“Estamos a construir um programa que possa progressivamente integrar mais doentes. Nestas duas patologias [cancro da mama e esclerose múltipla], sabemos que temos mais de um milhar que são candidatos potenciais. Se 100 aderirem, podemos avançar para outra área [doença] mais rapidamente. Se aderirem 500 ou mais, se calhar teremos de fasear o avançar do projeto porque se pretende que tenha robustez”, explicou à Lusa o coordenador do programa, Carlos Lima Alves, médico do CHUSJ.
O Farma2Care é um projeto do CHUSJ, em parceria com a Ordem dos Farmacêuticos (OF), a Associação Nacional de Farmácias (ANF) e a Associação de Distribuidores Farmacêuticos (ADIFA), que visa o aumento da proximidade e contribui para a adesão dos doentes à terapêutica.
A iniciativa consiste em disponibilizar medicação habitualmente cedida nas farmácias hospitalares em farmácias comunitárias, ou seja, as chamadas farmácias de rua.
Desta forma, exclui-se a obrigatoriedade de deslocação dos doentes ao CHUSJ exclusivamente para aquele fim.
O programa Farma2Care teve início em dezembro de 2019 com doentes com infeção por VIH/Sida.
De acordo com dados do CHUSJ para doentes com VIH/Sida foram dispensadas 243 caixas de medicamentos até ao presente.
Carlos Lima Alves sublinha que o Farma2Care destina-se a quem “pode de facto autoadministrar a medicação em casa em segurança”, frisando que têm de estar reunidas “condições de estabilidade terapêutica muito especificas”.
“Não são todos os tipos de tratamento que permitem isto”, salientou, acrescentando que este processo poderá incluir “teleconsultas com os farmacêuticos hospitalares para avaliar a adesão ao tratamento em casa”, bem como “dar formação aos farmacêuticos das farmácias comunitárias”.
Na prática, a grande diferença está na receção do medicamento que o Estado português se compromete a fornecer mas que não está disponível numa farmácia comunitária, ou através da tradicional receita médica.
Agora, quem aderir, poderá selecionar uma farmácia da rede que faz parte do programa, cabendo ao hospital fazer com que o medicamento lá chegue.
São potenciais candidatas pessoas que, pela distância, limitações motoras ou dificuldades sociais e económicas, entre outros fatores, têm dificuldade e levantar medicação no hospital.
Além de “proporcionar uma maior comodidade no acesso à terapêutica”, este programa tem como objetivo “aumentar a probabilidade de cumprir a terapêutica sem falhas”, referiu Carlos Lima Alves.
O responsável lembra algumas das justificações atuais para não cumprir a medicação: “Dizem que não têm dinheiro para ir ao hospital ou não têm condições físicas, por exemplo”.
Por outro lado, realça como “muito importante valorizar o papel das farmácias comunitárias” e “a interação com um farmacêutico de proximidade”.
“Quando o utente vai à farmácia comunitária para levantar um medicamento hospitalar e, ao mesmo tempo, compra outros, podem ser identificados precocemente problemas e dados alertas” sobre uma eventual toma de medicamentos que conflituem entre si, acrescentou.
“Queremos que o hospital seja uma instituição aberta e capaz de receber sempre aqueles que necessitam, mas não queremos obrigar as pessoas a vir ao hospital por motivos em que a sua situação possa ser resolvida de outra forma”, concluiu.
Carlos Lima Alves admite que este alargamento também poderá ter consequências positivas na gestão de acesso ao hospital devido à pandemia da covid-19.
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