuam a fazer e o facto de menos de 2% dos doentes com indicação para reabilitação respiratória a terem acesso a este tratamento em Portugal.
José Alves, pneumologista que assumiu a presidência do Observatório Nacional de Doenças Respiratórias e da Fundação Portuguesa do Pulmão reconhece que “há muito a melhorar, a todos os níveis, na classe médica, nos profissionais ligados à saúde, nas metodologias definidas e a definir, na forma de as implantar, no relacionamento das instituições, na forma como se pensam a elas próprias, como se relacionam com a tutela e na forma como a tutela se relaciona com todos. Há muito a melhorar na uniformização e na equidade da prestação dos serviços, tratamentos e atos médicos na área da saúde respiratória”.
No entanto, sublinha que “apesar de tudo o que devemos melhorar, pertencemos ao grupo restrito de países com a esperança de vida superior a 80 anos.
As doenças do sistema respiratório são uma das principais causas de morte na União Europeia, incluindo Portugal onde continua ser a terceira causa de morte. Sendo que a neoplasia maligna de traqueia, brônquios e pulmão é a doença respiratória que mais mata, seguida das doenças crónicas das vias respiratórias inferiores. A pneumonia (excluindo o cancro do pulmão) é de longe a maior causa de letalidade respiratória em Portugal – cerca de 55 mil mortes por 100 mil habitantes, um valor muito acima da média europeia que é de cerca de 25 mil mortes.
A taxa de mortalidade da pneumonia é superior a 20% e corresponde a 40% das mortes intra-hospitalares com as principais patologias respiratórias (DPOC, asma brônquica, fibroses pulmonares, neoplasias, bronquiectasias, doenças pleurais, insuficiência respiratória e pneumonias). E é nos distritos de Beja (com 25% de óbitos), Setúbal (24%), Portalegre (22%), Santarém e Faro (ambos com 21%) que mais se morre com pneumonia.
Só com neoplasias, insuficiência respiratória, pneumonia, DPOC e asma brônquica morreram em 2015 22.767 pessoas, mais 4.392 do que em 2006, o que representa um aumento de 24%. O número de internamentos por pneumonia, insuficiência respiratória, DPOC, neoplasias, asma, pleura, tuberculose, bronquiectasias e gripe também aumentou 35% de 2006 para 2015.
Ainda assim, nem todas as doenças respiratórias mostraram uma evolução negativa. Os internamentos por DPOC diminuíram 11,33% entre 2006 e 2015, mas verifica-se um aumento de 67% nos internamentos com ventilação mecânica.
Tendo em conta o grande impacto que as doenças respiratórias têm na vida das pessoas e do número de mortes que provocam, este relatório revelou algo alarmante: menos de 2% dos doentes com indicação para reabilitação respiratória são tratados nos 25 centros de reabilitação existentes em Portugal. “Estes dados demonstram que os pacientes e a comunidade médica ainda não estão sensibilizados para a importância da reabilitação respiratória e para os resultados muito significativos que dela se conseguem”, comenta o Presidente do ONDR.
O Relatório ONDR 2017 propõe ainda várias medidas à promoção da saúde e prevenção nas doenças respiratórias, alertando para a importância do diagnóstico precoce, de melhorar a acessibilidade aos cuidados de saúde, nomeadamente à Reabilitação Respiratória, da vacinação e da promoção de informação.
O Relatório do ONDR conta, este ano, com a colaboração de 12 especialistas de renome da área da pneumologia e do sector da saúde em Portugal, simultaneamente conhecedores da realidade teórica e das necessidades práticas.
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