De acordo com os dados divulgados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, há mais sete vagas para os cursos de Medicina no concurso nacional de acesso ao ensino superior relativamente ao ano passado, totalizando 1.541.
Para o presidente da ANEM, Vasco Cremon de Lemos, “não faz sentido aumentar o número de vagas em Medicina”, considerando que este aumento “em nada resolverá os problemas” que Portugal enfrenta neste momento na saúde.
No seu entender, o aumento do número de vagas “diminuirá a qualidade da formação médica”, bem como “a oportunidade dos estudantes terem contacto personalizado com os doentes”.
Diminuirá também os recursos disponíveis para cada estudante, os lugares disponíveis em termos de infraestruturas, uma vez que, disse, “as faculdades estão preparadas para ter muito menos estudantes do que os que já recebem atualmente, e este aumento em nada apoiará isso e, acima de tudo, diminuirá a humanização da medicina”.
Para Vasco Cremon de Lemos, os “únicos aumentos” que se observam são “o aumento do subfinanciamento da formação”, dos rácio estudante/tutor e estudante/doente, o que, na sua opinião, “trará implicações éticas muito graves para a prestação de cuidados para o futuro da profissão e, sobretudo, para a formação médica”.
Afirmando que não consegue perceber “o racional por trás desta medida”, o presidente da ANEM manifestou ainda preocupação com o facto do número de vagas poder aumentar.
“Ontem [domingo] o secretário de Estado [do Ensino Superior, Pedro Nuno Teixeira], indicou que este aumento pode crescer até às 200 vagas e isso é uma coisa que nos preocupa bastante”, sublinhou.
Em declarações à RTP3, Pedro Nuno Teixeira afirmou que “a Medicina merece uma explicação, devido a alterações” que foram feitas.
Antes, o curso de Medicina reservava 15% de vagas para licenciados em áreas próximas, vagas essas que, se não fossem preenchidas, eram perdidas.
Agora, essas vagas não preenchidas reverterão para o concurso nacional de acesso, pelo que o número de vagas disponíveis para Medicina poderá aumentar até duas centenas, disse o governante.
Para Vasco Cremon de Lemos, este incremento de 200 vagas a nível nacional “seria catastrófico”: “Seria o maior aumento nos últimos anos e é algo para o qual acredito genuinamente que as faculdades não estão preparadas” devido à falta de financiamento.
Questionado se não resolveria o problema da falta de médicos, explicou que “formar médicos não acrescenta nada a esse problema: Apenas aumentará o número de profissionais, como em qualquer profissão”.
“A questão aqui é onde estão os médicos e onde é que nós queremos que os médicos estejam, porque quando falamos da falta de médicos, referimo-nos à falta de médicos no SNS [Serviço Nacional de Saúde] e não há falta de médicos ‘per si”, referiu Vasco Cremon de Lemos.
Defendeu ainda que, para reter os médicos no SNS é preciso criar condições atrativas e melhorar as condições de trabalho e qualidade de vida dos profissionais.
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