A ação, organizada pela Federação Nacional dos Médicos (FNAM), que lhe chamou 'flashmob', iniciou-se cerca das 08:00 e decorreu até às 10:00, coincidindo com a abertura do Simpósio da OMS dedicado ao futuro digital.
O protesto marcou também o arranque de uma caravana que vai percorrer o país, para reforçar a mobilização dos médicos, para que não façam mais do que as 150 horas extraordinárias obrigatórias por ano e para mapear a “situação dramática” que se vive em várias unidades de saúde.
Gritando palavras de ordem como “Pizarro escuta, os médicos estão em luta”, “o público é de todos, o privado é de alguns” ou “o povo merece o SNS”, os médicos protestaram contra o “silêncio” do Ministério da Saúde (MS) e do Governo à contraproposta da FNAM relativamente às grelhas salariais e ao novo regime de dedicação plena e integração do internato médico na carreira.
No decorrer do protesto, a presidente da FNAM, Joana Bordalo e Sá, foi ouvida por Hans Kluge, diretor regional da OMS/Europa, que, acompanhado pelo ministro da Saúde, Manuel Pizarro, se deslocou junto do grupo de médicos.
“Conseguimos passar a mensagem de que de facto há um problema grave em Portugal, que somos dos médicos mais mal pagos a nível europeu, estamos de facto há mais de uma década sem nenhum aumento salarial, com condições de trabalho a deteriorarem-se”, disse Joana Bordalo e Sá, que entregou a Hans Kluge uma carta com o histórico das reivindicações.
O diretor regional da OMS/Europa, também médico, “pareceu ser sensível à questão de que de facto é preciso haver inovação, investir na digitalização, mas que também é preciso investir onde falta investimento em Portugal, que é nos recursos humanos”, contou a dirigente da FNAM.
“Precisamos de mais profissionais de saúde e, acima de tudo, precisamos dos médicos no Serviço Nacional de Saúde (SNS) que é onde nós queremos estar e é para isso que a FNAM luta”, sublinhou.
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Joana Bordalo e Sá afirmou: “Fizemos questão de estar aqui para que o mundo inteiro ouça o nosso grito de alerta e para que o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, e o primeiro-ministro, António Costa, percebam que é preciso investir nos médicos e no SNS”.
“Não é só na digitalização, não é só usar os 10 milhões do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para investir, por exemplo, em cinco robots. Nós precisamos também de dinheiro para ser investido nos profissionais, nomeadamente nos médicos”, sublinhou.
Com este protesto no Porto, a FNAM iniciou uma caravana que “vai percorrer o país inteiro”.
“Vamos ouvir-nos uns aos outros, vamos incentivar a entrega das minutas para que os médicos não façam mais do que as 150 horas extraordinárias obrigatórias por ano e terminamos com uma greve nacional dias 14 e 15 de novembro, e com uma manifestação (dia 14) em frente ao Ministério da Saúde”, disse.
Sobre a ronda negocial agendada para quinta-feira, a presidente da FNAM, salientou que será “a sexta reunião extra negocial, porque o protocolo negocial acabou no dia 30 de junho, mas não houve nem competência, nem vontade”, por parte do Ministério da Saúde, de resolver os problemas dos médicos.
“Os médicos em Portugal são dos mais mal pagos na União Europeia e têm vindo a ver as suas condições de trabalho deterioradas na última década, pelo que temos emigrado e saído do SNS para o setor privado ou para empresas de prestação de serviços”, disse.
Segundo a FNAM, “após 16 meses de negociações que não resolveram o problema da falta de médicos no SNS, o Ministério da Saúde não apresentou, nem aceitou até à data, propostas adequadas para salvaguardar as carreiras médicas, revelando falta de competência para chegar a um acordo capaz de responder rapidamente à necessidade de fixar médicos no SNS”
A Federação Nacional dos Médicos defende que para inverter esta realidade, o Governo tem de “aumentar a fatia do Orçamento de Estado destinada aos salários dos médicos, e dar uma utilização adequada aos fundos europeus que vão ser injetados no PRR”.
O 2.º Simpósio da Organização Mundial da Saúde debate no Porto, até quarta-feira, o Futuro dos Sistemas de Saúde na Era Digital e é dedicado à área da tecnologia aplicada à saúde.
Em foco estão questões que possam afetar o panorama atual e futuro dos sistemas de saúde na Europa, nomeadamente, o impacto dos recentes avanços da tecnologia e da inteligência artificial (IA) na saúde das populações.
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