O Brasil é um dos 34 países do mundo que proíbe a venda de cigarros eletrónicos e “é um dos 15 de sucesso em termos de regulação no mundo”, disse o investigador, que falava à agência Lusa após o alerta da Organização Mundial de Saúde (OMS), no relatório ‘Electronic Cigarettes Call to Action’, para o “uso alarmante” de cigarros eletrónicos por crianças e jovens.
Segundo a OMS, os adolescentes entre os 13 e os 15 anos utilizam cigarros eletrónicos em taxas mais elevadas do que os adultos em todas as regiões da OMS.
Paulo Corrêa afirmou que “os dispositivos eletrónicos para fumar, como o cigarro de tabaco aquecido, são a nova face da epidemia no século XXI num momento em que as políticas de ambientes livres de fumo tinham caminhado no mundo todo”.
“Nós conseguimos caminhar e rapidamente a indústria conseguiu reinventar-se através dos cigarros eletrónicos utilizando os mesmos expedientes que utilizavam no século XX, com atores de Hollywood, a fazer a apologia do uso [do tabaco]”, mas agora utilizando influenciadores nas redes sociais, no YouTube para poder fazer o recrutamento.
“É o mesmo padrão que a gente observava no século XX, ou seja, a disseminação de mitos”, como os cigarros eletrónicos e de tabaco aquecido serem apenas vapor de água, e “com alarmante preocupação, nós notamos a atratividade desses produtos para os jovens”, disse Paulo Corrêa.
No seu entender, o alerta da OMS a chamar a atenção dos países para a necessidade de políticas públicas de proteção, especialmente da juventude, é necessário, mas surge tardiamente, uma vez que há crianças de 7, 8 anos a fumar cigarros eletrónicos.
A percentagem de população consumidora destes dispositivos, entre os 8 e os 19 anos, varia de 2% no Camboja e os 52% na França, observou, salientando que os países têm regulações muito diferentes.
Segundo a OMS, 34 países proíbem a venda de cigarros eletrónicos, enquanto 88 países não têm estabelecido uma idade mínima a partir da qual os cigarros eletrónicos podem ser comprados e 74 países não têm regulamentação para estes produtos nocivos.
A OMS aponta a necessidade de os países que proíbem a venda de cigarros eletrónicos reforçarem a aplicação da proibição e pede aos que permitem a sua comercialização que garantam regulamentações rigorosas para reduzir o consumo, incluindo a proibição de todos os sabores, limitando a concentração e a qualidade da nicotina e tributando-os.
Falando do caso do Brasil, Paulo Corrêa disse que, em 2019, a prevalência de jovens, dos 15 a 24 anos, que fumava era de 2,4%, enquanto nos Estados Unidos, que não proíbe o cigarro eletrónico, é na ordem dos 28%.
A agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tem em consulta pública, até 09 de fevereiro, um texto que propõe a manutenção da proibição dos cigarros eletrónicos e a proibição da publicidade e qualquer tipo de divulgação desses produtos.
“Estamos esperançosos que a política pública vai ser mantida, já que o Grupo Técnico da agência fez um relatório muito bem feito no ano passado e sugeriu inclusive restrições mais fortes, com fiscalização mais efetiva, porque existe muito contrabando no Brasil”, adiantou.
O professor na Universidade Federal de Ouro Preto citou o estudo de um pediatra americano publicado em 2018 que mostrou que o uso de cigarro eletrónico no início da adolescência triplica ou quadruplica o uso de haxixe.
Estudos também demonstram que o seu consumo triplica ou quadruplica as hipóteses de vir a fumar o tabaco convencional.
Esta realidade causa uma “enorme preocupação”, sendo por isso importantes os países caminharem para essa proibição, “que tem sido eficaz em proteger a saúde pública dos brasileiros”.
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