Em declarações à agência Lusa, Carla Rego, médica pediátrica e professora da FMUP, afirmou hoje que o estudo, publicado na revista internacional “Progress in Cardiovascular Diseases”, visava “investigar os efeitos do futebol na obesidade infantil”.

“O interesse do futebol prende-se com alguns aspetos muito particulares desta modalidade. A primeira é o impacto que tem em termos de mobilizar vontades na população, é uma modalidade que mexe com as pessoas e é fácil de ser aceite. Segundo, porque é relativamente barata em termos de prática e terceiro porque é uma modalidade à escala mundial”, afirmou.

O estudo, financiado pela UEFA e também desenvolvido por investigadores da Faculdade de Desporto (FADEUP) e da Faculdade de Farmácia (FFUP), envolveu 40 crianças com excesso de peso acompanhadas numa consulta de pediatria por excesso de peso e obesidade em hospitais do Porto (CUF e Hospital de São João).

“Antes de se iniciar qualquer tipo de intervenção, fizemos uma avaliação do estado de nutrição, em que caracterizamos a composição corporal, caracterizamos o desenvolvimento sexual porque durante a puberdade há mudanças que são precisas ter em conta, fizemos analises para avaliar marcadores metabólicos e aplicamos inquéritos da vertente psicossocial”, esclareceu Carla Rego, também investigadora do CINTESIS.

Depois de avaliados os vários parâmetros, as crianças foram divididas em dois grupos, sendo que metade frequentou três sessões extracurriculares de futebol e a outra metade praticou diferentes atividades de pavilhão, como jogos, corrida e ginástica.

No fim da intervenção, os investigadores voltaram a avaliar os parâmetros anteriormente descritos, tendo concluído que o grupo que praticou futebol apresentou uma “eficácia superior nos diferentes parâmetros cardiovasculares e metabólicos avaliados” comparativamente com o outro grupo.

“Conseguimos perceber que o grupo que praticou futebol três vezes por semana para além das aulas de educação física curriculares obteve maior e melhor impacto nos seus marcadores de estado nutricional, metabólicos, comportamentais e psicossociais do que o grupo”, salientou.

Ainda que o impacto do futebol tenha sido “significativamente mais marcado e benéfico do que a prática de exercício físico”, o grupo que praticou diferentes atividades de pavilhão também “mudaram favoravelmente os seus parâmetros”.

Lembrando que em Portugal “32% das crianças têm excesso de peso, das quais 14% são obesas”, Carla Rego afirmou que a primeira comorbilidade em idade pediátrica é a “comorbilidade comportamental e psicossocial, muito antes da ortopédica e metabólica”.

“O problema é que na maioria das vezes é francamente desvalorizada ou passa-nos à margem. De facto, um desporto de equipa, como o futebol, em que os miúdos se envolvam uns com os outros, em que o treinador saiba elevar a autoestima de cada criança em função das pequenas conquistas que ela vai tendo, tem um impacto muito maior do que quando o trabalho é feito sozinho mesmo no meio de outras crianças”, sublinhou.

Acrescentando que o trabalho de equipa “tem um efeito brutal para alavancar a autoestima, autoconfiança e partilha de responsabilidades”.

“Por isso é que na adolescência um desporto de risco é francamente mais importante e protetor de comportamentos de risco e na pandemia isso foi notório”, observou.